O Banco Central reuniu-se, ontem, em Belém, capital do Pará, dentro da programação anual de suas reuniões regionais. A região Centro-Oeste, onde engloba o Estado de Goiás, mereceu atenção. Segundo o Boletim Regional, com dados e indicadores econômicos de cada região do País, se Goiás apresentou contração no comércio, com ênfase no segmento de vendas de veículos, observou-se sinais positivos no agronegócio. O quarto trimestre apresentou o melhor resultado do ano, refletindo aumento mais acentuado das exportações, impulsionadas pelas vendas de milho, soja, carne de bovinos e algodão.
A atividade econômica no Centro-Oeste arrefeceu no trimestre encerrado em novembro, refletindo o fim da colheita da safra de inverno de milho. Sob o impacto da agricultura, o IBCR-CO recuou 0,9% no período, frente ao crescimento de 1,9% no trimestre finalizado em agosto, segundo dados dessazonalizados. Por outro lado, ressaltam-se os desempenhos positivos da indústria de transformação, do comércio varejista e de boa parte do setor de serviços, indicando que o processo de recuperação da economia alcança conjunto maior de atividades.
O consumo na região evoluiu no trimestre em ritmo semelhante ao observado no país, com destaque para a expansão no Mato Grosso (especialmente no segmento de veículos), alavancado pelos resultados financeiros apurados com a safra agrícola recorde. Por outro lado, houve contração no comércio ampliado apurado em Goiás e no Distrito Federal, com quedas mais relevantes também no segmento de veículos. Os dados dessazonalizados da PMC, do IBGE, indicam aumento de 0,9% do comércio ampliado na Região, no trimestre encerrado em novembro, comparativamente ao trimestre anterior.
MERCADO DE TRABALHO MELHORA
O aumento da demanda também se refletiu nos dados do setor de serviços, com expansão de 1,5% no trimestre finalizado em novembro, ante o trimestre anterior, conforme dados dessazonalizados da PMS, do IBGE, com destaque para os resultados do Distrito Federal.
Os indicadores do mercado de trabalho continuam apresentando melhora. Em que pese a eliminação de 17 mil postos de trabalho no trimestre encerrado em novembro (-39,8 mil em 2016), refletindo a característica sazonal do período, principalmente nos segmentos de indústria, agropecuária, e construção, o resultado de janeiro a novembro (criação de 53,2 mil novos postos) é o melhor para o período desde 2014.
A evolução trimestral dessazonalizada mostra geração líquida de empregos desde julho, interrompendo os resultados negativos registrados desde dezembro de 2014. O número de ocupados na Região cresceu 4% no terceiro trimestre de 2017, relativamente ao mesmo trimestre de 2016, com expansão de 293 mil trabalhadores ocupados, resultando na redução da taxa de desocupação de 10,0% para 9,7%, segundo a PNAD Contínua, do IBGE. A massa de rendimento real aumentou 5,3% no mesmo período, em cenário de inflação benigna.
Segundo o Boletim, o crédito no Centro-Oeste continua evoluindo, com aumento no ritmo de expansão decorrente do desempenho mais favorável nos financiamentos às famílias, enquanto ainda se observa retração no volume de empréstimos às empresas. O saldo total das operações superiores a R$1 mil evoluiu do crescimento interanual de 2,6%, observado em agosto, para 3,0% em novembro.
A expansão da carteira de pessoas físicas passou de 6,6% para 7,4%, destacando-se os financiamentos de veículos, em processo de retomada do setor, e o crédito rural. A redução no saldo de empréstimos para o segmento de pessoas jurídicas passou de 3,1% para 3,5% nos períodos assinalados, ressaltando-se as amortizações do setor de energia no âmbito do crédito direcionado.
FINANCIAMENTOS DE CONSTRUTORAS
A inadimplência no crédito às pessoas jurídicas voltou a subir, passando de 3,1%, em agosto, para 3,8% em novembro, refletindo novos atrasos em financiamentos de construtoras. Nas operações com pessoas físicas, a inadimplência retraiu 0,2 pontos percentuais no período, situando-se em 3,0%.
Em relação ao comércio exterior da Região, observou-se no quarto trimestre o melhor resultado do ano, refletindo aumento mais acentuado das exportações, impulsionadas pelas vendas de milho, soja, carne de bovinos e algodão.
