Divania Rodrigues,Da editoria de Cidades
A internet tem se tornado palco de um debate acirrado sobre a temática da homossexualidade. As discussões sobre a veiculação de peça publicitária fazendo alusão a casais homossexuais e a inserção destes em conteúdos de entretenimento, como novelas e filmes, se acirraram durante o último fim de semana quando a encenação da crucificação de Jesus na Parada Gay causou mal-estar entre cristãos de diversas matizes e os defensores da liberdade de escolha sexual.
Muitos opinam que a representação de Cristo feita pela atriz transexual Viviany Beleboni, de 26 anos, foi uma blasfêmia. Outros a caracterizam como deboche e provocação aos cristãos. Em entrevista, a atriz explicou que sua intenção não era a de atacar a Igreja e que encenou a crucificação de Cristo como forma de protesto, para representar a perseguição e agressões a que a comunidade LGBT está exposta. Porém, desde o último domingo (7), Viviany afirma que as ameaças chegam constantemente.
Algumas pessoas não se sentiram ofendidas e defendem a atriz com a afirmação de que “Jesus não morreu somente por heterossexuais”. Para Léo Mendes, coordenador da Articulação Brasileira de Gays (Artgay), a encenação teve objetivo de chamar a atenção da sociedade e dos políticos para o sofrimento que a comunidade vive nos dias atuais, comparado ao de Jesus naquela época.
“A participação desta travesti na Parada é um momento importante para que religiosos de bem reflitam sobre o sofrimento diário que esta comunidade sofre como expulsão de casa ainda adolescente, espancamento nas ruas, assassinatos em virtude da orientação sexual e identidade de gênero. As igrejas têm obrigação de pregar o amor, a tolerância e o respeito entre todos os seres humanos”, acrescenta.
Ele lembra que a 19ª Edição da Parada de São Paulo teve como tema "Eu nasci assim, cresci assim e sou sempre assim. Respeitem-me” e que a reivindicação principal do movimento é para que o Congresso Nacional aprove uma lei que criminaliza o ódio contra a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) no Brasil. A 19ª Parada do Orgulho LGBT aconteceu no domingo (7), em São Paulo, apenas quatro dias depois da Marcha para Jesus. Ambas reuniram milhares de pessoas, vários caminhões de som e apresentações.
Passou da conta
Mara Rodrigues, de 27 anos, lida bem com a homossexualidade da irmã, mas afirma que a representação de Cristo na Parada Gay foi além do necessário: “Apesar deles escolherem a opção sexual, não lhes cabe o direito de denegrir a crença de ninguém.” Luterana desde o berço, ela acredita que é preciso haver uma boa convivência social e que ambos os lados devem se mostrar tolerantes e respeitosos. Mara lembra que os cristãos também são perseguidos: “Mas a nossa perseguição é sobre pregar a palavra de Deus e no mundo inteiro muitos são mortos.”
Dom Odilio Scherer, arcebispo de São Paulo, emitiu nota a respeito do episódio: “Entendo que quem sofre se sente como Jesus na cruz. Mas é preciso cuidar para não banalizar ou usar de maneira irreverente os símbolos religiosos, em respeito à sensibilidade religiosa das pessoas. Se queremos respeito, devemos respeitar.”
A Igreja Adventista do Sétimo Dia também se mostrou incomodada com o acontecimento. De acordo com sua assessoria de imprensa, a congregação tem como uma das características o respeito à liberdade de todos, incluindo a de expressão, tanto de membros quanto de não membros, porém vê com receio o desrespeito aos símbolos religiosos, não importando quem o tenha desrespeitado.
Deputado federal requer investigação de ativista
Welliton Carlos
O deputado federal João Campos (PSDB), líder da bancada evangélica da Câmara, disse ao DM que não age contra a Parada Gay ao buscar ingressar com uma ação no Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e Procuradoria Geral de Justiça para que investiguem a representação de Cristo realizada no último domingo. Mas contra alguns membros que são desrespeitosos e não sabem o limite da lei nem respeitam a dignidade dos religiosos.
