As franquias são, sem dúvida, uma forma de negócio bastante segura, e o retorno do investimento é visto como praticamente garantido. Para se ter uma ideia, a taxa de falência desse modelo de negócio no brasil é inferior aos 5%, e levando em consideração que já existem mais de 3000 redes instaladas no País, é um excelente número. Mas o sucesso, sempre visto como certo pelos entusiastas, e o retorno lucrativo do negócio, nunca são certos. Afinal, não deixa de ser um empreendimento, e um estudo intensivo de mercado e uma análise que beira a perfeição são indispensáveis.
“Assim como todo negócio, a franquia tem riscos que o empreendedor precisa conhecer”, afirma Augusto de Campos Silva, economista e consultor empresarial. “Todo investimento apresenta riscos, e demanda do empreendedor uma atenção muito grande, principalmente aos detalhes. Ou seja, o modelo de franchising é arriscado sim.”
Uma das principais recomendações está na leitura do contrato e da circular de oferta da franquia. “É preciso ler o documento para saber suas obrigações e quais são os seus direitos, pois dessa forma o investidor vai saber o que deve exigir da matriz e aquilo que será cobrado dele”, explica Augusto. Outro ponto explorado e, segundo o consultor, bastante frisado, é a análise de perfil de empreendedor. Segundo o economista, a pessoa que for entrar nesse mercado precisa fazer uma análise de si mesmo enquanto empreendedor. “É preciso fazer uma autocrítica e saber se gosta ou não de seguir padrões e regras, além de pensar como se veria trabalhando numa rede”, pontua Augusto.
História
No Brasil o sistema só começou a ser utilizado na década de 1960 com o surgimento das escolas de idiomas Yazigi e CCAA. Naquela época, o negócio ainda não era tão bem estruturado como é hoje, e se baseava muito mais na transferência de know-how (repassar, através de diversas maneiras, o conhecimento sobre o negócio e o mercado, de forma que o franqueado consiga reproduzir os padrões e rendimentos da empresa matriz) através do material didático.
A partir da década de 2000, o modelo de franchising continuou a crescer no Brasil. Segundo dados da ABF, de 2014 para 2015 o setor de franquias brasileiro faturou 8,3% a mais, com um crescimento contínuo desde 2011. No mesmo intervalo de tempo também cresceu o número de unidades franqueadoras (+4,5%), o número de unidades de franquias (+10,1%) e o número de empregos diretos gerados pelo setor (+8,5%) . Ou seja, o franchising brasileiro ainda está em momento de expansão e crescimento e muitos capítulos de sucesso ainda serão escritos na história do setor.
O que se pode observar hoje é um movimento de internacionalização do franchising brasileiro, com marcas de franquias espalhadas por 60 países. Em 2014, segundo a ABF, eram 106 redes brasileiras com presença no exterior (96 com unidades e 10 com exportação). Em 2015, eram 135 marcas (110 com unidades e 24 exportadoras).
Modelo de sucesso
O empresário Maurício Curado, de 44 anos, além de ter 14 anos de experiência com ofranchising, tem uma história de sucesso com o modelo de negócio. Com três empresas sob sua gestão, ele possui uma sapataria/lavanderia, um cyber café e, desde 2015, possui, no Shopping Flamboyant, uma unidade da Rede Jin Jin, que hoje é a maior rede de franquias de culinária asiática do Brasil.
Maurício reitera todas as recomendações básicas sobre o negócio, pois elas são fundamentais e quem as segue pode garantir o sucesso do seu investimento. “Traçar o próprio perfil é importante para saber se vai ou não dar conta do negócio, e com que tipo de produto ou serviço você quer trabalhar. Depois disso, tem que pensar numa rede que se encaixa no seu perfil”, explica ele.
Quando questionado sobre os padrões exigidos da rede, se o um franqueado parece mais um funcionário com uma lucratividade alta ou se um empresário com limitações, ele é categórico: “Um franqueado é um empresário, não existe outra palavra que o defina. O dinheiro investido é dele, os lucros são dele, é ele o gestor dos gastos, funcionários e quem dá as cartas na empresa. O que é exigido da matriz são padrões previamente apresentados, e nenhum deles são tarefas muito difíceis ou que possam ir de encontro com as vontades do empresário”, explica Maurício.
Estratégias
O consultor empresarial Augusto de Campos Silva também fala sobre a gestão de capital, antes de investir no negócio. “Se você investir todo o seu dinheiro na montagem da loja e na taxa de franquia, ficará sem fundos para bancar os gastos do começo da operação. Todo negócio passa por uma fase de maturação, em que as vendas ainda não estão no ponto normal. Nesse período, será preciso ter reservas para pagar os custos fixos. Eu sempre falo para os meus clientes: Nunca invista mais de 70% do capital que você tem”, ressalta Augusto.
Outra recomendação, ainda que básica, é de suma importância para a fase de pesquisas e estudo do negócio, é a de visitar as lojas da rede da qual o investidor tem interesse em trabalhar. “Pode parecer meio bobo, mas observar a dinâmica das lojas a partir do olhar de consumidor, por exemplo, como os funcionários lidam um com o outro e com seus supervisores, como é o padrão de atendimento aos clientes, como a loja recebe e atende aquele público alvo. Porque o empresário vai gerir pessoas também, e não só uma empresa”, conclui o economista.
“O empresário investe o dinheiro adquirindo os royalties e o direito de usar aquela marca, além do espaço e dos funcionários, e a rede oferece o treinamento, tanto para os funcionários quanto para o próprio empresário, os layouts de marketing e de gestão do negócio, e o mais importante, que é a consultoria”, explica Maurício Curado. Segundo o empresário, a rede com a qual o empresário trabalha oferece todas as condições possíveis para otimizar o trabalho e o atendimento, que consequentemente vai influenciar de maneira positiva os lucros obtidos. Na verdade, existe liberdade nesse modelo, ao contrário do que se imagina, mas não tanto se o negócio fosse apenas seu. Vejo isso como o preço a se pagar pela segurança e por já se inserir no mercado com uma marca consagrada. E está longe de ser um preço alto”, conclui o empresário.
Para ele é essencial que o investidor tenha um espírito empreendedor, e uma vontade de crescer enquanto empresário. “Não adianta nada você investir para um terceiro, como esposo ou esposa, ou colocar os filhos para gerir o negócio. É um trabalho sério e cuidadoso, e se você respeitar toda essa dinâmica e saber como lidar com ela, como um empresário mesmo, o sucesso não tarda a aparecer”, conclui Maurício.