- Atrasos são pontuais, mas o dinheiro que gastaria com a meia passagem faria muita falta, afirma estudante. Total de investimentos no programa ultrapassa R$ 104.000.000. Anualmente, cada beneficiado recebe, em média, mais de R$ 1.700 em créditos
Criado em 2013 pelo governador Marconi Perillo, o Passe Livre Estudantil (PLE) se tornou um dos maiores programas de mobilidade gratuita do Brasil. Presente apenas no Distrito Federal e em Pernambuco, o benefício alcança a marca de 245.834 cadastrados, desde o início de vigência. Com atrasos considerados “pontuais” por estudantes – jamais foram maiores do que 5 dias – para a recarga das carteirinhas, o PLE ajuda a fechar as contas pessoais no final do mês dos beneficiados. É o caso de Anthony de Oliveira, que cursa Ciência da Computação na Unip Alto da Glória. Morador do Setor Conde dos Arcos, é beneficiado pelo Passe Livre desde o ensino médio. Se tivesse de arcar com a meia passagem, afirma, gastaria mais de R$ 80 mensais para o deslocamento. “Teria dificuldade para estudar”, revela. Ele classificou os atrasos no repasse como “pontuais”, mas que não maculam a importância do programa.
Opinião parecida tem a moradora da Vila Pedroso, Yolanda Souza, estudante de Ciências Contábeis na faculdade Universo, no Setor Sul. Em uma conta rápida, ela constatou que gastaria quase R$ 900 por ano, não fosse a ajuda do Passe Livre. “É um dinheiro que eu posso utilizar para despesas pessoais”, contabiliza.
A estudante Raíssa Ribeiro estuda Direito na Faculdade Cambury, no Setor Sol Nascente. Moradora do Parque Santa Rita, a universitária afirma o Passe Livre é essencial para fechar as contas no fim do mês no azul. “Com o que economizo não pagando o ônibus, posso investir em outras coisas, como lazer e alimentação”, informa Raíssa, que paga R$ 864 de mensalidade na Cambury.
Mais de 77 mil beneficiados na Grande Goiânia
Números contabilizados em 2018 pela Secretaria de Governo (Segov), gestora do programa, o Passe Livre Estudantil beneficia cerca de 77 mil estudantes na Grande Goiânia. Em média, terão recebido até o fim do ano R$ 1,7 mil em créditos. De acordo com a Segov, somados os alunos que já passaram pelo PLE, desde 2003, são 245.834 usuários, que receberam neste período R$ 104.958.000 do governo de Goiás.
Todo mês, a Superintendência de Juventude (Sujuv) da Segov destina aos alunos matriculados no ensino regular 48 viagens gratuitas, ao custo unitário de R$ 192 para cada um dos estudantes cadastrados.
Significa dizer que, a cada ano letivo, os estudantes e suas famílias economizam em média R$ 1.730 (quase dois salários mínimos), com o transporte coletivo para estudar. Desde sua implantação, em agosto de 2013, o Governo de Goiás já investiu R$ 159 milhões no Passe Livre Estudantil. Desde 2017 o poder público estadual custeia sozinho a integralidade da passagem aos estudantes.
A abrangência e relevância desse investimento do Governo de Goiás em educação fazem do Passe Livre Estudantil um dos programas sociais mais importantes do Estado. Uma referencia no Brasil, pois investe no futuro das novas gerações, dando ao jovem o poder de emancipação e de mobilidade social que só o ensino e o conhecimento é capaz de proporcionar.
- Índice de reclamações é menor que 2%
O sucesso do Passe Livre, para além de sua importância social, é inegável. A taxa de reclamações é de menos de 2% do universo de beneficiados. A Sujuv, no entanto, considera alto o índice e tem aperfeiçoado as ferramentas de atendimento, de resposta e de solução das queixas, em especial nos meios de mais fácil acesso ao estudante, as redes sociais. Na página do órgão no Fabebook (https://www.facebook.com/superintendencia.juventude) o tempo de resposta é de 30 minutos. Há ainda os telefones da Sujuv, (62) 32015612 e (62) 3201-5639, onde a equipe está capacitada para dirimir qualquer dúvida.
- Recarga
Hoje a maior queixa do Passe Livre é sobre o prazo de recarga e está relacionado ao desconhecimento pelo usuário dos critérios de concessão dos benefícios. O reabastecimento acontece a todo décimo dia útil do mês, e não no dia 10, o que acaba gerando alguma confusão. Para saber o dia em que os créditos vão cair, basta ao estudante excluir sábados, domingos e feriados e contar os próximos de 10 dias de semana.
