- Longe da restauração e de uma recuperação. Assim é, hoje, o centro da Capital. Prédios abandonados.Points históricos degradados
- Como o velho Bosque dos Buritis, o Lago das Rosas, o tradicional Teatro Inacabado, a antiga Estação Ferroviária, a Praça Tamandaré
- Transportes públicos ineficientes. Com monopólio da exploração dos serviços pelas mesmas empresas. Sem metrô. No século 21
Goiânia está na UTI. Longe da restauração e da revitalização. Assim é, hoje, o centro da Capital. Prédios abandonados. Points históricos degradados. Como o Bosque dos Buritis, o Lago das Rosas, o Teatro Inacabado, a antiga Estação Ferroviária, a Praça Tamandaré. Temperados com as ameaças de crises hídricas. Como em 2017. O alto índice de veículos por habitante. Média que pode atingir um por pessoa. Até o ano de 2020. Transportes públicos ineficientes. Com monopólio da exploração dos serviços pelas mesmas empresas. Sem metrô. No século 21.
Ocupação desenfreada do espaço urbano. Mais: especulação imobiliária. Além da voracidade para a reprodução ampliada do capital. Destruição dos mitos do Plano Original de 1935. Formulado pelo arquiteto e urbanista Attilio Corrêa Lima, da art déco. Mudança do conceito de cidade mais horizontal para um crescimento vertical. Abandono do conceito de município verde e sustentável. Com parques lineares e praças. Uma relação maior do que atualmente de habitantes por hectares de área verde. O cenário é desolador. Essa é a Goiânia com 80 anos.
O centro da Capital do Estado de Goiás é uma imagem da alteração brusca da paisagem urbanística. A implantação do Plano Diretor original da cidade planejada de Goiânia, em 1935, pelo arquiteto e urbanista Attilio Corrêa Lima, baseou-se nos paradigmas urbanísticos da escola francesa. O Instituto de Urbanismo da Universidade de Paris – IUUP e das experiências arquitetônicas modernistas aprendidas com o russo Berthold Lubtekin, na França. É o que informa ao Diário da Manhã a arquiteta, urbanista e escritora ‘cult’ Anamaria Diniz Batista.
Pesquisadora e professora no Curso de Arquitetura e Urbanismo e do Mestrado em História da PUC – Goiás, ela relata ainda que o que se pode observar é que Goiânia, nos seus primeiros anos, apesar de alterações significativas, tanto nos planos urbanísticos quanto na arquitetura, a paisagem urbana e a qualidade arquitetônica na nova capital eram de melhor qualidade. Pela relação da escala dos edifícios, das áreas livres, os parques verdes e da mobilidade. Existia uma relação das pessoas com os espaços urbanos, uma suposta ‘caminhabilidade’, define-a:
- Os encontros nos espaços públicos, às ocupações das praças e das calçadas.
Imagens do passado e do Tempo Presente mostram alterações na paisagem urbana. A paisagem urbana passou por diferentes mudanças, revela. Primeiro: não respeitaram o plano original de 1935. A ideia inicial estabelecia o conceito
de uma idade mais horizontal. Preto no branco: com edifícios até seis pavimentos. Segundo: parques lineares e praças. Com uma relação muito maior do que atualmente de habitantes por hectares de área verde. Além do mito da cidade art déco, existe também o mito criado ‘da cidade verde e sustentável’, observa.
- Goiânia perdeu áreas verdes, a paisagem urbana foi tomada por ‘torres de Dubai’. Por modelos importados. A paisagem urbana reflete o ‘mercado imobiliário’.
A ocupação desenfreada do espaço urbano, os interesses especulativos e a falta de uso de ferramentas básicas do urbanismo, uma delas e a mais importante, o índice de densidade, a quantidade de habitantes por hectare explicariam o caos, hoje. Bairros como o Setor Marista estão sendo arrasados, literalmente, denuncia Anamaria Diniz. Ruas que eram ocupadas por habitações unifamiliares, com uma ocupação “x” de moradores, foram ocupadas por edifícios em altura e aumentando a população de áreas à uma ocupação de centenas de pessoas, diz.
- Com a utilização das mesmas infraestruturas, a mesma caixa de rua, ao mesmo sistema de água e esgoto. Sem respeito a memória e à história.
O coração de uma cidade é seu centro pioneiro e histórico, conceitua a doutora pela Universidade de Brasília – UnB – em Arquitetura e Urbanismo e Pesquisadora IUP/ UPEC – Paris. No caso de Goiânia, estamos na UTI [Unidade de Terapia Intensiva], ataca. O centro há anos está abandonado, fuzila. Em um grave processo de decadência, atira. De demolições de edifícios arquitetonicamente relevantes, sublinha, em um tom raro de indignação e histórico.
