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COTIDIANO

PUC enfrenta uma crise institucional

Fernanda Laune,Da Editoria de Cidades

Afinal, o que está acontecendo com a PUC? A entidade filantrópica, sem fins lucrativos, está sendo protagonista de episódios que fogem de sua reputação católica. E mais ainda de uma instituição financeira sólida e que tem uma imagem pública a zelar.

Com o lema “conhecimento a serviço da vida”, a instituição demitiu 16 professores na última semana e, conforme fontes desta reportagem, “expulsou” alunos da Casa do Estudante.

Dona de um patrimônio grandioso com cerca de 21 prédios, em setores com os metros quadrados mais caros do Estado (caso do Marista, Universitário e Jardim Goiás), a PUC tem seis campus universitários, quatro em Goiânia e um em Ipameri.

Não bastasse, possui centro de idiomas, um canal de TV aberta, quatro centros de pesquisa, duas estações, mais de quatrocentos laboratórios, quatro clínicas-escolas na área da saúde, dois museus e um complexo poliesportivo de padrão internacional.

Recentemente, a Pontifícia inaugurou novo prédio que funciona como centro de formação para professores. A unidade está localizada na Avenida Anhanguera, no setor Leste Universitário.

O prédio tem oito pavimentos, com área de 12.800 m². E atualmente está em construção o Centro de Convenções da PUC-GO, no Campus II, localizado no setor Jardim Mariliza. O espaço apresenta área total de 73mil m², com infraestrutura de padrão internacional.

Conforme a própria instituição, ela oferece 51 cursos de graduação, com cerca de 21.600 acadêmicos de graduação, 72 especializações, 14 mestrados e três doutorados. A estrutura é grande, comparada a outras instituições educacionais do Estado.

Diante de tamanho colossal, então, permanece a pergunta: como – com tamanha quantidade de recursos financeiros  – ela abre mão, por exemplo, de sumidades como o pesquisador Altair Sales?

Em entrevista ao DM, o presidente do Sindicato dos Professores da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Orlando Lisita, relatou uma série de problemas que ocorre na instituição. Recentemente, a universidade trocou as tradicionais grades que faziam o muro da faculdade por vidros.

Na mesma época, a PUC escutou questionamentos do sindicato em relação à falta de material nas salas de aulas. “A universidade começou a instalar data show em todas as salas. Só que hoje metade não funciona. Instalou o equipamento, mas não faz manutenção cotidiana”, diz Orlando.

“O dinheiro continua entrando e indo para onde ninguém sabe”, denuncia o professor. No prédio da área 2, com circulação de cerca de dois mil alunos ao dia, o elevador do prédio está estragado há mais de um ano. Na área 3, segundo o professor, o elevador funciona precariamente e na área 4 tem somente um equipamento móvel, para pessoas portadoras de necessidades especiais.

Para o presidente, as demissões que inicialmente foram de 14 professores, admitidos através de concurso (que em nada se equivalem às garantias das instituições públicas), agora chegaram a 16: “É o ápice da crise que estamos vivendo”.

A demissão ocorreu sem justificativas e “de maneira desrespeitosa”, diz o militante. Eles foram informados, por telefone, pela manhã (29/07) que deveriam comparecer com urgência ao Departamento de Recursos Humanos (DRH) até o meio-dia. Ao chegar lá, receberam o comunicado da rescisão de contrato.

A Apuc questiona que “aos demitidos não foi dada sequer uma explicação do motivo, tampouco o direito de ampla defesa. Por que as demissões ocorreram de forma sorrateira e no início do semestre?”. Professores que estavam com a carga-horária definida na PUC Goiás  dificilmente encontrarão novas faculdades para dar aula, devido ao ato de demitir apenas no começo do semestre letivo.

JUSTIÇA

O sindicato entrará nos próximos dias com um processo na justiça por reparação moral e material dos professores demitidos. “Isso demonstra que a universidade não tem a mínima filantropia, mínima preocupação com o ser humano”.

Cerca de cinco professores entraram com Pedido de Demissão Voluntária (PDV). Um deles é justamente o renomado antropólogo e arqueólogo Altair Sales Barbosa. Na PUC, Altair é diretor do Instituto do Trópico Subúmido e foi criador da Semana do Folclore e do Memorial do Cerrado, espaço que une museu, vilas cenográficas e trilha ecológica.

Nos bastidores, é relatado que ele sofria pressão, assédio moral e perda de espaço dentro da universidade. De acordo com uma professora que não quis ser identificada, o caso de Altair é apenas mais um exemplo das péssimas condições de trabalho dentro da universidade. Para ela, Altair é referência em pesquisa e hoje a universidade não faz pesquisas como fazia. Esta previsto para hoje o ato solene do professor Altair, que assinará a rescisão do contrato. Ele também se pronunciará sobre o assunto e promete revelar o que tem acontecido dentro da instituição.

Segundo Orlando, as condições de trabalho na PUC estão sendo deterioradas, sendo que o salário dos docentes da instituição já foi um dos melhores do Estado e hoje está entre os piores.  Atualmente, explica o professor, a Apuc está em campanha salarial para negociar acordo coletivo, que rege toda a questão trabalhista entre professores e universidade, porém “há dois anos não é assinado e a PUC não aceita nem sentar para negociar”.

