Como faz tradicionalmente todos os anos, o governador Marconi Perillo se juntou aos fieis, à meia noite ontem, na Cidade de Goiás, para reviver a mais antiga tradição do estado: a Procissão do Fogaréu.
Na virada da quarta-feira de trevas (23) para quinta santa (24), o rufar dos tambores deixou todos em alerta antiga Vila Boa, distante 130 quilômetros de Goiânia.
Pontualmente à meia-noite, teve início a procissão. As luzes do Centro Histórico da cidade, entre a Igreja da Boa Morte e a Praça do Coreto, se apagaram e deram lugar às tochas, iluminando um espetáculo ao ar livre, que reuniu cerca de 5 mil pessoas, nas ruas de pedra do município
Da sacada do Palácio Condes dos Arcos, o governador, que passou o dia em despachos e reuniões administrativas na cidade, acenava para os fieis, acompanhado de familiares e da secretária estadual de Educação, Raquel Teixeira.
A tradição de 271 anos foi encenada por 40 farricocos, personagens vestidos com túnicas coloridas e capuzes pontiagudos, representando soldados romanos. Eles partiram da Igreja da Nossa Senhora da Boa Morte, na praça principal da cidade, declarada Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Acompanhados pela multidão, seguiram à procura de Jesus Cristo, em um percurso de 2 quilômetros.
Com os pés descalços nas ruas de pedra, os farricocos seguiram para a escadaria da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, que simboliza o local onde estaria sendo realizada a última ceia, mas Jesus não estava mais lá. Todos os anos o ritual se repete. Os fieis então marcham em direção à Igreja de São Francisco de Paula, que simboliza o Jardim das Oliveiras, descrito na Bíblia. No local, ao som de um clarim, é decretada a prisão de Jesus, representada por um estandarte de linho pintado pelo artista. “A Procissão do Fogaréu revela o espírito cristão dos goianos”, afirmou o governador, que faz questão de prestigiar todos os anos a peregrinação.
Fé e tradição - A Procissão do Fogaréu é encenada desde 1745 na Cidade de Goiás, que foi capital do Estado até 1933. O evento histórico na cidade, de arquitetura colonial portuguesa, atrai turistas de vários lugares do Brasil. Há relatos de que a tradição nasceu na Espanha e em Portugal e foi levada a Goiás pelo padre espanhol João Perestelo Espíndola. O ritual representava a penitência e a condenação pública de pecadores, e depois se transformou em uma festa que lembra a prisão de Cristo.