“A criação de algo novo sempre traz insegurança e incertezas. A gente nunca sabe como se estruturar da melhor forma. Com certeza são muitas as dificuldades, mas quem quer empreender não deve desistir”, diz Suzane Braga, 33, freelancer de comunicação e vendedora de bombons Cacau Show.
Uma crise que se instala e devasta parte da vida dos brasileiros deixa até mesmo as grandes empresas em maus lençóis e traz também dificuldades de readaptação no mercado profissional inclusive para pessoas com formação superior e pós graduação. Os brasileiros estão encontrando novas formas de se virar na hora de pagar as contas. E nada melhor do que um “pequeno negócio’’ para ajeitar a vida neste momento de crise financeira que já perdura a anos. Desde uma banquinha na feira inovando no jeito de servir as pessoas, ou fazendo uma receita diferente de bombons para vender na faculdade. O importante mesmo é fazer algo que não é comum de se ver por aí e assim ganhar a atenção das pessoas.
DADOS
O comércio é hoje o campo que mais emprega os brasileiros, porém com salários ruins. Hoje o setor que mais demite é o da construção chegando a dispensar 20,5% total de seus funcionários, seguido pelas atividades de serviços com baixa de 15,6%, as indústrias extrativas de minérios e petróleo com dispensa de 8,1%, e também a indústria de transformação, que representa quase a totalidade da indústria brasileira que exonerou 5,1% de seus colaboradores. Ou seja, uma queda drástica em quase totalidade dos setores deixando o País em estado de calamidade.
Atualmente empreender não é fácil, tampouco sem obstáculos. E a melhor forma de vencê-los é estudando o mercado da melhor forma possível junto à um órgão que ofereça facilidades, melhores condições de avaliar o mercado escolhido, e bolar um bom planejamento antes de investir. Suzana B. conta como fez para conseguir conciliar as contas junto às novas formas de ganhar dinheiro: “Nesse momento eu estou buscando ajuda do Sebrae através de cursos, capacitações e consultorias para construir uma base sólida para o meu negócio. O primeiro passo foi cortar todas as despesas extras, Planilhei tudo para conseguir identificar onde eu poderia cortar”.
As mulheres são destaque no empreendedorismo com trabalhos manuais, e a Artesã Renata Narciso, 27, conta que por causa da maternidade ela resolveu trabalhar em casa: “Pensei em várias coisas, mas o que concretizou foram os bichinhos de crochê, amigurumi (técnica oriental de bichos de pelúcia em Crochê). Uma delícia de fazer, uma terapia para mim”, justifica.
ARRANJOS
E são diversas as modalidades de pequenos negócios que hoje têm credibilidade no mercado: comida, cultura, artesanatos, roupas sustentáveis, vestuário, etc. E que gira o capital nos arredores dos Estados. As ideias surgem desde referências internacionais, até criação com improviso próprio. E lógico, com o jeitinho especial do brasileiro de se virar na hora que tudo aperta e o mercado de recolocação profissional não ajuda.
São profissionais que formados ou não que hoje buscam oportunidade no mercado de trabalho e sofrem frustrações. E por conta das dificuldades começam a pensar em maneiras alternativas de ganhar a vida. Alexandrina Alves, 27, formada em Engenharia Elétrica e atual estudante de Turismo no IFG acabava de voltar para o Brasil em 2016 e precisava encontrar alguma forma de pagar as contas: “Eu tinha acabado de voltar de uma temporada fora do Brasil e estava com dificuldade de me recolocar no mercado. A Hamí (empresa de arranjos comestíveis) surgiu em agosto de 2016 exatamente por conta da crise”.
Ela ainda conta que para chegar até a atual ideia (pioneira) de criar arranjos comestíveis, ela e a sócia Lara Falluh tiveram vários planos inusitados: “precisávamos encontrar algum jeito de pagar as contas e começamos a estudar e analisar possibilidades, até uma forma “gourmet” de vender água no sinal nós pensamos”. Acrescenta com risos.
“A crise brasileira decorre da instabilidade política, que redundou em desemprego, insegurança no trabalho e redução da capacidade de compra da população. Empreender agora pode ser aproveitar a retração econômica para fazer base a fim de prosperar quando a economia voltar a crescer”. avalia. Luiz Signates, 57, professor de Metodologia da Pesquisa da UFG e da PUC.
As novas formas de empreender são também sinais de que o mercado pode mudar a qualquer momento, e assim como existem as flores de reinventar e inovar, também existem os riscos que até mesmo a maior das empresas pode não avançar caso não tenha um bom plano estratégico de negócio. O economista Ivo Ferreira, 27, explica: “Arriscar num negócio não é simples, tendo você muito dinheiro ou não. As pessoas necessitam de cautela e pesquisas na questão da demanda da sociedade atual. Saúde, inovações, ambientes, meios de produção, entre outras coisas são fatores que influenciam no produto final”.
E o professor Luiz Signates faz um alerta aos investidores: “Investimentos em época de crise costumam ser mais baratos, mas o retorno demanda paciência, cuidado e persistência”.
Os novos empreendimentos têm percebido as necessidades dos consumidores em obter um serviço diferenciado, analisando os perfis dos compradores para chegar ao serviço de excelência e com um feedback positivo ao final de cada mês. As categorias gourmet e artesanais estão em alta, e agradam a muitos em todos os cantos.
Investir nessas áreas demanda principalmente foco e disciplina, já que podem ser facilmente planejados e desenvolvidos em casa. A comunicadora Suzane, 33, explica como começou, e já têm planos para o futuro: “Como já atuo na área de comunicação há bastante tempo, a minha primeira ideia foi atuar de forma autônoma. Há uns dois anos atrás eu iniciei o atendimento de alguns clientes remotamente. Hoje estudo a melhor forma de estruturar o meu negócio, me formalizar e aumentar a minha carteira de clientes”, conta.
Sendo o empreendedorismo fácil ou não o que conta é a motivação, a força de vontade de crescer e a busca pelas melhores formas de se encaixar em um mercado crescente e positivo em tempos de crise que vem gerando renda e bons resultados.