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O asfalto que dá prejuízo

Foram quatro dias percor­rendo Goiânia e conferindo o asfalto de ruas e avenidas que, segundo a população, são muito ruins. A equipe de reda­ção do jornal Diário da Manhã esteve nos setores Crimeia Les­te, Nova Vila, Jardim Diamantina, Jardim Balneário Meia Ponte, Vila Itatiaia, Residencial Antônio Bar­bosa, Shangri-lá, Pedro Ludovico, Parque Amazônia e Sul.

Em todos os lugares os morado­res afirmavam que o asfalto era um dos problemas históricos do bairro. “Eu moro aqui no Crimeia Leste há 30 anos e passa ano e entra ano e não vejo mudança nessa avenida”, contou o comerciante Ronaldo Pe­reira, 42 anos, se referindo à Avenida Desembargador Emílio Francisco Póvoa. Buracos, desníveis, racha­duras, remendos e a falta de sina­lização são características do lugar.

Segundo o comerciante, é co­mum ver motoristas que passam na avenida e não freiam para os quebra-molas devido a falta de si­nalização. Ele também reclamou das águas empoçadas no perío­do chuvoso que se transformam em armadilhas para os motoristas.

A pavimentação asfáltica das re­giões norte e noroeste da cidade teve destaque. A Avenida En­genheiro Fuad Rassi, no Setor Nova Vila, é uma das desaprovadas pelos moradores de Goiânia. Conforme a estudante Maria Souza, 25 anos, só quem precisa andar pelo local sabe o quanto os remendos dos buracos inco­modam moto­ristas, passageiros e ciclistas.

Ainda nas regiões norte e no­roeste, o asfalto da Vila Itatiaia é desconfortável para muitos, em es­pecial, as ruas do Câmpus Samam­baia da Universidade Federal de Goiás (UFG). O diretor da Secreta­ria de Infraestrutura da UFG, Marco Antônio, reconhece que as ruas ex­ternas da universidade são usadas não apenas por estudantes, pro­fessores e servidores, mas também por moradores das redondezas.

“Só que o anel viário em tor­no do Câmpus, onde o asfalto está realmente precário, não per­tence à UFG. No decorrer dos anos estamos solicitando à prefeitura um recapeamento, mas não fomos atendidos”, disse Marco Antônio.

PREJUÍZOS

Já a Avenida Nerópolis, do Jar­dim Balneário Meia Ponte, é sinô­nimo de dor de cabeça para a advo­gada Lorenne Alessandra Nazareno, 27 anos. Segundo ela, no período de seis meses já foram gastos mais de R$1.500 com o carro por causa da qualidade do asfalto.

“Suspensão, roda, peças, mão de obra, dias sem carro, tudo isso eu já passei por causa dessas ruas e avenidas de Goiânia”, lamentou a jovem. Ela percorre a Avenida Nerópolis com frequência, mas acredita que não seja apenas lá o problema. “Para mim a manuten­ção que é oferecida na capital é um desperdício, porque é urgente uma manutenção com recapeamento na cidade toda”, desabafou.

OUTROS SETORES

A Avenida 86, do Setor Sul, tam­bém entrou na seleção feita pelo DM. Para quem desce a Praça do Cruzeiro sentido Cepal, enfrenta desníveis, rachaduras e remendos. A Avenida Perimetral, no Jardim Diamantina, também é notória a má qualidade do asfalto.

A Secretaria Municipal de In­fraestrutura e Serviços Públicos (Seinfra) da Prefeitura de Goiânia, até o fechamento desta edição, foi procurada por meio de telefone e e-mail, mas não retornou para po­der dar o seu posicionamento.

