Você, mulher, em algum momento, situação ou fase da sua vida já quis ser homem? Ou você, marmanjo, já passou por alguma circunstância em que pensou que ser mulher seria mais fácil? A reportagem do Diário da Manhã fez essas perguntas para 10 pessoas, cinco homens e cinco mulheres. Todas as mulheres já quiseram ser homem em algum instante da vida, contudo, apenas um homem quis estar na pele das damas.
“Quero sentar sempre de pernas abertas, não sofrer e chorar com as ceras de depilação, andar sem camisa nos dias quentes, ‘peidar’ sem vergonha disso e ainda me gabar por fazê-lo. Quero não me preocupar com celulites, quero não gastar meu suado dinheiro com manicure toda semana e ter comida pronta quando chego em casa”, afirmou a estudante Mariana Peixoto, 20 anos, que garantiu que se pudesse escolher nasceria homem na sua próxima encarnação.
Já o vendedor Renaldo Souza, 32 anos, nunca pensou ou teve vontade de ser mulher. “Eu acredito que as mulheres têm muito mais vontade de ser homem do que o homem ser mulher. Infelizmente, no Brasil, as mulheres são menos valorizadas. O mesmo direito que um tem o outro deveria ter também”, contou.
“Olha eu já quis ser homem só para dar um murro em um caboclo sem vergonha aí, lutar de igual para igual com ele”, contou a empresária Neuza Cesário, 60 anos. De acordo com ela, os homens aproveitam que as mulheres são mais fracas fisicamente e exploram esse quesito para abusarem delas no aspecto verbal e físico.
O único homem questionado pelo DM que já pensou em ser mulher foi o músico Igor Ribeiro, 24 anos. “Na minha profissão, algumas músicas são mais bonitas na voz feminina, então eu gostaria de ser mulher só na hora de cantar essas músicas”, brincou.
A grande dúvida que fica é: por que elas já pensaram em ser homem, e eles, na maior parte das vezes, não querem estar na pele delas?”. “Deve ser difícil demais ser mulher. Elas trabalham do mesmo tanto que a gente e ganham menos, elas sofrem com os hormônios, dor do parto e ainda sofrem preconceitos”, respondeu o empresário Vasco Lopes, 45 anos.
Para a coordenadora da Rede de Gênero e Educação em Sexualidade (Reges), Sylvia Cavasin, a recusa e a omissão na discussão sobre a igualdade de gênero é uma posição política que não contribui com a garantia do direito à educação para toda a população.
“Não podemos esquecer que a questão de gênero vai para além da discussão sobre sexualidade. É preciso desconstruir o discurso retrógrado e alienante sobre a denominada ‘ideologia de gênero’. É preciso deixar claro que essa é uma invenção que vai contra as conquistas civilizatórias da sociedade brasileira. É preciso dialogar sobre isso, dentro e fora de escola, em todas as oportunidades e reuniões, nas famílias, na comunidade e na escola”, defendeu.
Abismo
Caso o ritmo recente de queda da desigualdade entre homens e mulheres no Brasil se mantivesse, elas ganhariam o mesmo que eles em 2085. Ocupariam 51% (a proporção pela qual respondem na população brasileira) dos cargos de diretoria executiva em 2126. E essa parcela dos cargos de alta gestão em geral em 2213.
Atingiriam essa cota das vagas do Senado em 2083. Nas Câmaras Municipais, em 2160. E na Câmara dos Deputados, em 2254. Essas projeções são da Folha de São Paulo. Para alcançar esses números, eles usaram regressões lineares, equações que estimam o valor esperado de um indicador com base no ritmo anterior. Ou seja, não consideraram mudanças no ambiente, como criação ou extinção de leis de cotas, que podem acelerar ou desacelerar esse ritmo.
Conforme a representante do Escritório da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, tal abismo tem diminuído ao longo do tempo, mas só será efetivamente extinto com a adoção de políticas públicas e outras ações afirmativas. “Se for pela vontade espontânea, ou pela consciência, demoraremos mais 80, 100 ou 200 anos para atingir a igualdade”, afirmou.
“Quantas vezes eu já pensei, ‘nossa, se eu fosse homem esse emprego seria meu’, sem falar as inúmeras amigas que foram ameaçadas de perder o emprego caso engravidasse. Não existe uma mulher que em algum momento da vida não quisesse ser homem. Ainda temos muito o que conquistar”, revelou a vendedora Katielle Ciqueira, 27 anos, para o DM.
Brasil
A ausência de mulheres no comando de ministérios do governo do presidente interino Michel Temer pode levar o Brasil a despencar 22 posições no ranking de igualdade de gênero do Fórum Econômico Mundial.
O ranking, conhecido como Índice Global de Desigualdade de Gênero, é publicado anualmente e a próxima edição deve ser divulgada no segundo semestre deste ano. Atualmente, o País ocupa a 85ª posição na lista, mas o impacto imediato de um gabinete composto somente por homens deixaria o Brasil na 107ª no cômputo geral.
Nesse sentido, o Brasil entraria para o seleto clube dos países sem ministras, ao lado de Brunei, Hungria, Arábia Saudita, Paquistão e Eslováquia.