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COTIDIANO

Professor diz que se sentiu constrangido na UFG

O professor de música Wolney Alfredo Unes, da Universidade Federal de Goiás (UFG), desabafou quanto aos métodos de alguns dos jovens que ocuparam a instituição. Em relato publicado ontem em sua rede social, no Facebook, Unes diz que está há 25 anos na UFG e jamais foi constrangido ou presenciou “tal violência”.

Apesar do relato do professor, as ocupações que ocorrem em Goiás, em sua maioria, são consideradas pacíficas e não existem relatos de atritos com a comunidade. Todavia, a experiência do professor de música teria passado dos limites, acredita o docente.

Segundo relato do servidor da UFG, ele foi expulso do prédio público.  O entrevero com os ocupantes começou quando ele teria marcado reunião com alunos.  Unes disse que não entendeu bem os métodos dos estudantes, que teriam colocado imposições para que o grupo se reunisse no local: “Uma delas, mais exaltada, fez algumas perguntas que não entendi bem algo mais ou menos como: "esta ação estava agendada no Facebook? É atividade de ementa? É preciso ser pública e ter sido autorizada!".

Outra professora da UFG, Denise Paiva, de Ciência Política,  foi solidária e deixou relato de apoio ao professor: “Caro amigo Wolney Alfredo Unes, me solidarizo com vc. Tb passei por alguns constrangimentos recentes, não tão virulentos como esse que vc relata. A omissão da administração da universidade diante desses fatos é que o mais me choca. Em quase 24 anos de UFG , nunca tinha presenciado ou sabido de episódios assim. Nosso direito de ir e vir está cerceado por um minoria e não há o que possamos fazer. As pessoas têm o direito inquestionável de se manifestar e se posicionar politicamente, isso é evidente, mas o uso da truculência e do autoritarismo (que tanto dizem combater), a total ausência de pluralismo e respeito aos que pensam de forma diferente ( outro mote , mas que vale para os outros) são inaceitáveis. Um grande abraço”.

BOLSAS

Em Goiás, a Universidade Federal de Goiás (UFG) foi uma das últimas unidades a ser ocupada. Nove instituições federais de ensino já estavam sob o poder de estudantes.

Além do Instituto Federal Goiano (IF Goiano), estão ocupadas unidades do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG) em  Goiânia,  Águas Lindas de Goiás, Anápolis, Valparaíso de Goiás,Jataí e Luziânia.

A UFG já se pronunciou sobre as ocupações. Ela é solidária com os estudantes e defende os protestos contra a PEC 241, mas afirma que a ação prejudica os próprios estudantes. Em nota encaminhada para a imprensa, a instituição relata que a ocupação impede, por exemplo, o pagamento de bolsas: “Sobre a ocupação do prédio da Reitoria da Universidade Federal de Goiás (UFG) e de algumas unidades acadêmicas e órgãos por estudantes que se opõem à PEC 241, a UFG, conforme nota do Conselho Universitário (Consuni) divulgada na última sexta-feira (21/10), informa que é contrária à aprovação da PEC 241 e se solidariza com a mobilização da sociedade contra a retirada de direitos sociais previstos na Constituição. Entretanto, é importante ressaltar que a ocupação dos prédios inviabiliza atividades acadêmicas e administrativas desenvolvidas nas unidades de ensino, órgãos, no Gabinete e nas Pró-Reitorias, bem como o atendimento às demandas e obrigações relacionadas a estudantes, professores, técnico-administrativos, bolsistas, prestadores de serviço, fornecedores, entre outros”.

Na mesma nota, a UFG lista os problemas acarretados pela ocupação do prédio da Reitoria: “1 – atraso no pagamento de bolsas a estudantes (moradia, alimentação e permanência), auxílio para participação de estudantes em eventos, estagiários, monitores e o pagamento de auxílios, diárias e salários dos servidores. 2 – devolução irreversível de recursos orçamentários descentralizados tais como Programa de Apoio a Cursos de Pós-Graduação (Proap), Programa de Extensão Universitária (ProExt), dentre outros, caso os processos não sejam concluídos até o dia 31 de outubro para serem empenhados; 3 – devolução de recursos orçamentários relativos aos processos licitatórios em andamento que não forem finalizados até o dia 4 de novembro; 4 – atraso no pagamento de fornecedores, terceirizados e outros, cujo recurso foi liberado no dia 21/10/2016 à noite”.

Saiba onde foi cancelada aplicação do Enem em Goiás

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), divulgou a lista dos 304 locais em que a aplicação da prova foi cancelada, em função do movimento de ocupações das escolas. Candidatos inscritos nesses locais não farão a prova neste final de semana (5 e 6 de novembro). Para este grupo de 191.494 estudantes, o exame será reaplicado nos dias 3 e 4 de dezembro.

