“Não há motivo para pânico”, afirmou o superintendente Newton Castilho, da Superintendência Executiva de Administração Penitenciária de Goiás (Seap), sobre os 99 presos que continuam foragidos após a rebelião que deixou nove mortos, dois deles decapitados, e 14 feridos no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia no dia primeiro de janeiro deste ano.
Até o fechamento desta edição, sete dos 14 feridos continuavam internados no Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia (Huapa) e no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), um deles em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Cento e cinquenta e três presos tiveram que ser transferidos para outros presídios.
Conforme a Seap, 242 presos fugiram após a rebelião, mas 143 já foram recapturados. Durante o motim, um número ainda maior de condenados deixou o complexo prisional. Muitos deles, no entanto, permaneceram próximo ao local e retornaram voluntariamente, após o Grupo de Operações Penitenciárias Especiais (Gope) retomar o controle da situação com apoio do Batalhão de Choque da Polícia Militar. “Eles preferiram sair da unidade por uma questão de sobrevivência; não com o intuito de fugir”, disse o superintendente Castilho durante a coletiva de imprensa de ontem.
RIVALIDADE ENTRE GRUPOS
“Não foi este o fator motivador (da rebelião). No domingo, todo o sistema foi abastecido com a água de três caminhões-pipa. No dia 1º, devido ao feriado, não houve abastecimento, mas ainda havia água (nas caixas)”, disse Castilho, apontando que uma hipótese para os presos da Ala C invadirem as alas A, B e D e atacarem outros detentos pode ter sido a rivalidade entre diferentes grupos criminosos.
Negando que os presos fossem vítimas de maus-tratos, Castilho garantiu que, ao contrário do informado por alguns parentes de presos, não faltaram água e comida para os detentos durante o fim de semana.
De acordo com superintendente, duas pistolas 9mm, um revólver 38 e objetos perfurocortantes foram encontrados durante uma primeira varredura no interior da unidade. O superintendente também confirmou que os presos abriram um buraco em uma das paredes do prédio, que terá que ser reformada, já que as chamas danificaram bastante a estrutura.
Ele admitiu que a facilidade com que os presos conseguiram danificar o muro indica a precariedade do complexo prisional. “A estrutura não oferece a segurança adequada em termos de concreto e ferragens para impedir a ação dos presos. É uma estrutura frágil, na qual um buraco pode ser aberto rapidamente”, declarou Castilho.
FALTA DE ESTRUTURA
Conforme Castilho no momento da confusão havia uma superlotação do presídio, que tem capacidade para 530 internos, mas abrigava 768 bloqueados, ou seja, aqueles que estão no semiaberto, mas não saem porque não têm trabalho efetivo. Na hora da rebelião havia apenas cinco agentes penitenciários no local. As normas orientam um agente para cada cinco presos. Agora parte da Colônia Agroindustrial está interditada porque ficou destruída durante o motim e deve passar por reforma.
BARBÁRIE
“Foi uma situação lamentável, muitas mortes cruéis. Muitos corpos foram carbonizados, dois tiveram a cabeça decepada e alguns deles tiveram as vísceras expostas. Os foragidos, na realidade, a maioria foi das alas que foram atacadas. Acredito que muitos estavam fugindo do ataque mesmo. Foi uma situação bastante grave. Duas alas ficaram praticamente destruídas”, afirmou o delegado Eduardo Rodovalho, responsável por investigar a rebelião.
CONVOCAÇÃO DE CONCURSO
Depois da rebelião, o superintendente Newton Castilho conversou com o governador Marconi Perillo sobre a aceleração da construção de cinco novos presídios e a convocação de 1,6 mil agentes penitenciários aprovados em concurso. “Essa convocação já estava adiantada e independe do ocorrido ontem”, finalizou.
SANTA HELENA
No dia primeiro de janeiro deste ano duas rebeliões aconteceram em presídios de Goiás. Além de Aparecida de Goiânia, o município de Santa Helena também sofreu com motim Os presos renderam, na madrugada um vigilante penitenciário temporário e iniciaram uma rebelião com o objetivo de agredir detentos rivais da Unidade Prisional. A Superintendência Executiva Penitenciária informou o funcionário foi liberado sem ferimentos após 1h30 de negociação e nove internos ficaram feridos, mas sem gravidade..
Cármen Lúcia pede relatório sobre condições de presídio de Goiás
A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Cármen Lúcia, determinou ontem que o Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) envie ao conselho, em 48 horas, relatório com informações sobre as condições do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO). Uma rebelião na unidade após confrontos de grupos rivais no primeiro dia de janeiro deste ano terminou com nove mortes e 99 fugas.
“Requisito ainda os dados da inspeção realizada antes desta agora determinada, com informações sobre a data e os órgãos e respectivos titulares que tenham comparecido ao estabelecimento prisional”, diz Cármen Lúcia no ofício.
De acordo com a Superintendência Executiva de Administração Penitenciária de Goiás, os presos da Colônia Agroindustrial, do regime semiaberto, que estavam na ala C do complexo prisional, invadiram as alas A, B e D, o que resultou no confronto e nas mortes. De acordo com órgão estadual, a situação no momento está controlada e os detentos feridos receberam atendimento médico e já retornaram para a unidade.