Desde que a contaminação provocada pelo HIV se tornou um caso de notificação obrigatória, em 2014, os números apenas sobem. Embora o crescimento registrado em 2016 seja de 4% em relação a 2015, de acordo com o Ministério da Saúde, a doença está em desaceleração, ao levar em conta que o salto de 2013 para 2014 foi de 56,2%. No entanto, o número de casos de Aids, mesmo a passos lentos, continua a cair, bem como o número de óbitos provocados pela doença.
Primeiramente, é preciso entender as diferenças entre ambos os termos, pois pode provocar confusão e desinformação, o que contribui ainda mais para o preconceito. O HIV é o vírus que provoca a doença, mas nem todo portador a desenvolve, com o parasita podendo se encontrar inativo no organismo do hospedeiro. Já a Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, significado da sigla em inglês) é a doença propriamente dita, provocada pela replicação do vírus, de natureza infecciosa. Em outras palavras, todo aidético é portador do HIV, mas nem todo portador do HIV é aidético.
Levando isso em consideração, o HIV é notificado no momento do teste, se positivo. A Aids é notificada se o indivíduo aparece no hospital com alguma doença oportunista (como câncer ou infecções) ou com a imunidade muito baixa; se, durante o tratamento dessas doenças, o paciente faz o teste de HIV e ele dá positivo, o caso é notificado como Aids.
Assim, quando considerado o número de casos de pessoas notificadas com Aids, houve redução de 5% em 2016, em relação a 2015, embora a queda não seja consistente em todos os grupos etários e a tendência seja de aumento entre os mais jovens. Nos homens, o número de casos cresceu entre jovens de até 29 anos, mas caiu na população de 30 a 59 anos. Nas mulheres, a Aids cresce entre aquelas que têm 15 e 19 anos de idade, mas apresenta queda entre 20 e 59 anos, para voltar a crescer entre as com mais de 60 anos.
“O aumento entre jovens homens gays é uma tendência. No caso das mulheres acima de 60 anos, muitas chegam ao hospital em uma fase tardia da doença, com a imunidade muito baixa. Provavelmente foram infectadas anos antes, quando tinham uma vida sexual mais ativa”, diz Jamal Suleiman, infectologista do Hospital Emílio Ribas, referência no tratamento da doença em São Paulo, em entrevista à BBC.
O número de casos de HIV aumentou ligeiramente entre crianças menores de 5 anos, após uma tendência de queda nos últimos dez anos. Em 2015, de cada 100 mil crianças, 2,3 nasceram com HIV. Em 2016, o número aumentou um pouco e passou para 2,4. Entre 2006 e 2016, entretanto, foi registrada queda de 34,5%. A taxa geral de mortalidade apresentou uma ligeira queda esse ano: de 5,3% em 2015, para 5,2% em 2016. “O problema nisso é o fato das pessoas testarem, saberem que têm HIV, mas não vão se tratar”, conclui Jamal.
HIV ENTRE CRIANÇAS
O relatório “Statistical Update on Children and AIDS 2017”, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), aponta que 18 crianças contraem o vírus a cada hora no mundo. De acordo com a instituição, se a tendência persistir, existirão 3,5 milhões de casos novos em 2030. Somente no ano passado, 55 mil adolescentes morreram de causas ligadas ao HIV, 91% desses viviam na África Subsaariana. Os dados do relatório também apontam que há disparidade entre os sexos, com sete meninas para cada cinco meninos da mesma idade estão infectadas com o vírus.
Os progressos, inegavelmente, existem, como melhoras na prevenção da doença, bem como da transmissão de mãe para filho. Para evitar maior disseminação da AIDS, a organização acredita que é necessário investir em inovações médicas, como teste auto diagnóstico de HIV e remédios pediátricos. Embora exista reconhecimento da exi s tência de progressos, a instituição ainda espera mais eficiência por parte dos governos. “Os progressos na prevenção e controle da doença na adolescência estão inaceitavelmente lentos. A persistência dessa lentidão significa brincar com a vida das crianças e condenar as gerações futuras a uma vida com HIV ou a AIDS. Devemos agir urgentemente”, reclama Chewe Luo, responsável pelo departamento de HIV na Unicef.
PREVENÇÃO
A partir deste mês, o governo brasileiro irá disponibilizar no Sistema Único de Saúde (SUS) a terapia PrEP, que, por meio de um comprimido por dia, previne a infecção pelo HIV. O remédio, que tem efeitos colaterais, será reservado para casos específicos dentre os considerados como grupos de vulnerabilidade, como profissionais do sexo, pessoas transexuais, casais sorodiferentes e homens que fazem sexo com homens.
PrEP é a sigla para profilaxia pré-exposição, que impede a multiplicação do vírus nas células de defesa do organismo caso haja a contaminação. O medicamento não tem qualquer efeito sobre outras infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis, gonorréia, HPV e hepatite B, entre outras doenças, além de também, claro, não prevenir a gravidez. “Por isso não substitui a camisinha. O preservativo continua sendo a principal estratégia de prevenção”, afirma Maria Clara Gianna, coordenadora-adjunta do Programa Estadual de DST/AIDS da Secretaria de Saúde de São Paulo, também em entrevista à BBC.
Goiânia não participará da primeira fase da oferta do medicamento, sendo Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Manaus, Brasília, Florianópolis, Salvador e Ribeirão Preto as cidades que receberão as primeiras remessas. De acordo com o Ministério da Saúde, o programa será gradativamente expandido para todo o país. Além do SUS, o PReP deve ser comercializado na rede privada.