Mais uma edição da Exposição Agropecuária de Goiânia. Contando com o antes e o depois, cerca de 20 dias de sofrimento para os moradores da região do parque de Nova Vila. Nem a novidade deste ano, a não alteração do trânsito nas vias, alterou o humor das pessoas que moram ou trabalham próximos ao parque.
O professor de Educação Física Marcos Antônio Silva, morador da Nova Vila há 45 anos, já desistiu de acreditar que um dia a pecuária vai deixar a região. “Todo ano é a mesma coisa, políticos aparecem aqui com a mesma conversa de possibilidades de mudança mas nada de concreto é feito. O barulho continua. Ninguém dorme direito. Tráfico de drogas intenso. Assaltos e furtos a todo momento. É um inferno essa pecuária pra quem mora aqui”, afirma o professor.
Sobre a novidade deste ano, a decisão da Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade de Goiânia (SMT) de não alterar o trânsito em volta da pecuária, Marcos diz que não piorou nem melhorou, continua péssimo. Para ele, a situação do parque na região é tão caótica que nada que for feito vai melhorar. “Não há a mínima condição da pecuária continuar na Nova Vila. É um fedor constante. O trânsito no local no dia a dia já é tumultuado. De qualquer lugar que você venha vai enfrentar tumulto. Depois das 22 horas você não consegue circular. O barulho é insuportável à noite toda e madrugada adentro. A Amma - Agência Municial de Meio Ambiente de Goiânia veio aqui medir, foi embora e nada aconteceu”.
Vizinhos da pecuária, moradores de prédios no Setor Negrão de Lima, afirmam que, à noite, durante os shows, além dos prédios tremerem, a medição feita por eles chega a mais de 70 decibéis, muito acima do permitido em lei que é 55 decibéis durante o dia até as 22 horas em zonas residenciais, e 50 decibéis após às 22 horas.
João Felipe, dono de uma Lan House na Nova Vila, afirma que a não alteração das vias durante a festa da pecuária melhorou para o comércio durante o dia, mas não deixa de criticar a o evento que continua maltratando os moradores da região. Já o Cabeleireiro Róbson Domingues, que mora e trabalha na Nova Vila, não gosta nem de ouvir falar em pecuária. “Estou aqui desde 1995. Essa pecuária só traz constrangimento pra gente. É preciso de um local mais apropriado. Além do mau cheiro, mosquitos, barulho, trânsito insuportável, aparece também dinheiro falso, violência. A transferência da pecuária já virou bordão e piada entre os moradores–todo ano é o último ano”, brinca o cabeleireiro. Sobre o trânsito, a partir das 5 horas da tarde, Róbson afirma que as ruas são tomadas pelos vigiadores de carros e que a não alteração das vias durante a festa não mudou em nada o tumultuado trânsito local.
Waldivino da Silva, morador do Criméia Leste há 40 anos, se revolta com a continuidade da festa da pecuária na Nova Vila. “Minha opinião é tirar este parque daqui o mais rápido possível. Já tinha que ter tirado há muitos anos. Como pode ter um trem desse tamanho em pleno centro da cidade. Leva este parque para Nerópolis uai. Ninguém aguenta mais o tumulto e o cheiro insuportável de urina e bosta de vaca e cavalo. Esta não mudança de sinalização das vias piorou e muito o trânsito durante a festa. Tá insuportável isto aqui. Se tivesse alterado como em anos anteriores, ficaria pelo menos um pouco mais organizado. Mas não tem jeito não. Essa pecuária tem que sumir daqui”, conclui o indignado morador.
SINALIZAÇÃO
O Secretário de Trânsito de Goiânia, Fernando Santana, afirma que a decisão de não fazer as alterações nas vias durante a festa da pecuária de Goiânia neste ano foi feita pela própria pasta ao perceber que as mudanças incomodavam muito os moradores e não traziam grandes efeitos em termos de melhorias no trânsito. Ele afirma que os engenheiros de trânsito da SMT analisaram a situação e entenderam que não havia necessidades de alterações.
“Não alterar o trânsito foi uma decisão nossa ao perceber que não alterava grande coisa devido a grande quantidade de pessoas que vão a pecuária principalmente à noite para ver os shows. No período noturno reforçamos para 20 agentes para controlar o trânsito”. O Secretário descartou também a liberação total da Marginal Botafogo que continuará tendo trechos sendo reparados durante a festa da pecuária.
Mudança continua sem definição
Já foram muitos os projetos e muitas as possibilidades apontadas para a retirada da pecuária da Nova Vila, mas Nenhuma foi pra frente. Na coletiva de abertura da festa neste ano, no dia 14 de maio, Tasso Jayme, atual presidente da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA), entidade responsável pela festa, foi curto e grosso na coletiva afirmando que está descartada qualquer possibilidade de mudança de local do Parque Agropecuário de Goiânia. A 73ª edição começou no dia 18 e vai até o dia 27 de maio.
Ainda na coletiva de abertura do parque o presidente da SGPA afirmou que o evento fomenta a economia e a mudança de local poderia trazer prejuízos. “Tem se falado muito em tumulto, então reduzimos de 15 para 10 dias a exposição. Se a pecuária sair da Nova Vila, a área, com certeza será ocupada por prédios, o que geraria tumulto durante todo o ano. A pecuária na Nova Vila gera atividade econômica e traz também benefícios para a população local, afirmou o presidente da SGPA na abertura da festa.
Pelo visto, se depender do presidente da SGPA, os moradores da região vão continuar sofrendo com o tumulto antes, durante e alguns dias depois da festa da pecuária nos próximos anos. “O parque faz parte da história da cidade e da cultura goiana. Foi prospectada a possibilidade de mudança de local, mas não foi levada adiante essa possibilidade”