Etapa, que muitas vezes é o primeiro contato profissional de jovens estudantes, oferece crescimento e empregabilidade
De acordo com pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Estágios (Abres), o número de estagiários no Brasil é de 1 milhão, sendo 740 mil para o ensino superior e 260 mil para o ensino médio e técnico. As cifras foram resultado de um levantamento feito com os agentes de integração e instituições de ensino do País. O maior número de vagas oferecidas é para estudantes de Administração (16,8%), Direito (7,3%), Comunicação Social (6,2%), Informática (5,2%), Engenharias (5,1%) e Pedagogia (4,2%).
Uma coisa é certa: mesmo em um momento adverso, o panorama de oportunidades para os estudantes brasileiros ainda é positivo. Para se ter uma ideia, enquanto o número de empregos formais parece estar em queda livre, as vagas de estágio cresceram cerca de 10% no primeiro semestre de 2016, em Goiás, segundo a gerente da área de estágios do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Tarciana Nascimento. “Março, abril e maio foram os meses de maior crescimento. Antes disso, empresas estavam retendo os estagiários, com intuito de desenvolvê-los e contratá-los”.
A boa maré pela qual passa o campo de estágio, principalmente se comparado ao mercado de trabalho, também é positiva pra as empresas. De acordo com a especialista, o estágio é geralmente a primeira atuação profissional do estudante, de forma que o indivíduo não possui os vícios do mercado. “Durante o estágio a empresa molda a pessoa para qualificá-la como profissional. Mesmo que isso seja especificamente para atender suas necessidades, esse molde não irá prejudicá-lo, caso o estagiário não seja efetivado na mesma empresa. O custo benefício para ambos é maior”.
Para Tarciana, o número de vagas de estágio tende a aumentar. “A nossa expectativa é que apenas neste mês de agosto cerca de 1.400 vagas sejam preenchidas”. Segundo Tarciana, o IEL oferece uma média de mil vagas mensais. Em julho, entretanto, o instituto ofereceu 1,1 mil, o que é mais um indicativo do crescimento.
Formação profissional
Estagiário há um ano na Consciente Construtora e Incorporadora, o estudante do 9º período de Engenharia Civil Lucas Santos está há quatro meses na área de projetos, para a qual foi transferido após passar os outros oito meses em pátios de obra.
A seis meses da formatura, Lucas afirma que o estágio é uma experiência enriquecedora. Para ele, é o encontro da teoria com a prática, já que nem sempre temos acesso a todo o conhecimento que precisamos dentro da sala de aula. “O estágio é fundamental para a formação de profissionais. É onde temos contato com o mercado, além de abrir portas para que possamos mostrar nossas habilidades e dedicação”.
Para Lucas, o tempo de economia adversa só mostra o quanto os profissionais precisam estar preparados e o estágio é um aliado do aprendiz nesse processo. “Quem estiver disposto a absorver responsabilidades, a tomar decisões e a enfrentar desafios tem mais chance de garantir a empregabilidade”.
A coordenadora de RH da empresa, Raquel Mifleh e Moura Jardim, afirma que o estudante deve encarar o estágio como uma “oportunidade de ouro”. “Assim, ele pode entrar em contato com a prática da área dele, acumular experiência e ganhar uma formação profissional. Ele deve fazer disso um trampolim para a empregabilidade”.
Segundo a especialista, o período também é benéfico para as empresas. “É uma oportunidade de formar um profissional nos moldes e necessidades da empresa. Então a tendência é de que os aspirantes de destaque sejam efetivados ao final do período de estágio”.
Porta de entrada
Ter um bom desempenho durante o período de estágio também pode ser a porta de entrada para uma carreira promissora. A assistente de marketing e ex-estagiária da Dinâmica Engenharia Joice Chagas (25) começou sua carreira bem cedo, trabalhando como design em uma empresa de publicidade.
Ela, que sempre soube o que queria fazer, Publicidade e Propaganda, teve sua melhor oportunidade no mercado de construção civil. “Eu não tinha contato com marketing, apenas com criação. Então, com o estágio, veio a experiência nessa nova área e conhecimento sobre construção civil. Foi uma época enriquecedora, me levou a crescer”.
Para Joice, o número de vagas de estágio deve crescer durante a crise. “Tendem a aumentar, já que se trata de uma mão de obra qualificada, além de representar uma possibilidade de preparação, uma porta de entrada para o mercado”.
Terá mais chances de efetivação, segundo ela, o indivíduo que se mostrar preparado para enfrentar desafios e aceitar responsabilidades. “O estágio serve para isso. Esse é um período de formação e a tendência é a evolução. Então, o estagiário tem que mostrar que está pronto”.
Assistente de Marketing desde julho, Joice afirma que a efetivação foi uma coroação de toda dedicação aplicada nos 2,5 anos que atuou como estagiária. “Enviei e-mails de agradecimento pela minha promoção a todos os funcionários da empresa. Acho que, desde a recepção até o departamento de vendas, sempre tinha alguém para me ensinar algo. Sou muito grata a todos por isso”.
Efetivação
Uma vez com a vaga nas mãos, a luta pela efetivação passa a ser o principal objetivo dos estagiários. Isso pelo menos é o que revela a mais recente Pesquisa de Egressos, divulgada em 2014 pelo IEL. Segundo o levantamento, 81% dos estudantes são efetivados nas empresas em que começaram a estagiar. Para o coordenador de RH da Loft Construtora e Incorporadora, Márcio Vieira, o estágio é muitas vezes um período usado pela empresa para moldar ou treinar um profissional, conforme um determinado perfil de que se precisa. “Recentemente, em nosso atual corpo de colaboradores, temos um exemplo que mostra bem isso”.
Ele fala da estudante de Administração de Empresas e ex-estagiária Priscila Domingues (21), que foi estagiária na empresa por 13 meses. “Por demonstrar várias qualidades que seriam importantes, ela assumiu uma vaga de emprego que havia surgido. Foi o estágio que a preparou para desempenhar a função de acordo com as necessidades da empresa”, explica Márcio.
Para Priscila, sua efetivação foi uma grande conquista já que antes mesmo de concluir o seu curso já estava com o emprego garantido. Completamente adaptada em seu ambiente de trabalho no Departamento de Controladoria da Loft Construtora, a ex-estagiária conta que, mesmo sendo ainda estudante, a empresa sempre deu espaço para que ela aplicasse seu conhecimento e suas ideias.
“Desenvolvimento profissional era o primeiro objetivo, mas, após os 13 meses, as perspectivas foram se ampliando e foram reforçadas com a possibilidade de efetivação. Aqui temos uma relação saudável, tenho abertura para dar minha opinião e mostrar o meu conhecimento. Valorizam os meus pontos de vista. Acho que ninguém me via como somente uma estagiária. A principal diferença é que agora tenho mais responsabilidades”, diz a jovem, que já pensa em se especializar e crescer ainda mais dentro da empresa.