Período dos concursos públicos se aproximam, e junto vem a preocupação em tirar boas notas nas provas. Muitos estudantes recorrem a auto medicação para melhorar o desempenho na hora de estudar. A Ritalina virou febre entre estudantes que buscam bons resultados nos exames, como é o caso professor J.A que preferiu não se identificar. O professor conta que fez uso da Ritalina sem prescrição médica três meses antes do concurso da PM. “Me mantinha acordado por dois ou três dias, sem cansaço”, afirma J.A sobre a experiencia com o remédio.
O remédio foi desenvolvido para o tratamento de transtorno de deficit de atenção e hiperatividade, no entanto, estudantes relatam o uso e associam bons resultados com a medicação. “Era sensacional o resultado. Melhorou minha capacidade de concentração e me ajudava a ficar acordado por muito tempo, sem aquela sensação de ressaca”, explica J.A sobre os resultados com a Ritalina.
O professor conseguiu passar na prova escrita, mas reprovou no Teste de Aptidão Físico (TAF), por conta de problemas no joelho. Ele explica que tomou a medicação junto de vários colegas de cursinho, e que a maioria também passou. “Tenho colegas no Graer e também na PM”, comenta.
A facilidade em conseguir o medicamento pode aumentar ainda mais o seu consumo. J.A disse ter conseguido com colegas de turma. “Só foi caro. Todo cursinho você encontra”, afirma J.A. Apesar da facilidade e benefícios trazidos pelo uso da Ritalina, a medicação tem seus efeitos colaterais, principalmente se tomado seguidamente. “Uma por dia era o certo, mas as vezes a gente tomava um no fim do efeito do outro para se manter acordado”., lembra. Com o uso abusivo do medicamento, vieram os sintomas. “Você fica meio lerdo quando vai ler sem ele, por que não da pra absorver a mesma quantidade de informações. Após parar de usar, fiquei de seis à oito meses sofrendo com insonia”.
Medicamento
O médico psiquiatra, Marcelo Caixeta, 52 anos, explica o que é e como funciona a Ritalina. “
um medicamento, cujo nome farmacológico é metilfenidato, da categoria dos psico estimulantes. É também uma medicação que aumenta os níveis dopaminergicos, inclusive a concentração, atenção e perscrutação. Isso nos indivíduos que tem algum problema psiquiátrico a ser tratado, como, deficit de atenção e transtorno de hiperatividade”, explica Caixeta.
Apesar das melhoras relatadas por pessoas que usaram a medicação na hora de estudar, Marcelo Caixeta explica essa melhora. “É fato. O processamento executivo frontal fica mais rápido, no entanto, isto não quer dizer que fique necessariamente melhor. As vezes é até o contrario, fica mais rápido, mais vigoroso, mas de qualidade pior”, analisa.
O médico psiquiatra cita a obra de Sartre, O idiota, que foi escrita sob o uso de anfetaminas e é extremamente prolixa, as vezes de uma profundidade que só o próprio autor entende, pois é repetitiva e muitas vezes superficial e exemplifica sobre como pode ser o uso do medicamento.
“Só em pessoas realmente doentes é que há melhora na rapidez e na eficiência. Em pessoas não doentes pode haver aumento da rapidez, da elongação do esforço, mas isso em detrimento da eficiência dos processos de raciocínio”, comenta o médico.
Uso inadequado
O uso de maneira inadequada da medicação podem correm riscos elevados para várias doenças, principalmente cardiovasculares. Entre os problemas trazidos pelo uso indevido da Ritalina estão a hipertensão, crises de ansiedade, convulsões, desencadeamento de fobias e até mesmo Acidente Vascular Cerebral (AVC).
O diagnóstico de pessoas com o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é bastante complicado e existem tratamentos médicos complexos para a doença. “Só um médico com formação adequada em psiquiatria para fazer o diagnostico convenientemente”, alerta o psiquiatra Marcelo Caixeta.
O principal desafio é separar diagnostico entre várias doenças com diagnósticos semelhantes. Para o médico, não basta ver uma criança agitada e/ou com déficit de atenção para dizer que ela, simplesmente, tem este distúrbio. Aliás, isto é causa de enormes e graves efeitos para a criança. Por exemplo, uma criança epiléptica pode ser hiperativa, e se for medicada apenas como um transtorno de hiperatividade/déficit de atenção pode ter piora de seu quadro convulsivo, vindo a falecer.
Apesar dos riscos, o uso consciente da Ritalina apresenta melhoras significativas em pessoas com o TDAH. O estudante, Estevão Marques, 16 anos, foi diagnosticado aos 13 anos com deficit de atenção. “É excelente para quem têm níveis menos elevados de concentração”, relata o estudante.
Após passagem pelo psiquiatra, Estevão, começou a fazer o uso da medicação. “Eu não costumava tomar pelos seguintes efeitos colaterais (depressão, raiva, ansiedade), mas pode variar de pessoa pra pessoa”, conclui. Em muitos casos a hiperatividade/déficit de atenção melhora na fase adulta, em outros casos, ao contrário, a doença pode piorar, aí a Ritalina não faz mais efeito.