Uma operação, que reúne vários órgãos da prefeitura e do Estado, está sendo executada nos terminais do Eixo Anhanguera para “restabelecer a ordem”. Novo Mundo, Padre Pelágio e Praça da Bíblia já foram alvos do procedimento, que partiu do gabinete de gestão integrada da Prefeitura de Goiânia, reativado no ano passado pelo prefeito Iris Rezende (MDB). A operação, que não possui um nome definido, tem entre os principais objetivos “retirar ambulantes e fiscalizar permissionários”. A ação conjunta é composta pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), Polícia Militar (PM), Guarda Civil Metropolitana (GCM), Procon, Vigilância Sanitária, Secretaria Municipal de Trânsito (SMT), entre outros.
Na última segunda-feira (12), os vendedores ambulantes que ocupavam a plataforma do Eixo Anhanguera fecharam o terminal Praça da Bíblia. As duas vias ficaram interditadas por cerca de 30 minutos, enquanto os manifestantes reivindicavam diálogo com a prefeitura, após serem retirados do local, pela Polícia Militar, na última semana. “(Essa situação) já tem quatro anos e só agora o Estado, com o aparato policial, resolve ser o salvador da pátria. Por que eles não chamaram para dialogar antes?” questiona o vendedor ambulante Guilherme Luz Carneiro, de 31 anos. Um novo protesto, organizado pelos camelôs, está previsto para esta quarta-feira, às 17h, na Praça Cívica, no Setor Central.
Desde o mês passado, outra operação nos terminais de ônibus da capital já está em curso: a Operação Embarque Seguro, que fixa viaturas nos terminais para “garantir a lei e a ordem”, conforme afirmado pelo chefe de policiamento da PM, coronel Ricardo Mendes. A operação conjunta nos terminais atua em paralelo com a Operação Embarque Seguro, “que fornece apoio para a fiscalização dos permissionários, retirada dos ambulantes, organização das filas e limpeza dos terminais”, afirma o gerente de articulação institucional da Secretaria de Segurança Pública (SSP), Madison Ribeiro.
Na última semana, a retirada dos ambulantes do Terminal Praça da Bíblia gerou confusão e deixou feridos. “Eles chegam com truculência para tirar a gente, ameaçam nos levar preso e jogam spray de pimenta”, relata Luz Carneiro. A empresa terceirizada responsável pela gestão dos terminais, RedMob Consórcio, disse que não tem controle sobre as ações que estão sendo executadas nos terminais e que o objetivo é retirar os vendedores ambulantes de todos os terminais porque eles não têm autorização para vender produtos nesses locais, o que “acaba prejudicando as bancas que são fixas”.
Na última quinta-feira, 8, durante as ações da operação, o Procon autuou 11 comércios fixos, seis no Terminal Novo Mundo e cinco no Padre Pelágio, que repassavam produtos impróprios para uso e consumo, tais como refrigerantes, água, suco, e salgados com data de validade vencida, sem rótulo ou mal armazenados. Segundo Ribeiro, a operação funciona em escala alternativa, com previsão para atuação em qualquer dos terminais do Eixo Anhanguera, de Senador Canedo até Trindade e Inhumas, como um “elemento surpresa”.
Durante a operação no Padre Pelágio, a PM informou que foram feitas abordagens de fugitivos no terminal. A corporação diz ainda que criminosos se passam por vendedores ambulantes para receptar produtos roubados. Guilherme Luz, que perdeu o cargo de gerente de uma rede de fast food há dois anos, atualmente vende fones de ouvido e carregador para celulares. “A maioria dos ambulantes é pai e mãe de família. Tem pessoa que está passando fome porque já tem 10 dias que não pode trabalhar”, disse Luz. Após as remoções, os vendedores ambulantes reivindicam um espaço para trabalhar.
DESEMPREGO
O número de pessoas que trabalham por conta própria ou em vagas sem carteira assinada superou o daqueles que têm um emprego formal pela primeira vez em 2017. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de desemprego encerrou 2017 em 11,8%, com 12,3 milhões de pessoas desocupadas. Além disso, 11,1 milhões estão em trabalho sem carteira assinada e outros 23,1 milhões estão ocupados por conta própria, que é o caso dos vendedores ambulantes. O número de pessoas em regime de CLT é de 33,2 milhões de trabalhadores.
O camelô Isack Borges da Silva, de 19 anos, que é casado e tem um filho recém-nascido, começou a comercializar capas para celulares depois de perder o emprego como pintor de automóveis. “Preciso sustentar minha família. Esse é o único meio que encontrei de gerar renda”, explica o jovem, que trabalha por conta própria há 6 meses. Para Borges da Silva, a maioria dos ambulantes estão no local devido à concorrência do mercado de trabalho e exigência de qualificação. “Muitas pessoas não tem estudo, falta opção de serviço, a gente que não tem graduação acaba vindo pra cá”.
Maria do Socorro era empregada doméstica quando descobriu um problema grave de saúde que afetou seu coração. Socorro diz que não consegue pagar todas as contas com a renda de comerciante. “Minha filha trabalha em uma padaria e ajuda no orçamento de casa. Meu esposo conseguiu um bico de dois meses em Cuiabá”.
Proprietária de uma banca no Terminal, Silene Bernardes de Aquino, de 50 anos, atua no local há 12 anos e diz que é difícil concorrer com os baixos preços oferecidos pelos ambulantes. “O movimento caiu 60% depois que o pessoal (camelôs) chegou. Eles vendem as coisas quase de graça porque não pagam imposto”, diz Silene. Apesar das 11 autuações do Procon, a comerciante diz que os produtos das bancas fixas possuem controle de qualidade.