- Proprietário afirma que vendas subiram em torno de 60% com partidas da seleção
“A Copa do Mundo não tem nome de gente. E não há a menor chance de, no caso de vitória brasileira, ela vir a chamar-se Taça Paulo Maluf”. Considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa, Carlos Drummond de Andrade retratou com maestria o sentimento que toma conta do brasileiro durante os dias em que acontece o maior evento do planeta. Embora a fase de mata a mata da competição seja incerta, os bares e restaurante de Goiânia aumentam em até 60% o número vendas em relação aos jogos do campeonato brasileiro. Ainda que as partidas sejam transmitidas em horários atípicos, ninguém se exime de ir aos estabelecimentos boêmios para comemorar a vitória ou chorar a derrota.
Os donos de padarias também festejam quando o Brasil avança no torneio. De acordo com levantamento realizado pela empresa Cielo, as vendas subiram cerca de 11% quando o escrete de Tite venceu a Costa Rica pelo placar de 2 a 1 na segunda rodada da Copa e 9% no momento em que o assoprador de apito decretou triunfo ante a Sérvia pela última rodada da fase de grupos. Esse número contrasta com o restante do comércio varejista, que apresentou alta de 25% nas vendas em dias de jogos da seleção. Apesar de registrar movimento menor quando os pentacampeões do mundo desfilam nos gramados da Rússia, há pico de movimentação antes de a bola rolar nesses estabelecimentos, o que garante quantidade de pessoas acima da média.
Proprietário de bar no Setor Crimeia Leste há 23 anos, o comerciante Afonso Ferreira Albernaz, 52, relatou que o fluxo de pessoas praticamente dobra nos jogos da seleção canarinho. Segundo ele, o público que frequenta seu bar na Copa do Mundo é constituído por famílias e chega a ser bem maior do que o encontrado em outros torneios futebolísticos. “O movimento aumenta em torno de 60% em dias de jogos da seleção na Copa”, afirma. Ele disse ainda que abre o buteco duas horas antes das partidas para atender os anseios dos torcedores mais ansiosos. “Sempre tem um ou outro que aproveita o tempo para consumir uma pinga ou já começar a beber, pois o estilo de torcer é outro”.
O jornalista Nasser Najar, 25, leva a sério a tradição de torcedor brasileiro durante o mundial. Para ele, o maior evento do mundo cumpre função de reunir pessoas para assistir aos jogos. “Ainda assim, prefiro assistir as partidas da seleção com quem tem o hábito de acompanhar futebol com frequência”, sacramenta. Apreensivo antes de todas as partidas que o Brasil disputou no torneio, ele optou por escolher vibrar e reclamar perto de gente que também cultiva o mesmo hábito de gritar músicas de apoio à seleção brasileira. “Fico bravo perto de quem não tem noção da importância da Copa para a consciência coletiva”, finaliza ele, que fã do jornalista e cronista esportivo Nelson Rodrigues.
Contudo, o sentimento nacionalista não toma conta de todo mundo durante a Copa. Adepta da máxima ‘futebol é pão e circo’, a fotógrafa Júlia Lee, 21, desempenha outras atividades no momento em que o Brasil está em campo. “Acredito veementemente que a Copa do Mundo é um evento feito para os homens curtirem e, por si só, evito vê-lo”, afirma. Do ponto de vista da manipulação da sociedade, frisa ela, o esporte bretão pode cumprir tanto uma função de resistência quanto de alienação. “Se dissesse que o futebol goza de papel único para ludibriar a população, eu estaria sendo mentirosa. Por isso, reconheço sua importância para a sociedade, mas não assisto a Copa do Mundo masculina”.
SEM ALARDE
Em 18 de junho deste ano, o Diário da Manhã noticiou que, ainda que sem o furor das outras edições da Copa do Mundo, os torcedores procuram lugares para assistir as partidas do mundial. Segundo previsão da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o segmento deve faturar aproximadamente R$ 10 bilhões com jogos da seleção brasileira, o que seria mais ou menos o mesmo valor arrecadado quatro anos atrás, quando o escrete de Luiz Felipe Scolari foi humilhado pela Alemanha por 7 a 1, no Mineirão. Já o Estado de Goiás vem tendo alta de até 26,5% nos preços em relação à Copa de 2014.
Em relação à Copa do Mundo do Brasil, não houve diferenças tão fortes de arrecadação por parte de comerciantes. Segundo o chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, o comércio vem tentando se recuperar do tombo provocado pela recente crise econômica, que abalou o País nos últimos anos, gerou desemprego e outros problemas sociais. “Ainda tentando se reerguer após recente crise econômica, os serviços de alimentação fora do domicílio não contarão com fluxo turístico nacional e, principalmente, internacional de quatro anos atrás”, explica.
O movimento aumenta em torno de 60% em dias de jogos da seleção na Copa” Afonso Ferreira Albernaz, proprietário de bar no Crimeia Leste há 23 anos