O saldo comercial da balança comercial totalizou US$ 18,4 bilhões em 2017, aumentando 21,8% em relação a 2016, com exportações crescendo 17,2%, refletindo principalmente os maiores embarques de soja, milho, carne de bovinos, e farelo de soja. O aumento das importações alcançou 8,0% em 2017, ressaltando-se as compras de bens de capital, sobretudo de máquinas e aparelhos para fabricação de pasta de celulose e papel, e de matérias-primas, em especial ureia, adubos e fertilizantes.
ÂMBITO FISCAL
No âmbito fiscal observou-se estabilidade no desempenho das contas públicas, com reduções no pagamento de juros sobre a dívida e no resultado primário. O superavit primário do setor público acumulado em doze meses recuou de R$1,5 bilhão em dezembro de 2016, para R$428 milhões em novembro de 2017, enquanto o deficit nominal permaneceu estável, em torno de R$1,85 bilhão, com deterioração nos resultados de Goiás e do Distrito Federal, ao mesmo tempo que Mato Grosso do Sul e Mato Grosso registraram melhora – ambos alcançando superavit nominal. A dívida pública da região atingiu R$34,8 bilhões em novembro, recuando 0,7% em relação a dezembro de 2016. Em termos reais, ante igual período do ano anterior, a receita com ICMS aumentou 5,2% enquanto as transferências da União cresceram 18,3% nos doze meses até outubro de 2017.
PRODUÇÃO INDUSTRIAL
A produção industrial do Centro-Oeste aumentou 1,7% no trimestre encerrado em novembro, em relação ao trimestre encerrado em agosto, quando havia expandido 3,3%, considerando dados dessazonalizados do agregado de Goiás e Mato Grosso, únicos estados da Região pesquisados pela PIM-PF do IBGE. A indústria de transformação apresentou variação positiva de 1,9% no período, influenciada pelo desempenho dos setores de metalurgia, fabricação de veículos, farmacêutica e de biocombustíveis.
Com a safra de grãos recorde na Região e a disseminação da retomada da atividade econômica, a confiança dos empresários aumentou no quarto trimestre. O Icei do Centro-Oeste, divulgado pela CNI, atingiu 59,1 pontos em dezembro, ante 56,6 pontos em setembro, com evolução positiva tanto no componente de expectativa quanto no de condições atuais.
SAFRA RECORDE
A produção de grãos no Centro-Oeste, após registrar safra recorde em 2017, quando atingiu 106 milhões de toneladas e expansão de 41,0% no ano, deverá recuar 8,1% em 2018, com quedas mais acentuadas na produção de milho, soja e feijão, de acordo com informações do terceiro prognóstico do IBGE.
No segmento pecuário, apesar das oscilações na demanda e nos preços ao longo ano, os abates de bovinos cresceram 5,9% no acumulado do ano até novembro, impulsionados pelas exportações, que aumentaram 21,1% no período. No que se refere aos abates de aves, observou-se recuo de 5,5% e nos de suínos, elevação de 10,4%, segundo o Sistema de Inspeção Federal do Mapa.
A variação do IPCA na Região – agregação dos indicadores de Brasília, Goiânia e Campo Grande – atingiu 2,09% no último trimestre de 2017, comparativamente a 0,57% no terceiro. As maiores variações ocorreram nos segmentos de preços monitorados (energia elétrica residencial e gasolina), e de alimentação no domicílio (tubérculos, raízes e legumes e carnes). Esse comportamento refletiu no índice de difusão que atingiu 51,0% no quarto trimestre (49,4% no trimestre anterior).
Em 2017, o IPCA da Região variou 3,45% (5,83% em 2016). Os preços livres variaram 1,37%, enquanto os monitorados variaram 10,30%. As maiores pressões ocorreram pelos preços de gás de botijão, gasolina, energia elétrica residencial e ônibus urbano. A inflação de serviços desacelerou de 6,58% para 4,56% e a de serviços subjacentes, de 5,92% para 3,85%.
Em que pese a redução da atividade econômica decorrente da entressafra agrícola, há que se destacar a ampliação do processo de recuperação econômica para um número maior de atividades econômicas, com destaque para segmentos industriais que apresentaram quedas acentuadas nos últimos anos, assim como a melhora nos indicadores do mercado de trabalho, principalmente o de população ocupada. Para 2018, espera-se que a contribuição menor da agricultura seja compensada pela recuperação mais acentuada da indústria e dos serviços, conclui o documento