A definição do décimo dia útil para a recarga dos cartões foi estabelecido na lei que criou o Passe Livre observando o fluxo de caixa do Tesouro Estadual. O programa tem orçamento anual de mais de R$ 100 milhões, um investimento direto do Governo de Goiás que tem, além do Passe Livre, uma infinidade de obrigações financeiras a cumprir.
A lei também instituiu mecanismos de controle rigorosos de modo a preservar o princípio do programa, que é garantir unicamente o transporte gratuito do estudante de casa para a escola e da escola para casa. Assim sendo, a cada recarga o cartão será reabastecido até o limite de 48 viagens (para que o estudante possa se deslocar de segunda a sábado).
- Probidade
É preciso que o cidadão compreenda que trata-se de dinheiro público envolvido. E muito! O gestor (no caso a Sujuv) tem a obrigação de zelar pela eficiência e pela moralidade dos investimentos dos recursos, que são oriundos dos impostos pagos pela população.
É vedado ao estudante, por exemplo, utilizar o Passe Livre para outra finalidade que não estudar. Há fiscalizações constantes para aferir se o aluno está utilizando seu cartão na linha de transporte coletivo que o leva de casa à escola. Caso fique constatado que utilizou em horários e roteiros incomuns, ele é chamado a se explicar, correndo o risco de perder o benefício por má utilização.
Ao fim do ano letivo os recursos do cartão são bloqueados e o dinheiro que sobrou volta para os cofres do Estado.
- Tratamento especial aos estudantes da UFG
Por conta do calendário atípico de aulas da Universidade Federal de Goiás (UFG) e dos cursos de férias promovidos pela universidade, a Secretaria de Governo tem tratado os alunos beneficiados de maneira especial. Mesmo após a data final do cadastro no PLE para o semestre, foi aberta aos alunos de mestrado e doutorado da universidade a possibilidade de entrar no sistema.
De acordo com a Segov, ficou comprovado que problemas referentes a alguns alunos da universidade não foram de responsabilidade da secretaria e sim da própria UFG, que não realizou o cadastramento da instituição no sistema de bilhetagem, o que impossibilitou de os estudantes da universidade realizarem o cadastramento no Passe Livre Estudantil.
De acordo com comunicado da própria UFG, o atraso no cadastramento da faculdade foi decorrência da mudança da Reitoria. O cadastro, segundo a Segov, não envolve a pessoa do Reitor, como foi exposto por alguns alunos. Quem realiza este cadastro é a Pró Reitoria de Assuntos Estudantis.
De acordo com o apurado pela reportagem, o cadastro da UFG, no ano de 2017, foi realizado no dia 09 de janeiro, ou seja, antes do início do período de cadastramento dos alunos e, neste ano de 2018, o cadastro só foi realizado no dia 18 de janeiro, depois do início do cadastramento. Não tendo sido feito o cadastro, a UFG não informou que havia estudantes fora do calendário oficial. O calendário oficial da UFG está definido pela Resolução Cepec nº 1554/UFG, e informa o início das aulas apenas em março. A UFG protocolou o pedido relativo aos alunos em Curso de Verão em 15 de janeiro de 2018, tendo o pedido analisado e sido autorizado já no dia 02 de fevereiro de 2018.
Ainda conforme a Segov, outro benefício realizado para os estudantes da UFG foi atender um pedido feito pela instituição de prorrogação do cadastro para os alunos da universidade, em decorrência do calendário acadêmico. “Foi autorizado, assim como todas as petições feitas pela universidade”, afirma a Secretaria.
Entrevista
Em entrevista ao DM, o superintendente da Juventude de Goiás, Leonardo Felipe, defendeu a importância do programa. Afirmou que a Sujuv trabalha diuturnamente para melhorar a eficácia dos pagamentos e do atendimento ao público para que o Passe Livre Estudantil continue a cumprir o objetivo de manter os estudantes. “O índice de evasão escolar nas universidades era crescente antes do PLE”, alegou.
De acordo com levantamento feito esta semana pela Sujuv, afirma Leonardo, há famílias com até cinco beneficiados pelo Passe Livre. Segundo Felipe, existem 534 famílias com três estudantes que fazem parte do programa. “Para estas famílias com três beneficiados, o programa terá destinado mais de R$ 6 mil em créditos, ao final do ano”, alegou. “É um dinheiro que poderá ser utilizado com outras despesas familiares”.
