- Apesar dos radicais livres serem importantes para a saúde, em determinadas situações prejudicam organismo e desencadeiam o envelhecimento celular
A fórmula da juventude pode estar longe, bem mais longe do que pensavam os alquimistas do século 12, mas existem medidas contra os chamados radicais livres (responsáveis por deteriorar as células) que são eficazes. E tais ações podem configurar como importantes aliados no antienvelhecimento. Apesar de grande parte dos cremes, terapias e dietas serem meras especulações, existe cada vez mais conhecimento acumulado sobre a ação dos antioxidantes.
Esta preocupação com os radicais livres tem aumentado nos centros de pesquisa as investigações sobre como combatê-los. Os estudos ocorrem no âmbito nutricional, biomédico, veterinário, bioquímico e biológico.
“O que se sabe até aqui é que existem substâncias com maiores condições de combater os radicais livres. E práticas que aumentam a circulação deles no organismo”, elucida o biólogo Marcelo Lima Ferreira, da Universidade Federal de Goiás (UFG).
O tema dos radicais livres é inserido dentro da bioquímica. Eles surgem quando as células do corpo passam pelo processo de combustão por oxigênio em busca de energia. Em nosso organismo, radicais livres são produzidos pelas células e moléculas.
Biologicamente, explica Marcelo Lima, o radical livre é uma “molécula independente e que contém ao menos um elétron desemparelhado”. A questão está na base da química: como existem elétrons soltos, eles podem agir como oxidantes ou redutores. Não existe um só radical livre. Mas vários. Dois deles são particularmente mais perigosos para o organismo, a hidroxila (OH_) e o superóxido (O2•-).
A questão mais grave é o dano causadonascamadaslipídicasdasmembranas celulares. Tal fato causa a lesão notecidoepodemodificaromaterial genético(DNA). Édaquiquesurgem as mutações que acabam por interferir no estado de saúde da pessoa.
Os estudos dos radicais livres estãoavançadosnasuniversidadesbrasileiras. Uma das abordagens diz respeito da procura por alimentos que possam agir como antioxidantes.
No ano passado, Monik Maryelle Moreira da Silva, do Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos, da Universidade Federal de Goiás (UFG), se concentrou nos estudos da cagaita, fruta nativa do Cerrado, que pode ter ação benéfica à saúde diante da possibilidade de combater radicais livres.
O estudo inicial diz respeito às composições químicas do fruto. A pesquisa analisou físico e quimicamente, incluindo os compostos bioativos, o desenvolvimento fisiológico do fruto.
Outra pesquisa realizada na mesma universidade, de Patrícia de Almeida Gonçalves, procurou conhecer a ação citotóxica e antioxidante da beta lapachona (BLAP) em células endoteliais (célula achatada que recobre o interior dos vasos sanguíneos). O estudo faz parte do campo da medicina veterinária.
DamesmaformaqueMonik, Patrícia estuda um produto do cerrado goiano: a beta lapachona é uma substância obtida através da serragem da madeira do ipê, o conhecido símbolo do Cerrado goiano.
Apesar de indícios desta propriedade antiradicais livres, durante a pesquisa de Patrícia não foi “possível constatar o efeito antioxidante da BLAP sob as condições desse experimento”.
A pesquisadora, contudo, reconhece diversas funções da beta lapachona (BLAP). “Ela é uma substância com atividade antineoplásica natural, pois induz a morte das células de câncer por meio de apoptose, necrose e autofagia. É um composto com potencial para tratamento de neoplasias, porque tem ação seletiva não citotóxica em células normais e possivelmente irá causar poucos efeitos colaterais”.
Também no âmbito da UFG, Gilmara Aparecida Fortes fez importante tese a respeito do Eucalyptus microcorys F. Muell, espécie de eucalipto cultivado em Goiás. O estudo realizado no Instituto de Química revelou que o eucalipto estudado é uma importante substância no combate aos radicais livres. “A atividade antioxidante dos compostos isolados foi determinada através de dois métodos in vitro, o sequestro de radicais livres (DPPH) e a capacidade de absorção do radical oxigênio (ORAC)”, escreve na tese.
