A extrema pobreza continua aumentando no Brasil. Esse é o resultado da pesquisa realizada pela LCA Consultores a partir de microdados da Pnad Contínua e divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de pessoas em situação de extrema pobreza passou de 13,34 milhões em 2016 para 14,83 milhões no ano passado, o que significa aumento de 11,2%.
O avanço de pobreza está relacionado com as políticas econômicas adotadas pelos países. Mas isso esbarra na desigualdade social. O tema ‘desigualdade’, embora relegado a um dos itens econômicos ganha força e torna cada vez mais discutível, frente à realidade que se apresenta. Estudos recentes revelam que 1% detém mais da metade da riqueza mundial, ou seja, parcela mais rica da população concentra 50,1% do patrimônio mundial, segundo a ONG britânica Oxfan, organização não governamental que atua no enfrentamento às desigualdades, buscando condições de enfrentamento para as transformações sociais necessárias para a construção de uma sociedade mundial mais igualitária.
Em outro estudo que analisou 19 países, o Brasil pertence ao grupo de cinco nações em que a parcela mais rica da população recebe mais de 15% da renda nacional. 1% mais rico do Brasil concentre entre 22% e 23% do total da renda do país, Segundo a Oxfam, o total de patrimônio no mundo aumentou em 9,264 trilhões de dólares (29,697 trilhões de reais), já descontada a inflação entre o 1º trimestre de 2016 e o mesmo período de 2017. O valor equivale a quatro vezes o que a economia do Brasil produziu em 2016.
A maior parte desse crescimento (82%) ficou com a parcela 1% mais rica. Dessa forma, o total de riqueza pertencente a esse grupo saltou de 49% para 50,1% do total. O número de bilionários também subiu, para 2.043–destes 43 no Brasil. A metade mais pobre da população não teve aumento de patrimônio no período, e os 49% intermediários dividiram o restantes. No País, o patrimônio somado dos bilionários brasileiros chegou a 549 bilhões de dólares (1,754 trilhão de reais), num crescimento de 13% em relação ao ano de 2017. Ao mesmo tempo, os 50% mais pobres do país viram sua fatia de renda nacional cair de 2,7% para 2%.
OS MAIS RICOS
Oito homens mais ricos do mundo detém juntos mais dinheiro que a metade mais pobre do mundo, ou seja, ele detém tanta riqueza quanto as 3,6 bilhões de pessoas que compõem a metade mais pobre do planeta. São eles: Bill Gates (Microsoft) Amancio Ortega (Inditex), Warrem Buffet (Berkshire Hathaway), Carlos Slim (America Movil), Jeff Bezos (Amazon), Mark Zuckerberg (Facebook), Larry Ellison (Oracle Corporation) e Michael Bloomberg (Bloomberg).
No Brasil, seis brasileiros concentram a mesma riqueza que a metade da população mais pobre. Trocando em miúdos, eles detém a mesma riqueza que os 100 milhões mais pobres do país, ou seja, a metade da população do país.
São eles: Jorge Paulo Lemann (AB Inbev), Joseph Safra (Banco Safra), Marcel Hermmann Telles (AB Inbev), Carlos Alberto Sicupira (AB Inbev), Eduardo Saverin (Facebook) e Ermirio Pereira de Moraes (Grupo Votorantim).
DESIGUALDADE
A conjuntura mundial aponta para o avanço da pobreza após anos de desenvolvimento na área. “A desigualdade não é uma consequência fatalística de leis econômicas. O entrelaçamento dos sistemas políticos e econômicos determina a distribuição de riqueza e renda. Uma agenda real iria simultaneamente aumentar a eficiência econômica, a justiça e a oportunidade”.
Os governos deveriam começar reduzindo os excessos no topo, implementando leis mais fortes de competição e criando um sistema mais progressista de renda, riqueza e do sistema tributário corporativo”.Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia em 2001, em texto de apresentação do livro “Capital no Século XXI”, de Thomas Piketty.
SEGREGAÇÃO SOCIAL
O empresariado brasileiro vem criando, ao longo dos anos, um mecanismo de proteção contra o crédito, que, mais profundamente observado, acaba por segregar a população brasileira, que diante das altas taxas de juros, fica sem condições de quitar o débito junto aos credores. Há milhões de devedores do sistema financeiro brasileiro, que não poderão contratar novos serviços oferecidos no mercado por uma segregação imposta pelas empresas que dominam o mercado financeiro nacional. Tanto o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) quanto o Serasa (Centralização dos serviços dos bancos) são maneiras de selecionar o público que deverá ter ou não acesso aos produtos oferecidos no mercado.
O Serasa (Centralização de Serviços dos Bancos) é uma empresa privada brasileira de caráter público, responsável por reunir informações, fazer análises e pesquisas sobre as pessoas físicas e jurídicas que estão com dívidas financeiras. SPC significa Serviço de Proteção ao Crédito, ou seja, um banco de dados privado de informações de crédito, de caráter público, de acordo com a definição do Código de Defesa do Consumidor, gerido e alimentado por associações comerciais e câmaras de dirigentes lojistas do país que são filiadas a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas. Ou seja, são estas instituições privadas que definem quem compra o que no país, gerando uma maneira segregatória, que, em última instância, fere a constituição nacional, que considera todos iguais perante a lei.
O artigo V, inciso LXVII da Constituição Federal prevê a proibição da prisão civil por dívida, e nos últimos julgamentos, o STF estendeu a proibição, revogando inclusive súmulas que autorizaram a mesma, em uma interpretação restritiva. Ademais, muitos herdeiros não têm como regularizar a situação fiscal do de cujus, ficando por consequência impossibilitados de negociar, por agravamento em sistemas criados para identificar inadimplentes.
Isto cria um montante de indivíduos que ficam segregados, o que aumenta ou chancela a situação de apartheid econômico.
Enquanto a base da pirâmide é ocupado por pessoas de todos os países em vários estágios de seus ciclos de vida, os indivíduos muito ricos estão altamente concentrados em países e regiões específicos e tendem a compartilhar estilos de vida mais similares.
ESTILO DE VIDA
Aliás, o estilo de vida dos mais ricos sugere que em pouco tempo, viveremos tempos de Mad Max, onde as pessoas chegarão à conclusão de que a melhor forma de sobreviver será não depender de ninguém, por que ninguém contém uma enchente ou uma massa de milhões de populares excluídos por uma situação criada pela própria organização econômica, com o abono do Estado. Finalmente há a necessidade da criação de mecanismos de inclusão social a partir de uma política desenvolvimentista, sob pena do apocalipse se abreviar.