Mais conhecida como doutora Ana, pela condição de médica atuante, Ana Maria Passani Ferreira Miranda traz consigo a história de uma vida inteiramente dedicada à ciência da saúde e à pecuária. Essa condição cerca todo o universo de emoções, lutas e percalços que envolvem a dinâmica destas áreas. Fazendeira moderna, empreendedora por excelência, não pega o boi pelo rabo, para não judiar do animal. Sustentabilidade está em seu dicionário. Mas não foge à luta. Ana Maria Miranda contribuiu de corpo e alma pela criação das associações do gado Tabapuã e Tabanel em Goiás. Pela sua dinâmica foi lembrada para sair candidata à presidência da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura, a tradicional SGPA, responsável pelas exposições de Goiânia. Por fim, as lideranças pecuaristas do Estado acharam por bem lançar chapa única. A eleição será segunda-feira e Ana Maria é candidata a vice na chapa liderada por Tasso Jayme. Hugo Goldfeld, atual presidente, não concorre à reeleição e com a chapa única a ideia é evitar dissensões.
Nasceu em 30 de janeiro de 1964, em Brasília (DF). É filha de José Ferreira de Oliveira e Sidinei Passani Ferreira de Oliveira, ele de Minas Gerais, e ela de São Paulo, daí se mudaram para o Centro-Oeste, e se radicaram. José Ferreira foi empresário na área de distribuição de medicamentos em Brasília e pecuarista em Padre Bernardo, norte de Goiás. Após concluir o curso de graduação em Piano pelo Instituto de Artes da UFG, em 1985, graduou-se em Fonoaudiologia, realizou várias especializações, entre elas a terapia intensiva. Casou-se com Wagner Miranda, também médico especializado em terapia intensiva. A Dra. Ana Maria trabalha na UTI do Hospital Amparo e também na UTI Goiânia.
Vocação pecuária
Igualmente à sua dedicação na área da saúde, as aptidões de Ana Maria também são reveladas no agronegócio, mantendo quatro fazendas, Parque das Vacas Tabapuã I e II, Parque II e Parque Florestal, nos municípios de Paraúna, Caturaí e Inhumas, onde seleciona as raças Nelore, Tabapuã e Tabanel, além de cultivar floresta de mogno africano e eucalipto.
Desenvolveu a pesquisa e criou o tipo racial Tabanel, que é o primeiro resultante do cruzamento interzebuíno homologado pelo Ministério da Agricultura, e registrado pela ABCZ, inaugurando o CCG, um novo sistema de registro para o zebu no Brasil.
É editora da Revista Bovinos, da Associação Brasileira do Tabanel, da qual foi fundadora, a exemplo da Associação Goiana do Tabapuã e da Associação dos Criadores de Tabapuã em Goiás. Coordena a parte acadêmica da Goiás Genética, da Associação Goiana dos Criadores de Zebu, e fundadora do Grupo Tabapuã de Goiás.
Criou o Museu Casa do Zebu pela Associação Brasileira do Tabanel, realizando a primeira mostra em outubro de 2005, na sede da SGPA, com mais de 1.000 visitações registradas no livro de assinaturas. Posteriormente, a SGPA fundou o Museu Agropecuário, ao qual o Museu Casa do Zebu foi incorporado, já com relevante acervo advindo principalmente de Goiás e Triângulo Mineiro, regiões das raízes do marido. Atualmente, o museu tem parceria técnica com a SGPA. E é importante referência cultural, histórica e de preservação, aberto à visitação pública e excursões escolares.
Ana Maria realiza anualmente no mês de maio, durante e Expo–Goiás, o Encontro de Mulheres na Pecuária, intitulado Happy Hour das Mulheres. “Eu acredito muito no que as mulheres podem contribuir para o agronegócio em Goiás e no Brasil”, diz ao Diário da Manhã.
Evitou a disputa
E observa que “assim trilhou nestes anos todos estes caminhos, resultando, em consequência, um grande movimento de criadores, associados da SGPA e amigos, para que eu pudesse ser a primeira mulher a dirigir a SGPA”. Ana admitiu participar desta gestão da SGPA, entidade que ela tanto admira, “mas com ponderações, como, por exemplo, não haver disputa eleitoral, não por temer a eleição, mas por entender que a entidade não suportaria as consequências de uma disputa eleitoral, vez que já existem muitas dificuldades para sanar na SGPA”.
Com o sentimento materno, deixa escapar que “a SGPA, nossa entidade mãe desde o início da década de 40, é a primeira entidade do agronegócio em Goiás. Fundada em maio de 1941 e teve como primeiro presidente Altamiro de Moura Pacheco, e agora sinto honrada em participar nesta gestão, e pela primeira vez com a mulher na vice-presidência”.