A verticalização acelerada das cidades brasileiras é uma das consequências da especulação do mercado imobiliário, metralha. Do capital estrangeiro investido em empresas nacionais na construção civil e do domínio técnico das engenharias, observa Anamaria Diniz Batista. Não custa lembrar: o papel do capital na especulação imobiliária é explorar os recursos naturais, além de profissionais e técnicos. Para obter o maior proveito sobre esses recursos. Registro: tendo como resultado os lucros financeiros estratosféricos. Basta ver os balanços financeiros.
- O público e o privado podem fazer parcerias na criação e implantação de parques que atendam às diversas camadas da sociedade, equipamentos de lazer e cultura em áreas de fácil acesso.
As saídas poderiam ser a ampliação radical de investimentos públicos e privados nos transportes urbanos, com soluções criativas e integradas, assim como o compartilhamento de veículos. As ciclovias seriam eficazes dentro de um planejamento integrado de transportes, explica. Já os corredores exclusivos estariam, em Goiânia, capital do Estado de Goiás, implantados de forma equivocada, pontua. Eles deveriam ser instalados nas faixas centrais, sublinha. Não nas faixas à direita, onde os veículos individuais tem sua conversão, afirma ela.
- O que cria conflitos no trânsito.
CENÁRIO URBANO
Membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo [CAU], diretor da Carrijo & Carrijo Arquitetura Ltda, Manoel Alves Carrijo Filho lembra, porém, que Goiânia é uma cidade recente no cenário urbano nacional. Com concepção modernista. Ela teve o seu desenvolvimento impulsionado pela chegada da Estrada de Ferro e pela construção de Brasília. Com o tempo e o crescimento acelerado, perdeu sua identidade, avalia. A mudança na paisagem arquitetônica ocorreu com o crescimento da população, imigração, demanda por moradias e novos bairros.
- Novas vias e novas formas de produtos para esse mercado em constante expansão.
A pressão pela crescente ocupação gera significativos transtornos, insiste o arquiteto. O planejamento e fiscalização seriam as ferramentas mais eficazes para ordenar o espaço urbano, sublinha. Múltiplos planos foram implantados ao longo do desenvolvimento de Goiânia, alerta. Processo natural na dinâmica do desenvolvimento urbano, aponta. Com pressões dos mais diferentes interesses, dispara. A população não valoriza seus patrimônios como deveria, desabafa. É comum o abandono e a depredação por vandalismo, lamenta.
- O centro histórico da capital agoniza. Tanto as construções públicas quanto as privadas.
A verticalização de Goiânia, projetada em 20% do município, hoje, é decorrente do desejo de ocupação de uma região mais cobiçada por sua privilegiada localização no espaço urbano, afirma Manoel Alves Carrijo Filho. O capital é um vetor de impulsão do desenvolvimento e o interesse dos seus agentes pode desenvolver uma região ou destruí-la, analisa. As aspirações da população e sua cultura de consumo atraem o apetite voraz dos empreendedores, diz. Os agentes públicos devem definir as politicas públicas urbanas para regular esse mercado, frisa.
- O poder público deve priorizar o transporte coletivo, para que o transporte individual motorizado seja gradualmente substituído. A arborização é fundamental no nosso clima.
RESTRIÇÕES
O trânsito nas metrópoles somente terá solução com transporte coletivo eficiente, capaz de concorrer com o transporte individual, diz. Assim como ações possíveis para restringir o trânsito de veículos particulares nos centros das cidades, propõe. O uso de bicicleta e o estímulo à caminhada são medidas corretas, inclusive do ponto de vista de saúde pública, crê. As ciclovias constituem apenas uma parte da solução, destaca. Já os corredores exclusivos seriam o primeiro passo para um modelo de transporte coletivo capaz de rivalizar com o carro.
- Eles deveriam ser completados com áreas de estacionamento ao lado dos terminais, veículos confortáveis e climatizados, estações seguras.
RAIO X
Nome completo: Anamaria Diniz Batista
Formação: Arquiteta e Urbanista; Doutora pela Universidade de Brasília – UnB em Arquitetura e Urbanismo/ Pesquisadora IUP/UPEC – Paris; Pesquisadora e professora no Curso de Arquitetura e Urbanismo e do Mestrado em História da PUC Goiás;Tese publicada: O itinerário pioneiro do urbanista Attilio Corrêa Lima – Paco Editorial, Jundiaí – 2017;Dissertação – domínio público: Goiânia de Attilio Corrêa Lima (1932-1935) – o ideal estético e realidade política. UnB, 2007.
PERFIL
Nome completo: Manoel Alves Carrijo Filho
Formação: Arquiteto e Urbanista
Registro: Membro do Conselho de Arquitetura e Urbanista [CAU] e Diretor Carrijo & Carrijo Arquitetura Ltda
Destruição dos mitos do Plano Original de 1935. Formulado pelo arquiteto e urbanista Attilio Corrêa Lima, da art déco Anamaria Diniz Batista O centro histórico da capital agoniza. Tanto as construções públicas quanto as privadas Manoel Alves Carrijo Filho