O jovem de apenas 16 anos de idade terá a responsabilidade de representar os estudantes secundaristas do Brasil. Natural de Natal, ele teve a política presente na vida desde a infância através do incentivo dos pais.
O movimento secundarista no Brasil é responsável e protagonista na luta e resistência pelos direitos da população, em especial dos estudantes e trabalhadores brasileiros. A Ubes, que completou 70 anos, já participou de diversos movimentos de luta durante sua trajetória, como a redemocratização após o período civil militar, o movimento fora Collor, fora FHC e a luta pelas Diretas Já.
Durante o último dia do 72° Congresso da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, foi eleito o próximo presidente da entidade, Pedro Gorki, que terá a missão de levar os estudantes ao debate político e social.
Pedro Gorki é um jovem de 16 anos, da cidade de Natal no Rio Grande do Norte. Gorki iniciou nos movimentos sociais e de luta ainda muito cedo. “O exemplo veio de casa, o pai, os tios, o avô e eu como mãe fazemos parte dos movimentos sociais. Pedro sempre foi muito curioso, então desde criança ele quer aprender sobre tudo. Ele me acompanha há anos nos movimentos feministas, sindicalistas, e tem muito amor pela causa coletiva”, conta a mãe de Pedro, Carla Tatiane Azevedo.
Com o exemplo vindo de casa, não foi difícil para Gorki se apaixonar pelos movimentos de luta. Ele fez parte e fundou o grêmio estudantil no colégio em que estuda, o Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) da Cidade Alta. O menino grande pretende se formar em Direito, ele assumi o cargo de presidente da Ubes que pertencia a Camila Lane do Paraná.
ENTREVISTA
DM–Qual a importância histórica do movimento secundarista para o país?
Gorki–Ele é fundamental para pautar uma coisa que infelizmente não é debatido no âmbito político brasileiro que são os estudantes e as escolas. Os mais velhos costumam focar muitos nos problemas da sociedade como saúde, segurança, universidades. Mas se não for os movimentos secundaristas quem vai pautar a qualidade das escolas Brasileiras principalmente as escolas públicas. É fundamental para que o futuro do país, que está na lista educação, mas não podemos cair no erro de achar que os estudantes são apenas o futuro do país, somos o presente também.
DM–O jornalista Batista Custódio, editor do Diário da Manhã, diz que existe uma diferença crucial entre os estudantes secundaristas e os universitários. Ele acredita que os secundaristas conseguem fazer e provocar mais mudanças. E o motivo seria esse: os secundaristas ainda trazem a rebeldia da adolescência, ainda que estejam saindo ou fora dela. E os militantes universitários acabam mais adultos, próximos de valores profissionais. Tem sentido a reflexão? Os movimentos são diferentes?
Gorki–Eu concordo com certeza, até por que eu sou adolescente. A Ubes é uma rebeldia consequente e é assim por que é feita por jovens de todo o Brasil. Conseguimos reunir grande número de pessoas por todo o país e isso se deve ao fato da nossa idade, o sangue no olho de cada um aqui, a vontade que temos em mudar o mundo. Não que o universitário não tenha, mas vemos muito mais oportunidades de fazer isso. Há muito mais dificuldadea nas escolas públicas do que nas universidades, isso com certeza leva mais gente a rua dispostas a mudar o mundo e a educação como um todo
DM–Daqui para frente como será a posição dos secundaristas com relação às reformas educacionais de Michel Temer?
Gorki–Queremos fazer uma gestão que consiga chegar em cada estudante. Eunpor exemplo, sou de um estado que não está no eixo da política brasileira. Então eu sei qual é a dificuldade em chegar até essas salas de aulas mais distantes e comover essa galera, mas eu tenho certeza que se você perguntar a qualquer sala de aula nesse país, não terá um que irá levantar a mão para dizer que está feliz com a educação do jeito que está. Queremos chegar em cada vez mais estudantes, chamar para uma discussão, para um protestozpara que ocupem seus lugares de fala e seu lugar na política. Por que o próximo presidente da Ubes ou o próximo presidente do Brasil pode Ester sentado em uma carteira da escola só esperando a gente chegar para um debate, um protesto, para que ele saiba que também tem outros secundaristas e outras pessoas que estão preocupados com a educação brasileira. Vamos mostrar para o governo de Michel Temer que não defendemos a reforma do ensino médio que foi feita por ele, e por seus aliados que nunca passaram por uma escola pública na vida e não tem noção da realidade do povo brasileiro. Só pode existir essa reformulação se for feita pelas mãos do povo brasileiro, pela mãos dos estudantes, professores, pedagogos e todos aqueles que, de fato, vivem essa realidade das escolas. Somos contra o golpe e qualquer retrocesso no ensino médio.
DM–Você esteve presente na política desde muito novo, como você se vê dentro do meio político?
Gorki–Não tenho né palavras, a política é fundamental na minha vida, e não a política partidária, mas a política que fazemos no dia a dia,como quando um estudante reclama que o ar condicionado está quebrado, quando o aluno reclama que não há democracia na escola ou um diretor ausente. O que eu quero mostrar para os secundaristas é que a gente pode mudar o mundo, não importa a idade, condição social.
DM–Os líderes secundaristas do passado tornaram-se políticos tradicionais, caso de Iris, Henrique Meirelles, Pedro Wilson. Vocês não correm o risco de repetir o passado?
Gorki–Eu não sou contra, de forma alguma, que a gente ocupe os espaços de poder, muito pelo contrário, temos que cada vez mais buscar esse espaço. Nosso jovens hoje tem que chegar no congresso, ser contra as reformas trabalhistas, a reforma da previdência. Mas a questão da política tradicional eu acredito que seja questão de caráter, graças a Deus eu tenho meus pais que são grandes orientadores e eu tenho certeza que isso não vai acontecer comigo.
DM–Existe espaço para a direita no movimento secundarista?
Gorki–Com certeza, a Ubes é um movimento democrático e há movimentos de direita dentro da Ubes, infelizmente eles não se organizaram para estar aqui hoje, mas eles fizeram suas movimentações, inclusive elegeram seus delegados para estarem aqui votando hoje. A escola brasileira é muito plural, muito plural, temos os jovens aqui que apoiam e o Lula, que apoiam o Ciro Gomes, que apoiam o Bolsonaro, há espaço para todos, aqui é um lugar para discussão. O congresso da Ubes é o reflexo dessa pluralidade, tanto que você pode ver diversas bandeiras de diversos movimentos aqui.
DM–Quais serão as pautas da chapa 3,a chapa eleita?
Gorki–Podemos resumir nossa chapa em duas palavras: resistência, resistência ao golpe, pela educação pública, contra as reformas do ensino médio que não condiz com a realidade, contra a lei da mordaça. E esperança, esperança num dia melhor, num mundo melhor e na própria juventude. Nossas pautas serão grandes jornadas de lutas, principalmente agora em março que foi o mês em que o estudante secundarista Edson Luís, que foi morto por ser contra a ditadura militar. Vamos ocupar as ruas, as praças e nosso local de luta, vamos descomemorar a morte dele e comemorar a vida de luta dele.
DM–Então as ocupações nas escolas em 2018 tendem a continuar?
Gorki–Vamos lutar cada vez mais, lutar pelo ensino médio, público e de qualidade, também vamos lutar cada vez mais pelo ensino técnico, eu sou estudante de uma escola técnica, então essa é uma pauta importante pra mim. A gestão passada sofreu um golpe no meio da gestão, a presidenta que foi legitimamente eleita foi tirada do poder. Nossa gestão será moldada durante o tempo e sim, com certeza as ocupações continuam se assim forem necessárias.