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O perfil do desempregado brasileiro

Ainda que o cenário de reces­são econômica pareça ca­minhar para um fim, com a maioria dos indicadores mostran­do melhora, o número de brasileiros à espera de uma oportunidade de emprego ainda é alto e acumulava 12,3 milhões de pessoas ao final de 2017. A pesquisa “O desemprego e a busca por recolocação profissio­nal no Brasil”, realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em to­das as capitais mostra que o tempo médio de desemprego já chega a 14 meses entre os entrevistados, maior do que o observado em 2016, quan­do girava em torno de 12 meses.

O estudo mostra o seguinte per­fil dos desempregados: 59% são do sexo feminino, com média de ida­de de 34 anos; 54% têm até o ensi­no médio completo, 95% perten­cem às classes C/D/E e 58% têm filhos, a maioria menor de idade. Entre os que já tiveram um empre­go antes, 34% atuavam no segmen­to de serviços, enquanto 33% no se­tor de comércio e 14% na indústria. A média de permanência no último emprego foi de aproximadamente dois anos e nove meses.

No último emprego, 40% dos de­sempregados possuíam carteira as­sinada, 14% eram informais e 11% autônomos ou profissionais liberais. Já 8% dos desempregados atuais es­tão buscando a primeira oportu­nidade profissional. “Tudo aponta para um cenário de recuperação no mercado de trabalho, mas este ain­da é um movimento tímido e que, no momento, permanece concen­trado na informalidade, o que impli­ca em contratações sem carteira as­sinada e atividades feitas por conta própria”, avalia o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro.

“As pessoas sabem que não po­dem ficar esperando em casa pelo reaquecimento do mercado e por isso buscam por alternativas de so­brevivência. Porém, informalidade também implica em fragilidade. O trabalhador que atua nessas condi­ções não tem proteção e está sujei­to às variações do mercado. Por isso, é importante informar-se e buscar a formalização”, indica o presidente. De acordo com Pellizzaro, uma ati­vidade feita por conta própria pode, por exemplo, encaixar-se na moda­lidade MEI – microempreendedor individual. “Com ela é possível ter CNPJ, emitir nota fiscal e contribuir para a aposentadoria, dentre outras possibilidades”.

Segundo o levantamento, dentre aqueles que já tiveram algum em­prego antes, 67% já haviam ficado desempregados anteriormente e 32% nunca haviam passado por esta situação. Mais da metade (57%) co­nhecem alguma outra pessoa que também está desempregada ou que teve de fechar sua empresa nos últi­mos três meses.

Em 56% dos casos, os entrevista­dos afirmam terem sido desligados da empresa, mas outros 17% garan­tem ter pedido demissão e 14% ale­gam que foi feito um acordo.

Dentre os que foram demiti­dos, a maioria alega causas exter­nas, principalmente ligadas à crise econômica, como redução de cus­tos por parte da empresa para lidar com os efeitos da crise (35%), redu­ção da mão de obra ociosa (12%) e o fechamento da empresa (11%). Levando em conta apenas os que pediram demissão, a principal ra­zão apontada foi algum problema de saúde (15%), seguido da insatis­fação com o salário (13%) e do de­sejo de poder dedicar mais tempo à família (11%).

Perguntados sobre o tipo de oportunidade desejada pelos de­sempregados, 46% preferem os pos­tos com carteira assinada, enquanto 29% mencionam qualquer vaga, in­dependente do formato. A pesqui­sa do SPC Brasil e da CNDL mostra que seis em cada dez desemprega­dos (61%) estão dispostos a ganhar menos do que recebiam no último emprego – uma queda em relação ao ano passado (68%).

As principais justificativas nestes casos são que o que importa atual­mente é voltar ao mercado de tra­balho (23%) e arrumar um empre­go para pagar as despesas (22%). Por outro lado, 39% não estão dispos­tos a receber menos, sendo a razão mais citada o fato de encararem o salário menor como regressão pro­fissional (19%), seguido da possibili­dade de ser difícil voltar ao patamar salarial que possuía antes (13%).

