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O País voltou a crescer

Foi divulgada ontem, sob o espocar de fogos e rufar de tambores, a primeira boa notícia da economia brasileira depois que Michel Temer assumiu o governo. A economia brasileira voltou a crescer no primeiro trimestre deste ano e saiu da “pior recessão de sua história”, no dizer de Henrique Meirelles, o ministro da Fazenda. Foi divulgado o indicador do nível de atividade do Banco Central, o chamado Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), que registrou crescimento de 1,12% de janeiro a março, na comparação com o trimestre anterior (outubro a dezembro de 2016).

O IBC-BR é um indicador criado para antecipar o resultado do Produto Interno Bruto – PIB, medido pelo IBGE. Os números oficiais do PIB do primeiro trimestre deste ano serão divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística somente no dia 1º de junho. Até lá, a torcida vai saboreando o IBC-Br.

O Brasil entrou no que os economistas chamam de “recessão técnica” – que se caracteriza por dois trimestres seguidos de contração do Produto Interno Bruto (PIB) – no segundo trimestre de 2015, quando houve um retraimento de 1,9% na atividade econômica, com a onda depressiva atuando com mais força sobre o setor industrial.

Se o IBGE confirmar o resultado positivo apurado pelo índice do Banco Central relativo ao primeiro trimestre, o Brasil terá interrompido uma série de oito trimestres consecutivos de recuo do nível de atividade produtiva.

O Produto Interno Bruto, a soma expressa em dinheiro de todos os bens e serviços produzidos no país, dá uma segura dimensão do crescimento ou encolhimento da economia. Em 2015, o PIB teve uma retração de 3,8% em relação ao ano anterior e, no ano passado, o IBGE registrou um encolhimento de 3,6%. Para 2017, a previsão dos bancos é de uma alta de cerca de 0,5% no PIB. É a mais otimista das previsões.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que dispõe de dados sobre o PIB desde 1901, afirma que estamos na pior recessão desde os anos 30, iniciada em 1929. O atual governo, há um ano já no volante, no manche e no leme da economia brasileira, atribui aos anos Lula-Dilma a culpa da debacle. Apesar disso, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, comentou com parcimônia o índice apurado. Ressaltou que o Brasil já registrou crescimento econômico no primeiro trimestre deste ano, mas acrescentou que o País ainda vive os efeitos da recessão.

“O Brasil já voltou a crescer, mas estamos ainda vivendo os efeitos da recessão. O desemprego está elevadíssimo, deve crescer ainda um pouco, pois tem reação um pouco mais lenta a retomada, mas começa a cair no segundo semestre”, declarou o ministro Meirelles, ontem, à imprensa.

De fato, os dados ainda não mostram uma recuperação consistente. O comércio varejista, por exemplo, registrou em março a maior queda para o mês em 14 anos e, no primeiro trimestre, recuou 3%. A produção industrial, por sua vez, caiu 1,8% em março na comparação com fevereiro – foi o março mais fraco desde o início da série histórica, em 2002 –, embora tenha subido 0,6% no primeiro trimestre.

Para tentar reaquecer a economia, o governo Michel Temer tem anunciado medidas paliativas, como a liberação das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O Banco Central também vem reduzindo a taxa Selic, o que deve se traduzir em queda dos juros dos empréstimos bancários. Apesar da recuperação no primeiro trimestre, os dados do BC mostram que, somente em março, o nível de atividade registrou retração de 0,44% na comparação com fevereiro. Já no acumulado em 12 meses até março, ainda segundo a autoridade monetária, a prévia do PIB (indicador dessazonalizado) do Banco Central registrou contração de 2,78% (sem ajuste, a queda é de 2,63%).

Embora a metodologia de cálculo do IBC-Br seja bem diferente do PIB, o índice foi criado para tentar aproximar-se do índice do IBGE o mais possível. O índice do BC incorpora estimativas para a agropecuária, a indústria e o setor de serviços, além dos impostos.

Os resultados do IBC-Br, porém, nem sempre bate com os dados oficiais divulgados pelo IBGE. O Banco Central já informou anteriormente que o IBC-Br não seria uma medida do PIB, mesmo que tenha sido criado para tentar antecipar o resultado, mas apenas “um indicador útil” para o BC e para o setor privado. Recentemente, o BC atualizou a metodologia de cálculo, incorporando novos indicadores, com destaque para a utilização da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) em substituição à Pesquisa Mensal de Emprego (PME), além de outras mudanças.

O IBC-Br é uma das ferramentas usadas pelo BC na manipulação da taxa básica de juros (Selic). Com o menor crescimento da economia, teoricamente haveria menos pressão inflacionária. Atualmente, os juros básicos estão em 11,25% ao ano. Pelo sistema que vigora no Brasil, o BC precisa ajustar os juros para atingir as metas preestabelecidas de inflação. Quando os juros sobem, pessoas e empresas ficam menos dispostas a consumir, o que tende a fazer com que os preços baixem ou fiquem estáveis.

Para 2017, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Desse modo, o IPCA, considerado a inflação oficial do País e medida pelo IBGE, pode ficar entre 3% e 6%, sem que a meta seja formalmente descumprida.

Neste ano, o mercado financeiro e, também, a autoridade monetária acreditam que a inflação oficial ficará abaixo do centro da meta – algo que não acontece desde 2009.

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