A jovem Mariana, de 17 anos, ganhou de aniversário o presente mais desejado de toda a sua vida: uma família. Uma semana antes de atingir a maioridade a menina, que desde pequena morava em um abrigo à espera de adoção, encontrou um lar. Foi a cabeleireira Lucília Rocha e o Pintor Leurentino Rocha quem deu o tão sonhado presente à Mariana.
O casal, que junto às suas três filhas acolheu a adolescente, oficializou a adoção durante audiência no último dia 3, no fórum da Cidade Ocidental, realizada pelo juiz André Nacagami, titular da 1ª Vara, que abrange Infância e Juventude.
Mariana já havia perdido a esperança e não imaginava mais ser possível ser adotada. Foram, ao todo, 11 anos vividos no Orfanato Rebecca Jenkins, a 192 quilômetros de Goiânia e 46 quilômetros de Brasília – antes foram quatro anos em outro abrigo em Luziânia. Mariana chegou por negligência dos pais, que não tinham condições econômicas de cuidar dela e dos outros três irmãos.
O que era para ser uma situação provisória se tornou permanente e a criança perdeu o vínculo afetivo com a família biológica. Nos anos que se passaram, não recebeu visitas de parentes e as tentativas judiciais de resgatar laços foram frustradas. Viu várias crianças chegarem e saírem adotadas ou realocadas junto a familiares. Só Mariana permaneceu.
A menina acredita que tem hoje nove ou 10 irmãos. Ela não tem mais nenhum tipo de contato com eles. O único familiar que manteve contato é Maiara, sua irmã de 20 anos, que também morou numa unidade anexa do Rebecca Jenkins. É exatamente nesse ponto que a história começa e se entrelaçar com a da família adotante: diferentemente de Mariana, a mais velha, ao completar a maioridade se viu obrigada a deixar o abrigo e, de mochila nas costas tentou ganhar o mundo sozinha, mas acabou morando nas ruas por dois anos. O relato comoveu Lucília e Laurentino, que resolveram mudar a trajetória pré-escrita da garota.
Segundo informações do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), no Brasil há 4.888 crianças registradas no Cadastro Nacional de Adoção. À medida que a idade aumenta, sobe exponencialmente o número de menores registrados. Meninos e meninas de até 10 anos de idade representam, apenas, 22,79% do total.
A maioria encontra-se na faixa entre 13 e 17 anos, com 61,98%. Assim como Mariana, há outros 610 adolescentes que vão completar os 18 anos em 2018 e deverão deixar as casas de acolhimento e os abrigos. Segundo o magistrado André Nacagami, diretor do foro de Cidade Ocidental, “em tese, com a maioridade esse público sai da proteção do Estatuto da Criança e do Adolescente, no que tange à parte civil”.
Ainda segundo o TJGO, preocupado, o juiz articulava com prefeitura e organizações sociais formas para amparar Mariana, com o oferecimento de alguma vaga de trabalho, por exemplo. Contudo, felizmente, ela conheceu a família a tempo de mudar sua situação e, principalmente, lhe acolher com amor e carinho. Lucélia, que trabalha como cabeleireira e é formada em teologia, fazia serviços sociais cortando cabelos das crianças do orfanato e conhecia o ex-diretor do local, pastor Izac Costa, que havia lhe alertado sobre a situação preocupante das duas irmãs.
A família de Lucélia e Laurentino mora em uma chácara e é acostumada a ajudar jovem em situações de vulnerabilidade.
Ao tentar contato com Maiara pela primeira vez, Lucélia lembra que não foi fácil. “Nosso primeiro encontro não foi muito animador. Mariana atravessou um pirulito na boca, para não falar nada, apenas murmurar”, conta a mãe adotiva aos risos em entrevista ao TJGO.
Aos poucos a adolescente foi se tornando mais receptiva e a jovem foi se mostrando carinhosa e alegre. O fim do ano estava perto e a família pediu, judicialmente, para que garota passasse o recesso escolar com ela.
“Parece que nos conhecemos desde sempre. Mariana se integrou à nossa família. Ela nos escolheu. Ela nos deu a chance de amá-la”, fala Lucélia.
“Quase não acreditei, só depois que vi acontecendo”, afirmou a menina incrédula com as mudanças positivas que sofreu em tão pouco tempo.
(Foto reprodução TJGO)