O QUE DIZ ESPECIALISTA

Em entrevista a revista Época, o professor da Universidade de Brasí­lia (UnB) Dickran Berberian acredi­ta que os buracos são um atestado de negligência. “Começa assim: se o asfalto deformar mais que o limite calculado, se produz uma trinca, é o primeiro câncer. Na primeira chu­va, a água desce pela trinca. Ela en­fraquece a estrutura que é de solo. Na próxima chuva, já se cria defor­mação. Na chuva seguinte, a água já entra pelas trincas e laterais não protegidas. No próximo ano, aque­la deformação vira panela. E na pró­xima, cratera. E dá-lhe tapa buraco, réplica do tapa buraco e tréplica do tapa buraco. Falta a manutenção do nosso asfalto. Pode-se fazer um paralelo com dor de dente: tratou a cárie no começo não tem dor, não toma tempo, não fica caro e não perde o dente”, disse.

Ele afirmou que todo asfalto tem que ser liso, não podendo ha­ver sinal de emenda entre uma fai­xa e outra. Para o professor, há uma questão cultural, em que os fiscais e executores acham que o padrão de emendar o asfalto é suficiente.

Goiânia sem asfalto

Os moradores do Residencial Antônio Barbosa, Shangri-lá, Pe­dro Ludovico e Parque Amazônia ainda convivem com as estradas de chão na porta de casa. A re­portagem do DM esteve nestes setores e, segundo os moradores dos Residencial Antônio Barbo­sa e Shangri-lá, só há pavimen­tação asfáltica na linha do trans­porte coletivo.

“Eu moro já tem seis anos aqui no Shangri-lá e a gente tem que conviver com isso. Na época de chuva é lama, na época da seca é pó. Sem contar os buracos e a fal­ta de calçadas. Como um mora­dor vai construir calçada em um lugar que não tem asfalto?”, ques­tionou a assistente de operações Divonete Cosmo, 39 anos.

Já o morador Manoel Rodri­gues, 75 anos, do Setor Pedro Lu­dovico, aguarda há 41 anos para que o asfalto passe em frente a sua casa. Ele mora em um trecho da Avenida Luiz do Couto que não é asfaltado. “Toda vez eles dizem que vão cuidar disso aqui, mas ninguém sabe a data certa. Estamos esperando”, declarou.

O vizinho de muro de Manoel até improvisou um cimentado na porta da garagem dele para conse­guir ter acesso à casa com o auto­móvel. “Esse aí acabou ajudando os vizinhos tudo, porque até andar de carro aqui era difícil”, afirmou.

Na Avenida Antônio Fidelis, do Parque Amazônia, é a mes­ma situação. Um trecho da ave­nida não é asfaltado. Mesmo com buracos e pedras, os motoristas, motociclistas e pedestres trafe­gam pela via.

BURACO NA RUA PODE GERAR INDENIZAÇÃO

Motoristas e motociclistas que tiveram prejuízos com os buracos podem entrar com ação na Justiça contra o poder público para obter o ressarcimento. Para isso é necessário reunir provas e testemunhas.

1) Registrar boletim de ocorrência;

2) Reunir provas: fotos do buraco, do acidente e do veículo;

3) Conseguir testemunhas;

4) Realizar no mínimo três orçamentos do conserto do veículo;

5) Juntar recibos com gastos relativos a medicamento e atendimento médico (se for o caso)

O dever da administração pública de indenizar o cidadão decorre da constatação de que o poder público poderia e tinha o dever de agir, mas foi omisso, e dessa omissão resultou o dano.

O QUE ASFALTO RUIM E CAIR EM BURACOS PROVOCA NO SEU CARRO:

  • perda do balanceamento da roda afetada;
  • empeno nas rodas e, em caso de rodas de liga leve e magnésio, até mesmo a fratura desta;
  • quebra do pivô, que é o parafuso mais importante entre a ligação da balança e roda;
  • estouro de amortecedor: neste momento, o óleo da peça vaza e o amortecedor perde a sua capacidade;
  • desalinhamento de suspensão;
  • rasgos no pneu: esse tipo de furo inutiliza o composto

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