“Do mais ínfimo grão de areia a um grande planeta, todos temos em nós uma semente divina que deverá desabrochar através dos ciclos de morte e renascimento”, diz o teósofo Edimar Silva, escritor e cirurgião-dentista, que estará em Goiânia, neste fim de semana, para dar continuidade ao Curso de Introdução ao Pensamento Teosófico. Ele afirma que a lei de reciprocidades ou de analogias leva em conta que tudo no universo é, fundamentalmente, idêntico. “Somos todos filhos do mesmo Pai, e temos, por assim dizer, o mesmo DNA; somos deuses, e nos esquecemos disso, como dizia Helena Blavatsky”, destaca.
O princípio de reciprocidades é um dos aspectos da lei de periodicidade, uma das três ideias fundamentais que estarão sendo apresentadas pelo convidado do Grupo de Estudos Teosóficos (GET) Sophia, na continuidadedoMódulo IIdoCurso, que prossegue neste fim de semana (28 e 29/04). Edimar Silva abordará aspectos das leis da unidade, da periodicidade e da evolução da vida. “São ideias fundamentais, e a respeito delas é feita a recomendação de que não devem ser aceitas de imediato como verdades inatacáveis, mas que devem ser mantidas como pano de fundo nos estudos daqueles que se interessam por teosofia ou por espiritualidade genuína em geral”, diz.
Edimar Silva, 62 anos, vice-presidente da Loja Fênix, de Brasília, e conselheiro regional e nacional da Sociedade Teosófica no Brasil (STB), afirma que a verdadeira religião não está na mera observância externa de ritos e ensinamentos, mas numa prática que, gradualmente, pode ser inserida na vida das pessoas, tornando-as mais sábias e mais tolerantes. “A teosofia pode ser entendida como sendo o resultado, ou a essência, da busca do conhecimento pelo ser humano, em qualquer uma das suas vertentes”, observa.
Enquanto o cientista faz sua busca a partir de métodos objetivos e comprovações e o filósofo especula a partir do raciocínio, de teorias, “o místico usa uma via interna, com recursos como a meditação e a contemplação, para entrar em contato com realidades sutis, que muitas vezes não podem ser comprovadas objetivamente”, justifica.
“A teosofia utiliza a sabedoria das idades, tudo o que foi descoberto até hoje, seja do ponto de vista científico, filosófico ou místico, sem criar dogmas, propondo que cada estudante busque sua própria compreensão e comprovação do que ainda é teoria para ele”, destaca. Segundo Edimar Silva, que se filiou à Sociedade Teosófica em 1984, não há uma visão teosófica oficial a ser aceita pelos estudantes. “Tudo deve ser visto como ponto de partida para a investigação e as possíveis descobertas pessoais”, reforça.
A teosofia é difundida em todo o mundo principalmente através da Sociedade Teosófica, organização fundada em 1875, nos Estados Unidos, pela russa Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891), autora de títulos como Ísis Sem Véu e A Doutrina Secreta. A instituição, que tem sede em Adyar, na Índia, é aberta a todos os que estejam de acordo com o seu primeiro objetivo, que é o de formar um núcleodefraternidadeuniversal, sem distinção de raça, credo, sexo, casta ou cor. Os dois outros objetivos são: encorajar o estudo da religião comparada, filosofia e ciência; e investigar as leis não explicadas da natureza e os poderes latentes no homem.
Segundo o palestrante, muitos dos ensinamentos teosóficos podem ajudar a compreender a vida, o ser humano e o universo. “O conhecimento teosófico está na base de todas as grandes religiões e sistemas filosóficos que buscam as verdades da vida; e até da própria ciência que, por vezes, acabachegandoaeletambém”, ressalta. A partir desse conhecimento, se pode chegar às causas do sofrimento e, assim, sofrer menos.
AS LEIS UNIVERSAIS
Conforme acentua o estudioso, dentre as ideias fundamentais do pensamento teosófico que devem ser consideradas como base para as investigações, está a lei de periodicidade ou dos ciclos. “Ela ensina que tudo começa, termina e recomeça novamente, sempre a partir do ponto onde havia parado”, explica. Pelo princípio das reciprocidades, todos somos essencialmente iguais, o que muda é a fase do ciclo evolutivo, ou do “desabrochar da semente divina” em que cada um se encontra. “Essa é a lei que, se compreendida e aplicada, poderá fazer com que o mundo seja melhor, já que todos se verão como seres iguais e irmãos, por sermos filhos do mesmo pai”, esclarece.
A lei de periodicidade diz respeito aos ciclos da vida, que podem ser facilmente observáveis na natureza. “Dia e noite, as quatro estações, as fases da lua, nascimento, infância, idade adulta, velhice e morte; tudo na vida é cíclico”, diz Edimar Silva, lembrando que basta observar esses ciclos para se perceber que nada se pode fazer contra eles. “O melhor é que os compreendamos e busquemos viver de acordo com eles”, ressalta.