O estatuto da carreira que vigorou até 2004, elaborado em conjunto com professores e reitoria na época, no início dos anos 90, provia uma série de vantagens para os docentes. Na época, muitos professores preferiam lecionar na PUC do que na Universidade Federal de Goiás (UFG). Em 2004, o novo regimento retirou as conquistas. Já em 2014, o novo regulamento colocou fim aos direitos dos professores: não existe mais estabilidade. “O docente pode ser demitido a qualquer momento”.

Outro fator que depõe contra a imagem ‘santa’ da instituição é que tramita na justiça processos de professores que foram demitidos ao completar 70 anos. Um dos exemplos citados é do professor Ivo Mauri, que foi reitor da universidade. Só que ao chegar na idade foi demitido via Correios.

Por isso muitos professores - para não serem demitidos - entraram no PDV. “Nenhum professor pode ser demitido por questão de idade, idade nunca foi limitação. Professor que tem 30 anos de carreira universitária, simplesmente é descartado por conta da idade”, afirma o presidente.

Professores serão substituídos por convidados

A Pontifícia Universidade Católica (PUC) costuma realizar “concurso” para selecionar seus quadros. Geralmente, os valores para inscrição chegam a ser mais caros do que as seleções realmente públicas para cargos de juiz ou promotor de Justiça – os mais dispendiosos, geralmente. Mas mesmo depois de passar na prova, começar a trabalhar e ser da “PUC”, o professor pode ser sumariamente demitido.

Segundo o sindicato, agora mesmo os professores demitidos foram substituídos por convidados. Em alguns departamentos, os coordenadores realocaram as cargas horárias para outros professores.

Orlando Lisita relata a falta de democracia dentro da universidade. “E hoje em dia, nesses 10 anos dessa reitoria que está no poder, vem sendo minimizada a cada dia a participação. Hoje nós temos diretores que são escolhidos pelo reitor, não se houve a comunidade universitária”.

Orlando também questiona o fato da universidade não passar dados e não divulgar informações. Os sindicalistas relatam que a relação da reitoria com as entidades sindicais é de desconhecimento total. E que buscam mediação no Ministério Público do Trabalho para tentar reabrir as negociações dos professores, já que a PUC não aceita sentar numa mesa para discutir as questões.

Universidade é destaque por alto valor das mensalidades

Em pesquisa realizada no início do semestre pelo DM, os valores praticados pela PUC-GO são considerados superiores em relação às outras universidades e faculdade privadas do Estado. No curso de Comunicação Social – Jornalismo, a instituição cobra R$ 1.004,57, considerando que o curso tem a duração de quatro anos, sem ajustes, o valor total para a conclusão é de R$ 48.219,36.

Enquanto, em outra faculdade, com estrutura e quadro de professores similares (número de doutores, livros em biblioteca, estrutura), o valor do curso é de R$ 380. O investimento total no final do curso é de R$ 18.240.

Com a diferença nos valores das duas faculdades, de R$ 30 mil, uma estudante da PUC-GO questiona ao DM: ‘Não entendo o porquê dos valores altos do curso, sendo que a PUC é uma instituição filantrópica, que se diz não ter fins lucrativos. Como pode ser a mais cara?’’.

Casa do estudante em dificuldades

De acordo com reportagem veiculada no Jornal Opção, uma comissão de estudantes relatou que boa parte dos estudantes da Casa do Estudante Universitário foi desligada arbitrariamente. “Pessoas de diferentes Estados residem na Casa e não têm condições de deixar o programa. Mesmo diante de diversos apelos, a PUC resolveu manter a decisão”, relata estudante.

A direção da PUC avisou que, se os moradores não deixarem a casa em 30 dias, vai recorrer à Justiça para removê-los. “Se necessário, será utilizada força policial contra os Estudantes. É quase uma nova ditadura. Os estudantes estão desesperados”, diz uma fonte.

Cursos na corda bamba

Em dezembro passado, a PUC Goiás recebeu a nota 2 para o curso de Medicina, após divulgação dos cursos reprovados pelo Ministério da Educação (MEC). A avaliação é realizada através do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e também pela infraestrutura e corpo docente, feita pelo Conceito Preliminar de Curso (CPC).

Se a Pontifícia receber novamente a nota 2, será cancelado o vestibular e o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), programa do Governo Federal que subsidia alunos e repassa recursos para a entidade. Para o sindicato, o grande problema dessa nota é a insatisfação dos alunos com a falta de estrutura e o inchaço na universidade.

Há um ano e meio, acadêmicos do curso realizaram protesto na praça universitária, em frente à reitoria, alegando a falta de material básico na Santa Casa de Misericórdia. Para o sindicato, isso mostrou que o curso não estava tão bom quanto à universidade propagandeou. Uma nova avaliação será divulgada ainda este ano, pelo MEC.

A reportagem do Diário da Manhã realizou insistentes tentativas de contato com responsáveis pela  PUC, caso do reitor Wolmir Amado.  Mas até o fechamento da edição não foi possível coletar as versões e informações da instituição, que se fechou para dialogar os questionamentos de alunos e professores.

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