Mais de 600 famílias que ocupam desde o dia 2 de novembro de 2015 a Fazenda São Domingos, localizada no Bairro São Carlos, em Goiânia, temem a decisão da Justiça que prevê reintegração de posse da área. A ação está prevista para a madrugada de hoje (20). As famílias invadiram o local acreditando que conseguiriam um lugar para morar, o que teria sido garantido pelos “líderes do movimento” que abandonaram o grupo de famílias sem dar explicações.
A multidão de cerca de 300 pessoas a princípio teria se fixado na área acreditando que iria conseguir a regularização da terra a favor deles. Isso porque os supostos representantes do grupo teriam os convencido que o local se tratava de uma área sem documentação regularizada, não sabendo, portanto, quem era o real dono, o que certamente os favoreceria na tomada da posse da terra.
“O Wanderley e a Marta iludiu a gente dizendo que podíamos construir no lugar porque não havia donos que o terreno era nosso! Que a terra estava ganha. ‘Pode construir que o terreno é 90% nosso’. Hoje, nem Wanderley e nem Marta fazem parte do grupo, nos abandonaram e não sabemos por que deixaram de liderar a ocupação”, lamenta a dona de casa E. A. S., 37 anos, que prefere não ser identificada.
A também dona de casa Aline Alves de Oliveira, 27 anos, explica que a área hoje é reivindicada pela Maracanã Empreendimentos Imobiliários Ltda. No entanto, ela permanecesse acreditando que se trata de uma área totalmente irregular perante a Justiça. “A gente sabe que tem mais de 30 anos que a área está abandonada e os donos não estariam pagando os impostos”, considera.
Ela relata que a Polícia Militar ocupa as proximidades da área desde a manhã de segunda-feira (18) pedindo para as famílias saírem pacificamente do local, apresentando a ordem de reintegração de posse para sua retirada. “A polícia está pedindo para a gente sair pacificamente, mas a gente quer ficar porque acreditamos que há uma esperança de conseguirmos uma moradia”, declara.
O esposo de Aline, Walter Andrade da Costa Junior, 29 anos, trabalha, mas não tem condição de comprar uma casa para a família e diz que por isso decidiram participar do movimento em busca de uma moradia. O filho de Aline de apenas 11 anos sente muito medo de ocorrer algum conflito entre as famílias e a polícia. “Estamos todos jogados aqui a mercê da polícia que disseram que aguardarão até amanhã (20) nossa saída, depois a gente não sabe o que vai acontecer, porque eles querem que a gente saia pacificamente, mas nós não temos para onde ir. Existem crianças que nasceram aqui”, assegura Walter.
Aline revela que existem cerca de 100 crianças no acampamento o que a deixa mais preocupada sobre a possibilidade de um conflito. “Estamos todos apreensivos sem saber o que vai acontecer, a qualquer momento podemos ser surpreendidos pela polícia, a gente quer que alguém olhe para nós, que as autoridades tenham se sensibilize pela nossa situação. Existe muitas pessoas aqui que não tem condição de sair daqui agora e pagar um aluguel. Todos nós somos brasileiros e temos direito a moradia”, protesta.
Assim como Aline, a família do pedreiro, Divino Souza Martins, 28 anos, ocupou a área confiante de que conseguiram um pedaço de terra para construir uma casa. Contudo, ele considera que as previsões são as piores possíveis. Ontem, por volta das 11h16, Divino descreveu que estavam todos no acampamento isolados pela polícia com fome e sede porque se saíssem do acampamento não poderiam voltar.
“Estamos impedidos de sair para comprar comida porque a polícia isolou toda a área, todas as saídas, as pessoas estão chorando com medo e por não terem para onde ir. Nós estamos impedidos de sair e eles estão nos oprimindo para a gente sair da terra”, diz. As famílias acredita que as pessoas que apareceram afirmando serem os donos do lugar, podem, na verdade não ser os verdadeiros donos. “Ninguém sabe a verdade de quem pertence a terra, ninguém sabe quem são os verdadeiros donos e a terra estava abandonada por isso ocupamos”, justifica Divino.
Posicionamento das autoridades
Sobre a ordem de reintegração de posse, a Polícia Militar informou que o planejamento da PMGO segue o protocolo da Secretaria da Segurança Pública do Estado de Goiás (SSPJ) de gerenciamento de crise e reintegração de posse, previsto em decreto do Governo do Estado de Goiás.A assessoria de comunicação do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) informou a reportagem do Diário da Manhã que a liminar de reintegração de posse, que deve se fazer cumprir agora, foi concedida em 23 de novembro de 2015 pelo juiz de direito, Otacílio de Mesquita Zago.