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COTIDIANO

Um olhar, vários universos

  •  Nesta faixa etária, todavia, também se descobre maior experiência sensorial

É certo que, na infância – as­sim como na fase adulta – tem-se altos e baixos. Mas é incrível tamanha expressividade que as crianças têm e rapidez com que isso some na adolescência. A infância é um lugar onde exis­tem diversos mundos gostosos e doces, ricos de detalhes e cores, cheios de sabores, mas também, infelizmente, dissabores. Mas é na infância que desenvolvemos a nossa maior experiência sensorial, daquelas que tudo que é estimula­do, seja por meio de brinquedos ou de música, ou até mesmo de essên­cias. Eis aqui um convite para reco­nhecer a fase mais importante da infância onde explorar sensações, preservar sentimentos e memo­rizar pensamentos tornam-se as experimentações mais importan­tes de toda a construção humana.

É exatamente na “primeira in­fância”, que é desenvolvida a maior parte estrutural de uma criança. Seja ela na escola, fora dela, e ou, dentro de casa. E quando falamos de “experiências sensoriais” esta­mos falando de desenvolvimen­to através dos sentidos: “tato, a vi­são, a audição, o olfato e o paladar que fazem parte das experiências sensoriais às quais crianças de 0 a 5 anos com a chamada “mente esponja” captam tudo à sua volta”. Dali para frente todo contato com alguém se torna uma imensidão de sentimentos, toda nuvem vira dese­nho, todo barco de papel embarca numa viagem pelo pacífico, e basta um pequeno jardim para fazer uma expedição pela África. E é bem ali, no subconsciente que toda criança leva para toda sua jornada de estó­rias ou histórias em um universo de contos de fadas, contado por suas próprias criações a partir de suas experiências sensoriais.

A escritora e jornalista Marta Coelho exemplifica essa relação da sensorialidade infantil, e a im­portância dos estímulos para des­vendar as fases mais sensíveis e de­licadas da primeira infância. “Os estímulos têm uma importância determinante na forma como as crianças vão encarar o que as ro­deia. Uma criança que ouve mú­sica desde muito cedo terá uma maior facilidade em interpretar melodicamente uma história, “apreender” a realidade e mani­festá-la. Uma criança que brinca e se suja, que sente a terra, a lama, a plasticina, as tintas nas suas brin­cadeiras diárias, consegue ser mais criativa, ter menos constrangi­mentos sociais e inclusivamente ganhar imunidade: aos germes e aos “preconceitos”, completa.

A nossa percepção do mundo na vida adulta se forma a partir das vivências que tivemos enquanto crianças. E é essas experiências in­fantis que molda nosso caráter, nos­sos princípios, nossa forma de lidar com a vida e o mundo num contex­to geral. Quando vamos tomar uma decisão ela estará direcionada às di­versas formas como fomos tratados na infância, nosso desenvolvimen­to psicológico, os estímulos que re­cebemos na infância, e o jeito que tivemos que aprender a lidar com as frustrações e os problemas que já surgem desde pequenos. “A crian­ça (na maior parte dos casos) não tem um passado que a condicio­ne, que a faça ponderar ou ques­tionar aquilo que está diante dela. É livre, no sentido em que enxer­ga pela primeira vez, é-lhe dado o direito de sentir e de vivenciar o mundo como ele é: sem filtros. E o que para um adulto pode signifi­car um caminho repleto de obstá­culos, acaba por se apresentar para a criança como um desafio, como algo positivo e que a motiva a que­rer mais, a sentir mais, a questionar a dimensão que os adultos perdem com a perda da inocência”, afirma jornalista Marta Coelho.

Mas qual criança que não gos­ta de ter os seus cantinhos in­dividuais para as brincadeiras? Pois é lá naquele cantinho espe­cial chamado de “casa da árvo­re”, que toda criança faz planos, compõe música, vira artista e so­nha, seja ela a casinha feita com cadeiras e tecidos, ou a cabana no quintal. A jornalista escrito­ra Marta Coelho diz que “uma criança que ouve música desde muito cedo terá uma maior fa­cilidade em interpretar melodi­camente uma história, apreen­der a realidade e manifestá-la”. E Helenna Loyse diz, rindo:. “Gosto muito de música sim, ainda mais aquela “Dona Maria deixa eu na­morar a sua filha”.

