Todos os anos, os Correios recebem milhares de cartinhas de crianças que escrevem para o Papai Noel, fazendo pedidos de presentes, que, muitas vezes, seus pais ou responsáveis não têm condições para comprar. Qualquer criança pode mandar uma carta para o Papai Noel dos Correios, mas é priorizado o atendimento de cartas daquelas que se encontram em situação de vulnerabilidade social.
A campanha só obtém sucesso graças aos chamados “padrinhos”, que são pessoas comuns que escolhem cartinhas e realizam o desejo da criança, levando o presente pedido até os correios, que se responsabilizam pela entrega. Muitos padrinhos escrevem cartas para seus apadrinhados e assinam em nome do Papai Noel, preenchendo o imaginário da criança com o espírito natalino e tornando-o uma realidade na vida dela, muitas vezes difícil.
Muitas histórias de solidariedade nascem de apadrinhamentos das cartinhas que os correios disponibilizam. É o caso de Edna Faria, 45 anos, professora universitária, que conta a respeito de sua vontade de ajudar os outros como forma de agradecimento pela própria vida. “Desde que comecei a trabalhar e ter meu sustento, pensei que uma forma de agradecer por tudo o que recebi e recebo até hoje é ajudando alguém. Tenho um amor especial pelas crianças, principalmente as órfãs, abandonadas, as pobres, as que têm seus direitos negados. Isso é muito pouco diante de todas essas circunstâncias, mas fico feliz só de pensar e imaginar que uma delas terá um sorriso, uma alegria, um encantamento num dia tão festivo”, conta Edna.
Esse ano, ela pegou uma das cartinhas nos Correios de um menino que pedia por um brinquedo e por livros. Seu coração de professora universitária se alegrou com o pedido, que além das cartinhas dos correios, pega também, anualmente, uma do orfanato de Anápolis.
Para ela, não há sensação mais gratificante do que a de fazer uma criança feliz, mesmo que por um instante, e afirma não saber descrever a sensação de ser Papai Noel de alguém. “Me dói ver uma criança sofrendo, triste, sem ter amor ou cuidado”, lamenta.
Emoção
A meio passo de concluir seu depoimento à redação do Edna se emocionou e afirmou não conseguir falar sobre o assunto sem chorar. “Eu não me conformo com sofrimento de criança e de idoso e faço muito pouco por essa causa. Realmente esse assunto mexe muito comigo. Choro porque eu penso naqueles olhos tristes, nas mãozinhas querendo abrir o presente, no que foi negado a elas: uma vida decente, o cuidado, o amor. Nosso mundo é muito hostil com as crianças, e isso me dói profundamente”, desabafa.
O bem estar das crianças a preocupa tanto, que um dos planos de Edna em 2016 é fazer um trabalho durante o ano todo, não só no natal, no qual ela consiga atuar mais efetivamente na causa que tanto ama.
Em Goiânia, a campanha “Papai Noel dos Correios” se iniciou no dia 10 de novembro, na Agência Central. As cartas podiam ser escolhidas a partir do lançamento da campanha, e os presentes entregues até o dia 04 de dezembro.
De acordo com a assessoria de imprensa dos Correios de Goiânia, foram recebidas 20 mil cartinhas esse ano. Nem todas atendiam os critérios da campanha, como a criança ter até 10 anos de idade, estar matriculada até o 5º Ano do primeiro ciclo (Ensino Fundamental), e atender aos critérios sociais os quais a campanha prioriza.
As 20 mil cartinhas recebidas foram lidas e 14.500 foram selecionadas pelos Correios, que disponibilizaram para apadrinhamento. Os presentes começaram a ser entregues desde o início de dezembro. A entrega dos presentes está na reta final, e os Correios informaram que cerca de 11 mil cartinhas foram atendidas.
Pedidos inusitados
Algumas das cartinhas surpreenderam funcionários e padrinhos, como as muitas que pediam camas, o que a assessoria de imprensa dos Correios aponta como incomum, visto que o foco da campanha são pedidos de brinquedos.
Uma criança do Residencial Madre Germana pediu telhas para cobrir sua residência. Muitas escreveram cartinhas agradecendo o Papai Noel, e pedindo para que ele presenteasse outras crianças. Foi o caso da menina Hedilaine, de 11 anos, que escreveu: “em vez do senhor me dar um presente, gostaria que desse para outra criança que necessita mais do que eu”. A assessoria afirmou que foram muitas as cartinhas que continham apenas agradecimentos.
Uma das crianças pedia na cartinha que o Papai Noel curasse sua professora. Um padrinho se interessou pela cartinha, a escola da criança foi procurada para informar o estado de saúde da professora, que estava se curando de uma pneumonia.
O Ministério Público adotou todas as cartinhas de um dos Cmei do Jardim do Cerrado I, e outras instituições também movimentaram seus funcionários para adotarem grande número de cartinhas. Uma turma inteira de alunos do Colégio Claretiano adotou dezenas de cartinhas. Foi uma aula de solidariedade para os adolescentes. Alguns aniversariantes de dezembro solicitaram aos amigos e familiares que ao invés de comprar presentes para eles, adotassem uma das cartinhas.
A assessoria informou que esse ano o número de presentes foi significativamente maior do que nos anos anteriores, mas muitas pessoas que procuram os Correios para adotarem uma cartinha afirmam conhecer a campanha há pouco tempo.
Origem
A campanha Papai Noel dos Correios tem 26 anos, e hoje abrange todo o território nacional. Ela começou com alguns carteiros que, ao receberem cartinhas de crianças pedindo para que fossem endereçadas ao Papai Noel, resolveram por conta própria atenderem os pedidos das crianças.
De lá para cá a campanha conquistou milhares de adeptos e contribui, ano após ano, para que o espírito natalino contagie a cidade e o país.