- Em Goiás, foram expedidos 22 mandados de busca e apreensão em residências e estabelecimentos comerciais da Capital e mais oito cidades do interior. Suspeitos difundiam imagens de crianças na rede
O Ministério Extraordinário de Segurança Pública (Mesp) deflagrou ontem operação que prendeu pelo menos 197 pessoas com material pornográfico em Goiás, Distrito Federal e mais 23 Estados. Os suspeitos vinham sendo monitorados nos últimos quatro meses pela Inteligência da Secretaria Nacional de Segurança Pública com base em dados disponibilizados na rede mundial de computadores. As informações foram encaminhadas para a Polícia Civil dos Estados que fazem parte da operação, que instauraram inquéritos e pediram à Justiça autorização para executá-los o mais rápido possível. Ao todo, foram analisados 1 milhão de arquivos que tiveram papel importante na decisão de quais seriam os alvos da polícia pelos crimes cometidos contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes.
Em Goiás, até o momento, foram emitidos 22 mandados de busca e apreensão em residências e estabelecimentos comerciais de Goiânia e mais oito cidades do interior. Os suspeitos difundiam imagens e vídeos de crianças e adolescentes na rede virtual sem roupas e tendo relações sexuais com maiores de idade, o que configura crime de pedofilia, de acordo com o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA). Na Capital, até o fechamento desta edição, a polícia prendeu um piloto aposentado de 75 anos, um professor de 42, um atendente de call center de 32 e um homem de 30 que mantinha os materiais no computador de seu trabalho, de onde foi levado à delegacia pelos policiais. Na primeira fase da operação, realizada em outubro do ano passado, o resultado divulgado pela Polícia Civil foi de 157 mandados de busca e apreensão.
Durante entrevista coletiva realizada no final da tarde de ontem, a titular da delegacia de repressão a crimes cibernéticos, Sabrina Leles, disse que as imagens estavam armazenadas em notebooks, celulares e HD´s. “Algumas das imagens são de meados da década de 90. Em alguns dos registros o idoso de 75 anos aparece tendo relações sexuais com uma menor”, relata a delegada. Os policiais ainda encontraram na casa dele um quarto com bichinhos de pelúcia, que era usado para atrair as menores à sua casa. O advogado do idoso, Edson Cândido Pinto, relatou que acompanhou a busca e apreensão, mas afirmou não iria se manifestar a respeito do assunto. Edson declarou ainda que seu cliente nega os crimes dos quais é acusado e que as crianças que aparecem nas imagens não são menores. “Ele não só compartilha esse tipo de conteúdo como também atua na produção”, rebate Sabrina.
A delegada relatou que os vizinhos de Marcos Ronaldo, o idoso, aplaudiram a ação dos policiais. Segundo ela, os moradores chegaram a se oferecer para prestar depoimento contra ele. “No momento da prisão, seu computador estava ligado à rede de outros pedófilos, o que torna o crime dele inafiançável”, afirma. A investigadora ressaltou que outras prisões poderiam acontecer ao longo de ontem, e destacou que a Operação Luz na Infância é uma das maiores do mundo no combate à pronografia infantil. “Os presos nunca tiveram qualquer passagem pela polícia, levavam uma vida aparentemente normal, mas mantinham em seus computadores e smartphones fotos e vídeos que configuram pornografia infantil. Quem mantém esse tipo de imagem está sujeito a uma pena de reclusão que vai até três anos, agora quem compartilha pode passar até sete anos na cadeia”, conclui.
Em Valparaíso de Goiás, por sua vez, policiais prenderam dois homens em flagrante. De acordo com os investigadores, um deles era professor do Ensino Médio na cidade e o outro agente socioeducativo da Secretaria da Criança do Distrito Federal. A identidade do servidor público não foi revelada e, por isso, o órgão afirmou que não tem como dar um retorno à sociedade sobre o caso. Os mandados ainda foram cumpridos em Senador Canedo, Anápolis, Luziânia, Iporá, Rio Verde e Jataí. Segundo o Ministério de Segurança Pública, essa operação é a maior já realizada no combate a crimes contra a pedofilia no Brasil. O nome da força-tarefa, segundo a polícia civil, é uma alusão “aos acusados deste tipo de delito que agem às sombras da internet e devem ter suas condutas elucidadas e julgadas.”
OUTRAS OPERAÇÕES
Dentre os presos pelas policiais civis dos 24 Estados que participam das ações, há os que já foram autuados anteriormente por crimes contra a honra de crianças e adolescentes. Em entrevista à Folha de São Paulo na manhã de ontem, o ministro de segurança pública, Raul Jungmann, afirmou que esse tipo de crime “se internacionalizou e defend que haja cooperação com outros países e punições mais duras para esses crimes”. No momento, a pena para quem compartilha material de pornografia infantil varia de um a seis anos de prisão. Porém, a produção desse tipo de conteúdo implica em detenção que vai de quatro a oito anos.
Segundo o Ministério Extraordinário de Segurança Pública (MESP), os estados do Rio Grande do Norte e Paraná não participaram das operações por terem conseguido tempo necessário para checar os dados levantados pela Inteligência da Secretaria Nacional de Segurança Pública. No total 2.625 agentes da polícia civil estão nas ruas para darem conta de cumprir os os mandados de busca e apreensão, que foram distribuídos por 284 cidades do Brasil. Os suspeitos foram levados para as delegacias de proteção à criança ou às de crimes cibernéticos dos estados que fazem parte da operação.
Os presos nunca tiveram qualquer passagem pela polícia, levavam uma vida aparentemente normal, mas mantinham em seus computadores e smartphones fotos e vídeos que configuram pornografia infantil” Sabrina Leles, titular da delegacia de repressão a crimes cibernéticos