Como exemplo da periodicidade, o palestrante observa que um idoso e um jovem numa academia de ginástica devem fazer esforços diferentes porque estão em fases diferentes de um mesmo ciclo, com possibilidades diferentes. Da mesma forma, um agricultor sabe que não deve plantar sua lavoura no inverno porque ela não vingará. “A vida pulsa, os ciclos são como pulsações, têm ritmo; não é difícil perceber isso”, acentua, indicando que a ciência já começa inclusive a admitir grandes ciclos cósmicos, nos quais o universo passaria por períodos de expansão e de contração, o que corresponde a ensinamentos místicos milenares.
Outra das ideias fundamentais é a lei da unidade da vida, que, segundo Edimar Silva, ainda não pode ser plenamente percebida pela humanidade. Na essência, a lei diz que tudo que existe é uno, que há uma unidade sutil que tudo permeia. “É interessante notar que, lentamente, a percepção se dá, às vezes inconsciente, por exemplo, na forma como lidamos cada vez mais com a ideia de planeta e não de países; vamos percebendo que moramos numa mesma casa planetária e que é preciso cuidar dela”, ressalta.
Segundo o teósofo, da mesma forma, percebemos que o alimento esbanjado em um continente faz falta em outro e que isso pode gerar guerras ou terrorismo; que a floresta de um país vai se tornando vital para todo o planeta. “É uma maneira grosseira de perceber a interdependência na terra e que, possivelmente, existe em todo o universo, mas que não foi percebida ainda”, destaca. A respeito disso, Edimar Silva ressalta a dependência da vida na terra em relação ao sol, como um aspecto perceptível dessa unidade cósmica.
“Se o ser humano buscar levar sua vida tendo em vista esta unidade, com certeza, aumentará o respeito pelo próximo e pela nossa casa planetária; o que influenciará a existência em todos os seus aspectos; seríamos mais fraternos e mais felizes”, afirma.
A lei de evolução é a última das ideias fundamentais a ser considerada nos estudos teosóficos. “Ela vai além da mesma lei, da forma como é vista pela ciência ortodoxa; implica na passagem de todos os seres pela lei dos ciclos, e enuncia que essa passagem, cujos prazos se perdem na eternidade, tem por objetivo fazer com que desabroche em cada ser a semente divina que trazemos”, diz Edimar Silva.
Dessa maneira, a partir dessa lei, a evolução se dá não apenas na adaptação das formas de vida ou dos organismos aptos ou que melhor se adaptam às condições de vida. “Desde o surgimento da vida e das infinitas formas que ela habita, seja nos minerais, nos vegetais, nos animais ou nos humanos, nada é fortuito ou fruto do acaso; mas todas as modificações são para possibilitar que a vida habite aquela forma, evolua e desabroche, gradualmente, a consciência; e ao chegar no estágio humano surge a autoconsciência, que não existe, por exemplo, nos vegetais ou animais”, acentua o teósofo.
Edimar toma como exemplo o próprio ser humano. “Na juventude, nosso corpo é forte e ágil, para permitir que tenhamos muitas experiências; já na idade madura, vem a fragilidade natural e a pessoa deve se aquietar, isso lhe possibilita não só ter uma vida mais longa e saudável, como também destilar em sabedoria o conhecimento adquirido na juventude”, esclarece. E completa: “A forma externa vai se adaptando naturalmente para que a vida sutil possa acontecer e possibilitar que a semente divina desabroche”.
PENSAMENTO TEOSÓFICO – O CURSO
O curso de Introdução ao Pensamento Teosófico, promovido pelo GET Sophia, teve início em fevereiro deste ano e já abordou temas como O que é Teosofia, Sociedade Teosófica, A Reencarnação e a Lei do Karma, trazendo a Goiânia os teósofos Ricardo Lindemann e Ísis Resende.
Em maio, junho e julho, serão apresentados aos simpatizantes do pensamento teosófico os Veículos da Consciência, a começar pelos corpos físico, astral, mental inferior e manas superior. Em setembro, Raul Branco falará de Buddhi, e Marcelo Luz, de Átma e Mônada.
O curso prossegue ao longo do ano, com temas igualmente instigantes, como A Doutrina Secreta, obra magna de Helena Blavatsky; O Caminho Espiritual; Tradições Espirituais e sua Relação com a Teosofia; e Meditação, entre outros. Os interessados podem participar de cada módulo, independentemente de ter participado dos demais. A contribuição é espontânea.
O GET Sophia, vinculado à Sociedade Teosófica no Brasil, funciona à Rua 220, No. 287, Sala 05, Setor Coimbra, Goiânia. As inscrições podem ser feitas no local, no sábado, 28/04, a partir das 14h20. Mais informações pelos telefones (62) 981950552 / 982666768 / 986097476.