Os Estados do Paraná, com 74 ocupações, e Minas Gerais, com 59, têm o maior número de locais de provas ocupados. As ocupações ocorrem em diversos Estados do País. Estudantes do ensino médio, superior e educação profissional têm buscado pressionar o governo por meio do movimento. Os alunos são contra a proposta de emenda à Constituição (PEC) que limita os gastos do governo federal pelos próximos 20 anos, a chamada PEC do Teto. Eles também criticam a reforma do ensino médio, proposta pela Medida Provisória (MP) 746/2016, enviada ao Congresso.

Onde Enem foi cancelado em Goiás

Aparecida de Goiânia

Instituto Federal de Goiás - Campus Aparecida de Goiânia - Bloco B - Bloco C;

Formosa

Instituto Federal de Goiás IFG - Campus Formosa - Bloco Único;

Goiás

UFG/ Regional SantAna - Bloco Único  -

Universidade Federal de Goiás (UFG) - Faculdade de Direito - Campus da Cidade de Goiás - Bloco 1 - Bloco 2;

Iporá

Instituto Federal Goiano - Campus Iporá - Bloco Único;

Jataí

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás - Bloco Único;

UFG - Campus Jatoba - Central 01 - C1 - C2

Relato do professor Wolney Unes, da UFG

“Em 25 anos de Universidade Federal de Goiás nunca havia passado por tamanho constrangimento nem presenciado tal violência. Faço o relato.

No último dia 1º, a partir de um compromisso com três alunos marcado há vários meses para às 18:50, fui ao prédio da Emac, no Câmpus II. Chegando lá, vi que havia um bloqueio na entrada do prédio, uma mesa atravessada na porta com uma pessoa sentada. Como havia chegado cedo e sabendo que não havia funcionários com quem pegar a chave de uma sala, aguardei do lado de fora, ao lado da cantina, por cerca de 20 minutos, até que os alunos chegassem. Após chegarem todos os três alunos, preparamo-nos para entrar no prédio.

Perguntamos à garota sentada à mesa na porta se poderíamos entrar. Ela disse que sim com um belo sorriso, e pediu um documento de identificação. Sorriso de volta, respondi que gostaria então de ver um seu documento também. Como nenhum de nós tinha nem tem poder de polícia para exigir identificação do outro, entramos no prédio público em que sou servidor sem identificação mesmo – aliás como venho fazendo nos últimos 25 anos e como já fiz em várias outras universidades, fosse como estudante, professor ou simples visitante (às vezes até mesmo apenas em busca de um banheiro!).

De volta a nosso relato, subimos então – eu e os três alunos – a rampa até o pavimento superior. Ali há um agradável alpendre, em frente ao laboratório de eletroacústica, com vários bancos, onde sabia que poderíamos nos sentar para ter nossa orientação. E assim fizemos.

Na copa ao lado, víamos alguns alunos que pareciam preparar algo no fogão. Após cerca de 15 minutos de nossa atividade, computador aberto no colo, começou uma música vindo do térreo. Bem alta, um dos alunos sugeriu que o som tinha o intuito de nos atrapalhar. Continuamos ao som do roquezinho simpático, com o tom de voz levemente aumentado. Mais dois ou três minutos chega um pequeno grupo de garotas, três ou quatro. Uma delas, mais exaltada, fez algumas perguntas que não entendi bem algo mais ou menos como: "esta ação estava agendada no Facebook? É atividade de ementa? É preciso ser pública e ter sido autorizada!" A aluna de nosso grupo respondeu que estávamos agendados há meses, ao que alguém contestou que a ação deveria ser pública.

O que se seguiu não entendi muito bem, exceto quando uma das garotas disse que nós as havíamos desrespeitado por ter nos recusado a nos identificar. Entendi também uma frase: "essa p. dessa faculdade", a única a que contestei, pedindo alguma sobriedade no vocabulário. Pura bobagem, é claro, diante dos gritos e olhares raivosos, gestos ríspidos, ressentimento à flor da pele.

Nesse instante chega do andar inferior um rapaz forte e alto, bonitão, cabelo black power e generosas suíças, carregando uma das caixas de som que professores utilizam para dar aulas. Liga a caixa a nosso lado e põe para tocar o tal rock, dessa vez ali pelos 110 decibéis. Deixa a caixa e posta-se ao lado de minha cadeira, do alto de seus quase 2 metros, braços cruzados e sobrecenho franzido. Seguiu-se uma gritaria infernal, que não conseguia superar a música, até que uma das garotas desliga a caixa de som e continua sua argumentação.

Finalmente, pedi a palavra e perguntei: podemos ficar aqui? Sim, poderíamos. E podemos continuar nossa atividade? Não, não poderíamos. E se continuarmos? Não permitiriam – e a partir dessa resposta, olhando para o rapagão com o canto do olho, não quis perguntar quais seriam os meios. Levantei-me e convidei meus três alunos para nos irmos.

