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Abate da pecuária

  •  A cadeia produtiva da carne bovina no Brasil, afetada por preços baixos do gado, endividamento crescente, aumento na ociosidade e notícias como a delação da cúpula da JBS, levará ao menos um ano e meio para se reestruturar


O mercado do boi gordo nunca esteve tão ruim quanto agora. Com certeza, é o pior preço pago pela arroba no Brasil. A média recebida pelo pecuarista goiano é de R$117. É o que revela ao Diário da Manhã em tom dramático Edson Novais, coordenador do Departamento Técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg). Com mais de 20 anos como assessor na área econômica da Faeg, Edson confessa que “nunca vi nada igual”.

Segundo ele, em setembro do ano passado, a arroba do boi gordo estava cotada a R$136/140,00. Hoje, há praças no Estado pagando R$116,00 e percebendo no máximo R$119,00. Em janeiro, ainda prevaleceu um preço de R$134,00 pela arroba. A média é de R$117,00. No Pará, o produtor tem uma média de R$119,00. Outros Estados produtores, os preços pagos ao produtor alcança uma média melhor do que recebem os pecuaristas de Goiás.

Acompanhando passo a passo o quadro da pecuária brasileira e internacional, Edson Novais atribui os atuais embaraços inicialmente à Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal, por supostos problemas de ordem sanitária em alguns frigoríficos.

Mal refeito do choque brutal na comercialização e exportação das carnes brasileiras, Joesley Batista, um dos donos do JBS, faz uma série de denúncias contra o presidente Temer e novamente o mercado segue ladeira abaixo. O JBS entra crise e como, na prática, fez um cartel da carne no Brasil, os pecuaristas ficam à mercê de um mercado de incertezas. Recomendados a somente receber à vista, para não correrem maiores riscos, há um desequilíbrio.

O presidente da Faeg, José Mário Schreiner, com tamanho abacaxi nas mãos, tenta evitar que “a vaca vá unilateralmente para o brejo”, e procurou Marconi Perillo para tentar contribuir para salvar a pecuária goiana. O governador do Estado recomendou que José Mário procurasse a Secretaria da Fazenda para tentar reduzir, neste momento de crise, a pauta de comercialização do boi gordo. A Sefaz vê como proceder, entendendo que a pecuária goiana precisa se equilibrar e tornar-se gradualmente tão forte como sempre foi.

Movimento de queda

A Scot Consultoria, conceituada no mercado pecuário brasileiro, observa ao Diário da Manhã que “apesar da menor intensidade da pressão de baixa, o movimento de queda de preço do boi gordo ainda é observado em algumas praças”, inclusive Goiânia e outras cidades de Goiás.

E assinala: “ainda mais agora, segunda quinzena do mês, onde sazonalmente há uma menor procura por carne bovina, e a oferta de boiadas, mesmo não abundante, tem sido suficiente para atender a demanda, as indústrias não vêem a necessidade de ofertar preços melhores pela arroba do boi gordo”.

Porém, com as margens de comercialização das indústrias historicamente altas, os frigoríficos seguem com um bom poder de compra, caso tenham necessidade. E a Scot observa que na praça de Araçatuba (SP), apesar dos preços estáveis ontem, desde o início do mês o preço da arroba do boi caiu 2%, e está cotado a R$118,50, à vista, livre de Funrural. Em Goiânia, o boi gordo está cotado a R$118,00, à vista. A vaca gorda recebe oferta de R$109,5. Na região sul de Goiás, a cotação é de R$117,00.

No mercado atacadista da carne bovina, o boi casado de animais castrados está cotado em R$9,07 o quilo. Na comparação com o início do ano houve desvalorização de 9,4%.

Reestruturação demanda tempo 

A cadeia produtiva da carne bovina no Brasil, afetada por preços baixos do gado, endividamento crescente, aumento na ociosidade e notícias como a delação da cúpula da JBS, levará ao menos um ano e meio para se reestruturar, conforme avaliação da TCP Latam, companhia especializada em reestruturação de empresas.

A conclusão da TCP Latam foi obtida após pesquisa junto a pecuaristas, frigoríficos, transportadores, curtumes e fabricantes de insumos como ração e medicamentos, e dá uma ideia do período de dificuldades que coloca em xeque o setor líder na exportação global de carne bovina.

“A cadeia produtiva como um todo está desordenada, o setor está passando por um estresse, e o estresse vai ser mitigado nos próximos 18 meses, com um reordenamento da oferta e demanda... E nesse processo os frigoríficos médios e pequenos vão ter um papel importante”, disse à Reuters o diretor de Investimentos e Estudos Econômicos da TCP Latam, Ricardo Jacomassi.

No processo de reestruturação, no entanto, seria necessário um apoio governamental aos pequenos e médios frigoríficos que sofrem com custos elevados de capital de giro, disse o diretor da gestora de reestruturação de empresas, sem entrar em detalhes sobre qual instrumento o governo poderia utilizar no auxílio.

“Conversei com quase uma dezena de frigoríficos em Mato Grosso, eles não têm linha (de financiamento) e as linhas existentes estão muito caras.”

Enquanto a gigante JBS sofre as conseqüências de incertezas geradas pela delação de sua cúpula, que envolveu o presidente Michel Temer e importantes políticos —muitos pecuaristas têm evitado vender ao frigorífico—, por outro lado outras empresas grandes como Marfrig e Minerva podem se beneficiar de uma situação de preços mais baixos da arroba bovina.

As companhias de maior porte poderiam reabrir unidades que estavam fechadas, numa tentativa de preencher um vácuo deixado pela JBS, como já aconteceu com a Minerva. O estudo também citou impactos da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que investigou possíveis irregularidades no setor.

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