De acordo com ele, as sugestões feitas ano passado pela Promotora Maria Bernardete, titular da 42ª Promotoria do MP-GO, foram “importantes e foram acatadas”. Confira os principais trechos:
Diário da Manhã–Como tem sido o relacionamento com o MP-GO no sentido de melhorar o PLE?
Leonardo Felipe – A única recomendação (Recomendação nº 004/2017), relativa ao Programa veio da Promotora Maria Bernardete, em novembro de 2017. Na ocasião, ela fez diversas recomendações relativas à política de tarifas, em especial ao PLE. No dia 09 de fevereiro deste ano, foi realizada reunião com o Centro de Apoio Operacional da Educação do Ministério Público, com a Promotora Dra Liana Antunes, onde todas as dúvidas foram sanadas e a Secretaria acordou diversos compromissos, entre eles o envio de ofícios encaminhados ao Conselho Estadual de Educação e às secretarias municipais de Educação da Região Metropolitana de Goiânia, contendo solicitação no sentido de que noticiem à Secretaria de Governo o calendário do ano letivo de 2019 e dos anos subsequentes, assim que forem definidos, para antecipação do calendário de cadastro e pagamento em 2019. Solicitaram também envio de ofícios à Secretaria de Estado da Fazenda e à Secretaria de Gestão e Planejamento, solicitando que, a partir de 2019, seja autorizada a realização de pagamento no mês de janeiro, em decorrência do início do ano letivo.
Importante frisar que nossa taxa de resposta no Facebook, que é a ferramenta mais rápida de contato dos estudantes, é de até duas horas.
DM – Foi recomendada a implantação de um call center...
LF – Sim. Outra providência imediata para melhorar a qualidade do atendimento é a contratação de uma central de call center, que ficará com a atribuição de realizar este contato direto com os alunos. A previsão é que até o fim do primeiro semestre essa central de atendimento esteja funcionando.
DM – A imprensa recebeu nota da Segov esta semana falando sobre a implantação de um sistema para evitar fraudes. Como funciona?
LF – O governo de Goiás não implantou mecanismos de combate a fraudes apenas agora. Apenas ampliou a utilização com a checagem de falecidos. A verificação de pessoas falecidas parte da consulta à base de dados gerenciada pelo governo federal, e que possibilita a checagem mensal de verificação se a pessoa deve ser bloqueada, evitando assim a utilização do cartão por terceiros. Desde 2013, ano da criação do Passe Livre, o estado de Goiás utiliza toda a estrutura do sistema de transportes, visando a identificação de fatos que evidenciem a probabilidade de existência de não conformidades na utilização Passe livre Estudantil, através da abertura de processo administrativo nos casos detectados, visando apurar e julgar a pertinência dos fatos levantados,evidenciando ou não a existência de uma não conformidade real na utilização do benefício. Entre os mecanismos utilizados, está o compartilhamento, mensalmente, de dados relativos a frequência dos estudantes, para identificar casos de pessoas que não sejam estudantes utilizando o benefício. Este controle é efetivado pelo cruzamento dos dados constantes do arquivo recebido de cada escola cadastrada com os dados lançados no cadastro. Todas as instituições de ensino devem estar devidamente cadastradas, informando o nome e qualificação da pessoa responsável pelo repasse de dados. Essa pessoa fica responsável cível e penalmente pelas informações repassadas. Da mesma forma, o Setransp repassa à Secretaria de Governo, através da Superintendência da Juventude, relatórios sobre o programa de visitas às instituições de ensino e Centros de Reabilitação da Região Metropolitana de Goiânia, para estabelecer as principais atividades de visitação a serem realizadas ao longo do ano, sendo ajustado mensalmente a eventuais contingências.
DM – De que maneira a Segov consegue saber se o estudante utilizou a carteirinha para outros fins?
LF–Outro controle é a verificação de compatibilidade entre as linhas que atendem as instituições de ensino, em comparação com a utilização dos estudantes. Existe o cruzamento de dados para verificar os usuários que utilizam o subsídio do Passe Livre Estudantil em outras linhas de ônibus que não atendam a sua escola. É verificado quais os estudantes que, dentro de um período de 30 dias passados utilizaram, em mais de 50% dos dias de utilização, linhas de ônibus diferentes daquelas que atendem a sua escola.