Por Maria Planalto
Três buraquinhos que parecem inofensivos aos olhos de uma criança podem provocar na verdade um grande risco para a vida deles. Uma descarga elétrica fraca só assusta e causa formigamento, mas um choque intenso pode ser fatal.
Os acidentes com eletrocidade vitimaram 32 crianças de 0 a 5 ano em 2015. Esses números representam um aumento de mais de 50% em relação ao registrado em 2014, quando foram 20 as fatalidades nessa faixa etária. Os dados são da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel). Ou seja, o alerta é para manter seu filho longe de tomadas e fios.
Conforme a Abracopel, alguns casos de mortes são consequência de acidentes fora de casa, com fio partido na rua e contato com poste ou grade metálica. Porém, o maior perigo para as crianças está ao alcance das mãos, dentro de casa. Os acidentes domésticos mais comuns são os relacionados ao contato com tomadas sem proteção, fios desencapados, benjamins (Ts) e eletrodomésticos, como ventiladores, geladeiras e máquinas de lavar.
O engenheiro Eletricista, Ilton Moreno, avalia que as crianças estão atualmente mais expostas aos perigos da eletricidade porque estão utilizando cada dia mais cedo aparelhos eletroeletrônicos, como por exemplo celulares e tablets. "Então na hora de recarregar, ligar e desligar, as crianças acabam tendo contato com as tomadas elétricas. E com a deficiência nas instalações elétricas, esse contato fica mais perigoso, tanto por parte dos aparelhos, como o contato com as tomadas", destaca.
O engenheiro explica que qualquer choque acima de 50 volts já pode matar. "Quando essa corrente elétrica faz um caminho pelo corpo das pessoas em geral e das crianças em particular, passando pelo coração, pelo sistema cardio-respiratório, essa voltagem acima de 50 volts já é potencialmente perigosa, podendo levar a óbito”, ressalta.
Para o engenheiro eletricista consultor do Instituto Brasileiro do Cobre (Procobre), Hilton Moreno, todos os acidentes com eletricidade são evitáveis, especialmente os que envolvem crianças pequenas dentro de casa. “A instalação de um Dispositivo Diferencial Residual (DR) no quadro de eletricidade da residência evitaria o problema”. De acordo com o especialista, o dispositivo, cuja obrigatoriedade de uso é prevista em norma, evita que a corrente elétrica cause danos à pessoa que toca a tomada.
“Com a instalação do DR, uma criança pequena que coloca o dedo na tomada ou tenta introduzir algum objeto na saída de energia fica imune ao choque. O DR desliga a energia em 20 milissegundos, evitando que a corrente elétrica se propague”, explica o engenheiro.
Ele recomenda também a utilização de protetores de tomadas naquelas que não estiverem sendo utilizadas, não deixar fios soltos e não deixar perto de tomadas ítens que chamem a atenção das crianças.
Atenção aos pais
As crianças têm mais risco de sofrer danos com os choques elétricos, como queimaduras (internas e externas), arritmia, insuficiência renal e até parada cardíaca e respiratória. Sem contar que existe a possibilidade de a criança ficar presa na tomada ou no fio, porque a descarga trava a musculatura, impedindo-a de abrir as mãos e se soltar. Se isso acontecer, não toque nela, ou a corrente passará para você. Primeiro, desligue a força. Depois, use um material isolante, como um cabo de vassoura ou pedaço de madeira, para separar seu filho da fonte de energia. Cheque se ele está respirando, pois pode ser necessário fazer uma massagem cardíaca. Mesmo que o choque seja leve e que ele não fique grudado na tomada, é importante a avaliação médica. Por isso, o conselho é sempre ir para o hospital para excluir a possibilidade de danos internos.
Incêndios por curto-circuito
Vilão dos incêndios por curto-circuito, os benjamins (Ts) ainda têm espaço na maioria das casas, mesmo as que possuem padrão novo de tomada e aterramento. O perigo desses conectores está no fato de causarem sobrecarga, aquecimento dos fios e curtos-circuitos. Dados da Abracopel apontam que os incêndios decorrentes de curto ou sobrecarga subiram de 295 em 2014 para 441 em 2015, um aumento expressivo da ordem de 49,49 %. Os incêndios por curto vitimaram 20 pessoas em 2014 e 33 em 2015.
Além do excesso de equipamentos plugados em uma mesma tomada (uso dos Ts), contribuíram para o aumento do número de curtos-circuitos a falta de manutenção, as instalações indevidas e a fiação antiga.
No ranking dos estados, o Sudeste, com 125 casos, desponta nas ocorrências de incêndio por curtos-circuitos, seguido pelo Nordeste (108 casos), Norte (81), Sul (74) e Centro-Oeste (53). A cidade que mais registrou incêndios por curto-circuito em 2015 foi Manaus, com 35 ocorrências.
Primeiros socorros para choque elétrico
Saber o que fazer em caso de choque elétrico é importante porque um choque elétrico pode provocar desde uma pequena queimadura no local do contato, até uma paragem cardíaca e respiratória.
Os primeiros socorros em caso de choque elétrico incluem:
1) Cortar ou desligar a fonte de energia;
2) Afastar a vítima da fonte elétrica através de materiais não condutores e secos como a madeira, o plástico, panos grossos, borracha;
3) Chamar uma ambulância ou SAMU ligando para o 192;
4) Se a vítima estiver inconsciente e não estiver respirando, fazer massagem cardíaca e respiração boca-a-boca;
5) Se a vítima estiver inconsciente, mas estiver respirando, deitá-la de lado, em posição lateral de segurança;
6) Aguardar a chegada da ajuda médica.
As chances de salvamento da vítima eletrocutada diminuem com do tempo e a partir do 4º minuto de ter recebido o choque elétrico as chances de sobrevivência são inferiores a 50%.
É importante tanto para quem trabalha com eletricidade como para qualquer pessoa, que está passível de tomar um choque, conhecer e aplicar as técnicas de emergência em caso de choque elétrico.