Conforme a matéria de Alexa Salomão, “cerca de 22% do orçamento familiar está comprometido com o pagamento de juros de dívidas e praticamente metade das empresas tem geração de caixa inferior às suas despesas financeiras”. Ou seja: os tomadores de crédito precisam digerir altas concentrações de dívidas. De outro lado estão os bancos, que já renegociaram débitos, ainda temem o calote e não querem – nem podem – correr o risco de emprestar mais em meio a uma recessão sem prazo para terminar. Trata-se exatamente do que parece ser: um círculo vicioso, que só vai se encerrar com o pagamento das dívidas.
No dia 10/10/2012, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou a redução de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic. Com esta decisão, a taxa caiu de 7,5% para 7,25% ao ano, que chegou ao seu menor patamar da história, desde que foi iniciada a série em 1986. Com este corte, o governo de Dilma faria o seu décimo corte seguido da Selic, em uma trajetória de declínio que teve início há mais de um ano - em agosto de 2011, quando foi reduzida de 12,5% para 12%.
Estes sucessivos cortes nos juros, somado à política de valorização do salário mínimo, irritaram os setores rentistas (bancos e grandes investidores que ganham bilhões com juros altos) e também os setores mais atrasados do capitalismo nacional, que apostavam no achatamento salarial para ampliar sua taxa de lucro. É por isto que se explica o apoio ao impeachment de Dilma Roussef através da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) e de outras associações representativas do empresariado, como a Acieg (Associação Comercial e Industrial de Goiás). Derrubada Dilma, o presidente usurpador Michel Temer (PMDB-SP) vem “pagando a conta” do impeachment com a manutenção de uma taxa altíssima, que aprofunda a recessão, a quebradeira de empresas e o desemprego, somando a este sinistro quadro o pacote de redução de direitos trabalhistas com a PEC 55, que achata salários e acaba com conquistas históricas dos trabalhadores.
Dinheiro caro
A equipe econômica de Michel Temer, composta por Henrique Meirelles no ministério da Fazenda e Ian Golfajan (ex-Itaú) no Banco Central, promove o enxugamento do crédito tornando mais caro o dinheiro. A ideia da dupla é que tirando o dinheiro do mercado, promove-se a queda da inflação pela simples redução da circulação da moeda na economia. Ou seja, derruba-se a demanda, e com menos gente querendo comprar, os preços caem. Não é isto que se vê nas feiras e nos supermercados país afora: os preços estão subindo, as pessoas estão ganhando menos, comprando menos, até porque estão muito endividadas no cartão de crédito e no cheque especial.
Conforme registra o Estadão, a quantia fabulosa de R$ 1 trilhão deixou de circular pela retração do mercado de crédito, reduzindo em 60% o crédito disponível a pessoas e em 40% o das empresas, em 12 meses.
O jornalista Fernando Brito, no site Tijolaço, avalia o impacto deste número na economia: “Quer ter ideia? Simples: o PIB brasileiro, a soma de todas as riquezas produzidas e consumidas no Brasil, hoje, roda na faixa de R$ 6 trilhões ou um pouquinho menos, com a queda que vem se acentuando. Retirar R$ 1 trilhão de circulação é como se durante quase dois meses de um ano, nada se produzisse, nada se construísse, nada se vendesse ou comprasse, nada se importasse ou exportasse no Brasil”, ensina.
Diante deste quadro, o panorama da economia brasileira é e será, por um bom tempo, o que registra a jornalista Alexa Salomão:
“Na sexta-feira, a uma semana do Natal, era possível caminhar tranquilamente na Rua 25 de Março, o centro de compras da capital paulista que costuma lotar nesta época. Poucas pessoas tinham sacolas. Algumas lojas estavam até vazias. A esperança dos lojistas era que no final de semana, os consumidores se animassem, movidos pelo espírito natalino e pelo dinheiro extra do 13º salário”.
As lojas e shoppings em Goiânia e em todo o Estado revelam o contrário: o “Natal do golpe” será um dos piores dos últimos tempos. (Com informações do Estadão, Tijolaço, Banco Central).