NEM SEMPRE É RUIM
A relação com radicais livres nem sempre deve ser de ódio. Na verdade, muitas atividades produzem radicais livres e eles têm função no corpo. A grande questão é saber identificá-los. A mídia costuma mostrá-lo apenas como algo maléfico – o que é um dos erros científicos mais graves da imprensa.
Em uma guinada científica, muitos pesquisadores já conseguiram mostrar o que um radical livre traz de bom em seu acoplamento junto a outras moléculas. Conforme esse grupo, a ausência deles é danosa para a saúde. Deficiências de alguns radicais específicos podem desencadear o surgimento de doenças granulomatosas (principalmente pulmonares). Sem os radicais, o paciente passa a conviver com infecções cada vez mais graves. E um dos motivos seria a ausência do radical livre necessário para combater os microrganismos que invadem o corpo.
A educadora física Janaína Gontijo explica ao DM que tem aumentado na educação física a busca por conhecimento da ação dos radicais livres durante a prática de exercícios.
Ela informa que a prática produz radicais livres. E saber dosar essa rotina é fundamental para que não se desequilibre o estado de saúde: “A produção de radicais livres em práticas esportivas moderadas é importante, pois melhora a resposta antioxidante da musculatura estriada esquelética. Acaba que os efeitos benéficos são maiores, como ocorre no caso da osteoporose. Muito do que se vê é mito, mas no tocante ao exercício é algo sério. Você não pode deixar de fazer e não pode extrapolar a ponto de derramar radicais livres em seu organismo”.
Para Marcelo Lima, a questão é complexa para o leigo entender, já que existe uma “dualidade de reações”. Ou seja, mais do que outas correntes, os estudos de radicais livres tem caminhado para resultados aparentemente divergente .
O que são os radicais livres
Radicais livres são espécies químicas que possuem um ou mais elétrons não pareados em seu orbital mais externo, Eles são altamente instáveis e apresentam vida curta, apesar de serem quimicamente reativos.
ESPÉCIES
Os radicais são gerados constantemente em organismos aeróbicos. Eles utilizam o oxigênio na produção de energia e estão envolvidos em vários processos fisiológicos. Podem ser produzidos em resposta a diferentes estímulos externos, caso da exposição à luz ultravioleta, raios-X e raios gama, tabagismo, poluição, medicamentos e pesticidas.
ESTRESSE OXIDATIVO
Quando ocorre a produção descontrolada de radicais livres e o organismo não apresenta defesa suficiente acontece o estresse oxidativo–processoenvolvidonodesenvolvimentodeváriasdoenças, caso docâncer, maldeAlzheimer, doença de Parkinson, glaucoma, aterosclerose, diabetes, degeneração macular relacionada com a idade.
A DEFESA
É possível adotar mecanismos de defesa antioxidante e assim eliminar ou reduzir a ação de radicais livres. Os compostos fenólicos têm a capacidade de inibir os danos provocados no organismo pelo estresse oxidativo. Ele atuam através da transferência de um elétron, o que torna estável o radical livre. Conforme pesquisadora da UFG, os taninos (uvas, chocolate amargo, vinho, chá, romã, açaí, cravo, canela, etc) “são mais capazesdeinibiraaçãoderadicais livres do que as vitaminas C e E”.
AVALIAÇÃO
A avaliação destas propriedades caracteriza um dos grandes desafios da ciência. Existe na atualidade um crescente aumento no interesse por plantas medicinais como possíveis potenciais terapêuticos. Já foi contatado que diversos elagitaninos apresentam propriedades antitumorais. O extrato de romã, rico em elagitaninos, inibiu seletivamente o crescimento de tumores de mama, próstata, cólon e cancro, dos pulmões. Os elagitaninos também são capazes de inibir a replicação de alguns vírus, como o vírus da imunodeficiência humana (HIV). Existem relatos de que elagitaninos são capazes de inibir o crescimento de bactérias e fungos, caso da Escherichia coli, Candida albicans, Crypotococcus e Helicobacter pylori .