O levantamento revela que, con­siderando aqueles que têm sido chamados para entrevistas desde que estão desempregados (40%), 56% chegaram a recusar alguma proposta, sendo que 18% o fizeram porque a remuneração ou benefí­cios eram insuficientes, enquanto 13% alegam que o local era muito distante de casa.

Entre os desempregados, 66% estão procurando emprego, sendo que a média do tempo de procura por empregos é de quase 10 meses. Outros 25% estão recorrendo a fon­tes alternativas de renda enquan­to não encontram emprego e 9% estão esperando por algo, porque procuraram uma oportunidade de trabalho por muito tempo sem su­cesso. A grande maioria (78%) sen­te que tem condições de conseguir um emprego, sendo que os princi­pais motivos são ter uma boa expe­riência profissional (40%), preen­cher cadastro em sites de empregos (27%) e ler com frequência jornais e sites de empregos em busca de va­gas (27%).

De acordo com o levantamento, cerca de 25% dos desempregados afirmam estar em busca de capa­citação profissional para conseguir oportunidades melhores e 53% es­tão confiantes de que vão conseguir uma oportunidade nos próximos três meses. A expectativa média de que consigam um emprego é de pouco mais de quatro meses.

Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, con­seguir um novo emprego é mais que recolocar a vida profissional nos trilhos, “é ter a chance de re­cuperar hábitos cotidianos, po­der adquirir produtos e serviços e desfrutar de pequenas comodi­dades – coisas das quais muitos brasileiros, em maior ou menor grau, tiveram de abrir mão nos últimos tempos em virtude das dificuldades financeiras”.

As principais prioridades após conseguir um emprego serão vol­tar a consumir produtos que gosta como roupas, sapatos, eletrônicos (51%), retornar ao padrão de com­pra no supermercado que tinham antes (47%) e voltar a realizar ativi­dades de lazer como saída a bares e restaurantes (46%).

Os dados mostram também que os desempregados estão di­vididos quanto o futuro do de­semprego no Brasil em 2018: 31% acreditam que o desemprego irá aumentar, 31% que irá continuar igual e 24% que irá diminuir.

“Ainda que a recuperação da economia já esteja em curso, o fu­turo permanece incerto para mi­lhões de brasileiros que aguardam nova oportunidade de trabalho, seja para retomar suas carreiras, seja simplesmente para pagar as contas e voltar a consumir, reas­sumindo, aos poucos, o padrão de vida que tinham antes do de­semprego”, analisa a economista.

Além de investigar o perfil e o comportamento dos desempre­gados na busca por uma recoloca­ção, a pesquisa analisou o impacto do desemprego no contexto fami­liar. Para isso, algumas pergun­tas foram focadas nos desempre­gados que não moram sozinhos: 34% deles garantem que há pelo menos mais uma pessoa sem tra­balho na casa onde vivem.

Cerca de 87% desses desem­pregados ouvidos contribuíam fi­nanceiramente para as despesas da casa quando tinham um em­prego, sendo que 41% eram ou ainda são os principais respon­sáveis e 29% não eram o princi­pal responsável, mas continuam a ajudar de alguma forma.

Por consequência do desem­prego, 28% tiveram algum confli­to familiar, sendo que os princi­pais motivos foram a discordância quanto aos gastos da casa (13%) e brigas por causa da divisão do pa­gamento das contas (12%).

Já 34% garantem que o desem­prego motivou outras pessoas da casa, que antes não trabalhavam, a trabalhar ou fazer bicos. Em casos mais agravantes, 16% destes en­trevistados afirmaram que após a perda do emprego algum integran­te da família precisou interromper os estudos para trabalhar e ajudar nas despesas de casa.

41% dos desempregados estão dispostos a ganhar menos que no último emprego

53%  estão confiantes em conseguir emprego nos próximos 3 meses

61%  dos desempregados que possuem família são os principais responsáveis pelo sustento da casa; 28% tiveram algum conflito familiar

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