ESTÍMULO

Vocês têm estimulado o seu fi­lho a brincar? A escrever sobre as coisas e estorias que ele gosta, ou a falar sobre os acontecimentos diá­rios? Perceber os sinais nas crian­ças é um papel do adulto, dos pais, e até dos professores. As crianças têm sede de se tornarem algo, de pegarem referências dos adultos, de manifestar seu lado artístico. Hoje em dia as brincadeiras têm se tornado horas no computador, apenas com impulso tecnológico ela tende a se tornar um adulto re­primido, introvertido, e impulsivo. A mente também necessita de mo­vimento físico, de arte, de contato. Por isto é de extrema importân­cia o diálogo, para saber até onde a criatividade pode levar seu filho para avançar cada vez mais.

Os dias dos adultos são muito árduos, e não se pode tirar a doçu­ra dos dias das crianças, é preciso encher os dias de cores, de cheiros, mostrar que descobrir o arco-íris, ou brincar de cozinhadinha e até mesmo colocar a mão na massa do bolo é tão importante e interessan­te quanto estar trancado no escritó­rio por horas. Que a vida está cor­rida não é novidade, mas olha que grandiosa descoberta foi aprender a brincar de bolinhas de gude, ou quando você descobriu que exis­tem zilhões de estrelas no céu, e que a lua é praticamente do tama­nho da terra. Explorar essas e outras milhares formas de descobrir “vá­rios universos” pode trazer grandes ensinamentos para os pequenos, e até mesmo para você adulto.

Outra palavra que os pequenos pouco entendem, mas sabem fa­zer com maestria é a “criativida­de”, basta um jardim com flores para se ver a mais bela história de amor acontecer ali mesmo, entre eles. E não nos esqueçamos de que a terra se torna o tapete ver­melho. E o céu, há, o céu não tem limite, só de olhar já se vê dragão, cachorro, e tudo quando se pode imaginar em formas de nuvens. E qualquer lugar vira uma casinha, onde lá se contam as histórias das viagens que fizeram, ou das con­versas ouvidas atrás das portas. E se recordar bem, eram exata­mente das conversas das tias que se fazia uma novela e até mesmo aquele filme imaginário super em­polgante. E por que não dizer que é de criatividade que muita profis­são sobrevive por aí?

A pedagoga Milena R. descre­veu um bocado importante dos incentivos que podem ser dados na infância e falou como mostrar às crianças que são além de gosto­sos de sentir, é também fantástico descobrir a criatividade, a imagi­nação, e o faz de conta: “A crian­ça da educação infantil é muito espontânea, tem criança que é tí­mida, tem criança que gosta mais de cantar, de dançar, isso ajuda na vida. As crianças elas se soltam, e aí você percebe como é a vivência familiar. Um exemplo é quando brincamos de cantar, os estímulos vão se tornando experiências, elas são capazes de conseguir tudo na vida, ainda que elas não tenham o dom. Por que quem se dedica vai ser bom no que faz também”.

Ser criança é mesmo uma delí­cia, é explorar um mundo sensível cheio de ideias, de correr marato­nas para ver quem ganha o primei­ro pedaço do bolo, é sentir frio e calor ao mesmo tempo, é poder ser você mesmo, com todo amor e imensidão que um ser pode ter, e provavelmente olhar para o outro com compaixão, sem sentir pena ou raiva de qualquer um pela dife­rença de cor, de corpo, de jeito, de fí­sico. É ter a “pureza” do amor e não sentir culpa nenhuma por amar. Parte da sua infância é a realidade vivenciada no hoje, nos compro­missos marcados, no olhar no ho­rizonte da saudade que é ter tido to­dos que teve lá no passado. E a parte mais bonita dela, provavelmente, foram os pais que vivenciaram.

Os estímulos sensoriais depositados na criança desde cedo são como as ferramentas mentais que ela terá disponível para usar no futuro” Marrie Ometto para o Blog Mamãe Plugada   Quando eu trabalho o brincar com a criança, eu estou estimulando a criatividade, a imaginação, e o faz de conta” Milena Rosa, pedagoga e pós-graduada em Educação Infantil   Na escola gosto mais da areia, às vezes brinco com a terra, mas acho ela um pouco dura, e a areia é muito mole. E o que mais gosto é de construir castelo de areia, porque lá moram as princesas e os reis” Helenna Loyse, de 5 anos

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