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Técnicos e ciclistas enxergam Goiânia ‘ciclável’ de forma diferente

Carlos Alberto de Miranda, analista em Obras e Urbanismo da Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (SMT), diz uma frase que costuma doer nos ouvidos de muitos ciclistas: Goiânia não foi pensada para os ciclistas. “Não foi nem para a quantidade de habitantes e veículos motorizados que possui, o que dirá para circulação de bikes”, diz o técnico.

Cético quanto ao uso da cidade pelos ciclistas nas avenidas comuns, ele afirma que é preciso efetivar mudanças na Capital: “Antes da utilização deste modal de transporte, precisamos disponibilizar espaço e educação no uso deste. Não é suficiente, em termos de segurança, apenas a pintura das vias”.

Tendo em vista as mortes de tantos ciclistas, cada vez mais comuns na Capital, ele sugere uso de “campanhas educativas e massivas a respeito dos direitos de uso do espaço destinado a todos os desejos de circulação”.

Para o analista da SMT, o corredor da Avenida T 7, quando totalmente​ pronto, será o melhor exemplo de disponibilidade de espaço para esse modal: “O mesmo poderá ser usado para trabalho e acesso às escolas e não apenas para lazer e esportes. Esperamos que a utilização deste corredor seja acompanhada de fiscalização e campanhas educativas”.

“As estruturas cicloviárias inauguradas na gestão municipal anterior não está recebendo a devida manutenção pela atual gestão. E não vamos nem pensar na expansão da atual malha cicloviária, conforme aponta estudos realizados Giussepe Arrastes, ciclista 

Os integrantes do Mantegas do Pedal discordam do analista da Prefeitura de Goiânia. Para eles, Goiânia é a cidade ideal para o ciclismo. “É uma cidade plana, com clima ameno e bastante arborizada. Isso favorece o uso da bicicleta. Dados apresentados pelo grupo responsável pela operação das bicicletas públicas compartilhadas em nossa capital mostram que a frequência do uso destas bikes superaram em 50% os índices alcançados em cidades como Buenos Aires, na Argentina, e em cidades dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo”, diz Giussepe Arrastes.

O grupo ressalta o relatório sobre mobilidade lançado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em 2013. Nele, entre 0,4% e 10% da população de Goiânia usa a bicicleta como principal meio de transporte. “Nas cidades de médio porte (como é o caso de Goiânia), o deslocamento médio diário de bicicleta estava entre 2 mil e 48 mil deslocamentos”, diz o ciclista.

Arrastes afirma que a cidade já tem 94,84 quilômetros de trechos cicloviários e que a tendência - se uma onda conservadora no trânsito não impedir - é de que ocorra um aumento exponencial de presença de ciclistas nas ruas na próxima década.  “Olhando esses poucos dados e suas fontes pode se dizer que Goiânia foi, sim, feita para ciclistas”, diz.

Arrastes, todavia, reconhece que Goiânia não está devidamente preparada para o uso da bicicleta como mais um modal de transporte, o que revela mais uma vez uma ofensa ao princípio democrático da mobilidade. “Apesar dos aparentes bons números, a malha cicloviária não é distribuída por todas as regiões, sendo mais presente na região central”.

Ele e os demais integrantes do grupo realizam apontamentos contundentes, como o fato das 15 estações das bicicletas compartilhadas implantadas em 2016, das 30 inicialmente previstas, apresentarem uma distribuição apenas central. “As estruturas cicloviárias inauguradas na gestão municipal anterior não está recebendo a devida manutenção pela atual gestão. E não vamos nem pensar na expansão da atual malha cicloviária, conforme aponta estudos realizados acerca dos trechos cicloviários em Goiânia extraídos do “Mapeando Rotas Cicláveis em Goiânia e Estrutura de Apoio ao Usuário da Bicicleta”, de 2015, escrito por Gabriela Silveira e colaboradores”.

Arrastes afirma que o olhar sobre a função do ciclista muda conforme o observador: “No mesmo documento de Gabriela, Matheus Mendes, na epígrafe de “Mapeando Rotas Cicláveis em Goiânia”, diz que Goiânia é uma cidade inteiramente ciclável, partindo do ponto de vista do ciclista. Menos ciclável na visão do motorista, mas ciclável, plenamente”.

PRIMEIRO PASSO

Também otimista com a experiência do ciclismo na cidade, Rafael Alves Borges, da Comissão de Transporte e Mobilidade da Ordem dos Advogados (OAB-GO), acredita que o primeiro passo já foi dado. “Há quatro anos, não podíamos falar de ciclovia, pois não tínhamos nada de malha viária direcionada ao ciclista. Apesar de estarmos distantes do ideal, pois o que temos é insuficiente para atender a quantidade de ciclistas na capital, podemos afirmar que evoluímos. E muito”, comemora.

A proposta apresentada pelas arquitetas e urbanistas Gabriela Silveira e Laís Rincon, além do geógrafo Ary Soares, revela um aprofundamento cívico e técnico dos ciclistas em tomar mais espaços da cidade para o exercício de mobilidade.  O primeiro passo, como disse Arrastes, foi a apresentação de uma mapa com rotas plenamente cicláveis, como que um alerta para os poderes públicos de que os ciclistas desejam a reforma e o compartilhamento dos territórios espalhados pela capital.

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