Fomos escoltados aos gritos até a porta onde estava a tal mesa. No caminho ainda perguntei se estávamos sendo expulsos do prédio público. Sim, estávamos. Ao passar pela mesa, parei um instante para dizer a frase com que iniciei este texto. Ao passar pela porta de saída, fui saudado, "oi, professor", por uma garota que havia frequentado uma de minhas aulas – o único rosto que reconheci durante todo o episódio, afora as garotas da cantina e uma professora que havia deixado o prédio mais cedo. Ninguém da guarda, ninguém da manutenção nem da direção. Fui expulso de meu local de trabalho, constrangido a me identificar, ameaçado e impedido de orientar meus alunos. Do andar superior, podíamos ainda ouvir a centena de decibéis do rock.

A noite já caindo, fomos até o estacionamento e terminamos nossa orientação encostados em meu carro, à meia-luz da tela do computador sobre o porta-malas do sedã. A garota de nosso grupo – estudante de Ciências Contábeis – tremia e não conseguiu mais se concentrar, num riso nervoso intermitente. Um guarda fardado que fazia a ronda aproximou-se para perguntar se estava tudo bem. Não estava. Despedimo-nos às 20:10 e fomos embora. Começava a cair uma chuva fina”.

Justiça não amedronta estudantes

Agência Brasil, com Redação

Representantes dos estudantes secundaristas que ocupam escolas no Distrito Federal disseram, em coletiva de imprensa no Centro Educacional Gisno, na Asa Norte, que o movimento não recuará diante das decisões judiciais que autorizaram o uso de força policial para desocupar as instituições de ensino. Segundo eles, a decisão sobre deixar ou não as escolas caberá a cada grupo de ocupantes. No entanto, eles prometem continuar mobilizados.

Uma decisão do juiz de plantão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), Newton Mendes Aragão Filho, determinou, no último dia 28, o esvaziamento de todos os colégios ocupados em função da proximidade do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). Na noite de domingo (30), outra decisão, do juiz da Vara da Infância e Juventude, Alex Costa de Oliveira, para desocupação do Centro de Ensino Médio Ave Branca (Cemab), em Taguatinga, causou polêmica.

Ao deferir o pedido de desocupação, o juiz autorizou o corte do fornecimento de água, energia e gás na escola, o uso de instrumentos sonoros contínuos para impedir o sono dos alunos e a restrição do acesso de parentes e conhecidos dos estudantes à escola, além de proibir a entrada de alimentos. O juiz recebeu críticas, mas também elogios de pessoas contrárias às ocupações.

O Cemab foi desocupado pacificamente terça-feira (1°). Também já deixaram as escolas os alunos que ocupavam o Centro de Ensino Médio 304, em Samambaia, e o Centro de Ensino Médio 111 do Recanto das Emas. Atualmente, segundo balanço do Encontro de Grêmios, cinco escolas continuam ocupadas no Distrito Federal: Gisno; Centro de Ensino Médio de Taguatinga Norte (CEMTN); Centro de Ensino Médio Elefante Branco (Cemeb) e Centro de Ensino Médio Setor Oeste (CEMSO), ambos na Asa Sul e, por fim, o Centro Educacional 1 de Planaltina (Centrão).

Os estudantes que participam do movimento de ocupações protestam contra a Medida Provisória (MP) 746, que flexibiliza o currículo comum obrigatório do ensino médio no País, e contra a Proposta de Emenda Constitucional 55 (antiga PEC 241), que fixa um teto para os gastos públicos pelos próximos 20 anos. A PEC 55 já foi aprovada na Câmara e tramita agora no Senado.

Decisão particular

“Cada escola tem o seu comando e isso [desocupar] está sendo uma decisão particular”, disse Francisco Franco, 17 anos, do Encontro de Grêmios e estudante do Centro de Ensino Médio do Setor Leste (CEMSL), que não está ocupado. Franco disse que, independente de as escolas atualmente ocupadas cumprirem a ordem judicial, o movimento continuará. “Podem ser desocupadas algumas [escolas], mas outras serão ocupadas”, declarou.

O Enem está programado para os próximos sábado (5) e domingo (6). No entanto, em função das ocupações, o Ministério da Educação decidiu adiar as provas para 191 mil alunos, que só farão o exame em 3 e 4 de dezembro. Os estudantes criticaram, hoje, o adiamento. Segundo eles, trata-se de uma tática para pressioná-los.

“O MEC não se dispõe a ter um momento de conciliação. Usa o Enem como ameaça. Em Minas Gerais, houve negociação com os estudantes e o Enem vai acontecer”, disse Ana Flávia Barbosa, 16 anos, aluna do Elefante Branco, sobre acordo que ainda não foi confirmado pelo MEC.

Marcelo Vinícius, 18 anos, do Gisno, disse que os estudantes estão, inclusive, usando o tempo na ocupação para se preparar para o Enem. A escola da Asa Norte está ocupada desde segunda (31). “A gente se dividiu em grupos. Estamos limpando a escola e, hoje de manhã, teve aulão do Enem com vários professores”, destacou.

Francisco Franco lembrou que, entre os manifestantes, há alunos inscritos para fazer o exame. “Nós, da ocupação, temos pessoas que vão fazer o Enem. Nem todo mundo é do terceiro ano. Será uma questão de revezamento”, informou.

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