O deputado federal diz que a bancada respeita o movimento e aceita o contraditório dos ativistas, desde que fundamentados em respeito e educação. “Aprendemos com Jesus a amar e respeitar todas as pessoas. Mas existem coisas que nos indignam. Jesus ficou indignado quando transformaram o templo sagrado em uma feira. A Marcha Gay tem o nosso respeito. Mas alguns ativistas do movimento, os que trabalham a homossexualidade como bandeira própria, para promoção pessoal, dentro de uma perspectiva ideológica, não respeitam ninguém. Eles agridem nossa fé, e profanam símbolos do cristianismo, a exemplo da cruz e da imagem de Jesus. E fazem isso publicamente. Eles são preconceituosas e nos agridem”, diz.
João Campos pediu ao MP-SP que investigue o fato. Delegado de carreira, o parlamentar acredita que existem indícios do crime referente à profanação de símbolos religiosos.
O Código Penal Brasileiro, em seu artigo 208, estipula que é crime agir contra o sentimento religioso. O tipo penal estabelece que “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso” é punível com detenção de até um ano. A Constituição Federal também regula como direito fundamental a liberdade de crença e a defesa de sua liturgia.
Defensor acusa reação de fundamentalismo
Divania Rodrigues
Léo Mendes, porém, acredita que toda a polêmica em todo do fato se deve a preconceito: “A polêmica toda é por causa de uma travesti encenando a via crucis. Fosse um artista famoso, Lady Gaga, Madona, Neymar, ou mesmo um homem heterossexual branco, provavelmente não haveria polêmica. Trata-se de uma transfobia de quem critica.”
Para ele, Viviany Beleboni não feriu nenhum preceito moral, ético ou legal já que a Constituição garante a todo o cidadão o direito a livre manifestação. “Os fundamentalistas religiosos, os homofóbicos e transfóbicos não aceitam conviver numa sociedade onde todas as pessoas tenham o mesmo direito. Nem um abraço dado por um suposto casal gay na propaganda do dia dos namorados é aceito por eles”, lamenta.
O ativista ainda alerta que imagens de outros eventos estão sendo utilizadas indevidamente na internet para marginalizar o ato de representação de Cristo, proposto por Viviany: “Infelizmente, alguns fundamentalistas religiosos estão utilizando imagens de eventos da marcha das vadias de 2013 ou de orgia gay dos EUA [Estados Unidos] para esconder o verdadeiro sentido da manifestação desta cidadã brasileira cristã num evento com mais de três milhões de pessoas.”
Faceglória, rede social de evangélicos, quer agregar fiéis
Divania Rodrigues
Misto de Facebook e Twitter, o Faceglória tem regras mais rígidas e tenta retirar o público das redes sociais convencionais para agregá-los em um ambiente caracterizado como livre de pornografia, palavrões, cenas de violência, consumo de drogas, cigarros e álcool. Apesar de afirmar que não haverá segregação e que homossexuais serão aceitos, o criador da página esclareceu em entrevistas que beijos gays e lésbicos serão vetados.
Liberadas estão imagens de amamentação e pessoas em roupas de banho. A nova rede social deverá divulgar conteúdos segmentados ao público cristão como bandas e cantores gospel, igrejas e ministérios, além de funcionar como um site de relacionamento. Haverá a promoção de paqueras online com o chamado “Namoro Evangélico”.
Capitaneado por jovens ligados a variadas denominações, o projeto já teve um custou inicial de R$ 40 mil e está sendo implementado por uma empresa de Manaus. Seu lançamento que foi antecipado em tem sido apoiado por líderes e cantores famosos do mundo gospel.
O Faceglória deveria ser lançado apenas em outubro, mas devido a polêmicas recentes, como o boicote evangélico a empresa de cosméticos que divulgou peça publicitária alusiva a relacionamento homoafetivo, e o evento Marcha para Jesus, os criadores que tinham o projeto desde 2012 resolveram antecipar sua estreia.
A rede social evangélica apesar de recente já conta com a participação de mais de 50 mil pessoas.