Ana Maria observa que a SGPA foi berço, e teve sua “irmã siamesa” a AGCZ. Desde 1973, a AGCZ, com sede no Parque da Pecuária de Nova Vila, realizava os registros genealógicos do zebu em Goiás, sob o comando de seu diretor-técnico José Magno Pato, e demais técnicos. Eles viajavam constantemente pelo interior do Estado, visitando fazendas e examinando os rebanhos, constatando se tinham conformação adequada dentro dos padrões exigidos para fazer um registro genealógico.
Criadores de zebu se aproximam
Após quase meio século de trabalhos para o desenvolvimento do zebu, a AGCZ realizou na Sala do Produtor da SGPA em maio deste ano a mais notável reunião sobre a nova diretoria da ABCZ, que culminou com a diplomação do novo presidente, Arnaldo, aproximando cada vez mais o zebuzeiro de Goiás da ABZC.
Entidades parceiras
A SGPA também aloja sede da AGS (Associação Goiana da Suinocultura), hoje presidida por Fernando Cordeiro de Barros. Ex-presidente da AGS, Julio César Carneiro foi vice-presidente do Fundepec Goiás e hoje é superintendente do Mapa em Goiás.
A entidade acolhe ainda a AGA (Associação Goiana da Avicultura), hoje presidida por Luiz Fernando Pavão. A SGPA soma assim quatro das oito entidades constituintes do Fundepec Goiás, com sede no Parque de Exposição Agropecuária Dr. Pedro Ludovico Teixeira. Outras entidades parceiras e que completam as constituintes do Fundepec Goiás são a FAEG, presidida por José Mário Schreiner, o Sindicarne, presidida por José Magno Pato, além do Sindileite e OCB.
Ana Maria Miranda diz ainda que em abril participou da comitiva do Fundepec no Uruguai, durante a 43ª Cosalfa (Comissão Sul Americana de Combate à Febre Aftosa). Com isso, conseguiu trazer a 44ª Cosalfa em 2017 para Goiás. A SGPA ainda acolhe várias outras importantes associações de criadores em suas dependências, como exemplos: ABTnel (Associação Brasileira do Tabanel), a AGN (Associação Goiana do Nelore), a ACTG (Associação dos Criadores de Tabapuã em Goiás), a AGT (Associação Goiana do Tabapuã), a Associação do Gir, a Associação do Guzerá, a Associação do Novilho Precoce, a Associação do Holandês, a Associação do Mangalarga Marchador, a Associação do Mangalarga Paulista, a Associação do Quarto de Milha, a Associação Goiana dos Muares, além de várias outras entidades importantes e que fazem o agronegócio em Goiás, sejam elas associativistas, cooperativistas ou mesmo particulares.
Integração das Mulheres
Ana Maria vem trabalhando, por outro lado, há dois anos e meio, em uma causa muito nobre iniciada no seio de suas atividades principais, saúde e pecuária. Trata-se da missão para construir e colocar em funcionamento o Hospital de Câncer de Inhumas, da Associação para Cuidado de Câncer no Entorno de Goiânia. Hospital de alta complexidade e específico para cuidado de pacientes com tal enfermidade, com um projeto de 50.000 metros quadrados, e características de elevada qualificação técnica das equipes e aparelhos, não haver cobrança de nenhum paciente e desempenhar o mais alto nível em humanização na assistência.
“Todos os recursos são previstos em doações por instituições e pelas pessoas mais solidárias, o povo brasileiro”, aponta. Assim, o grupo denominado Mulheres Poderosas, juntamente com Marcos Zapp, Ana Maria e Wagner Miranda, se uniram em trabalho conjunto para a viabilização do projeto. Ana Maria acredita que esta integração entre Mulheres Poderosas e o setor produtivo do agronegócio pode resultar em uma contrapartida social com potencial de mudar a qualidade da assistência na comunidade, e tornar exemplo para outras ações.
Enfim, empenha-se com determinação de trabalho para contribuir de uma forma ímpar, feminina e competente para juntamente com o futuro presidente Tasso Jayme e toda nova diretoria e conselhos da SGPA, executarem um trabalho proveitoso em prol dos associados e do agronegócio goiano.
Finaliza Ana Maria, “a SGPA ao longo dos seus 77 anos traz consigo a história de inúmeras pessoas, não só de pecuaristas e demais produtores, mas de toda uma sociedade, e é com este pensamento que desejo, juntamente com toda nossa equipe, com a força do trabalho, empenho e determinação, ajudar a resgatar todas estas famílias de volta ao Parque de Exposição Agropecuária Dr. Pedro Ludovico Teixeira. A pecuária bovina é parte da minha vida, na qual estou há quase meio século. Que Deus abençoe todos nós”, conclui.