- Refeição, que caiu no esquecimento da paladar brasileiro volta a integrar cardápio de restaurantes
Às 12h de uma dia de semana, os trabalhadores vão se aglomerando e pedindo seu prato executivo, também conhecido como prato feito, ou simplesmente PF, para a comerciante Lúcia Gomes, de 55 anos. Proprietária de um restaurante na Avenida Cora Coralina, no Setor Sul, próximo ao Palácio Pedro Ludovico, sede do Executivo estadual, ela contou que dependendo do dia chega a montar 60 refeições por dia. “Por conta do preço, todo mundo deseja comer o tal prato executivo que faço, e durante todos os anos que estou aqui vi ninguém reclamando da minha comida”, relata Lúcia, que cobra R$ 10 a refeição, sem suco.
A essa altura o restaurante de Lúcia Gomes está começando a ficar cheio. Assíduos, alguns clientes vão chegando e cumprimentando a proprietária do estabelecimento, que retribui a gentileza e avisa suas assistentes para conversar com os clientes e levar o prato feito nas mesas em que eles estiverem. Momentos depois dois policiais militares pedem o tradicional almoço e ficam aguardando na porta do restaurante a comida ficar pronta, o que não leva mais de cinco minutos se o restaurante estiver vazio e mais de dez se o movimento estiver alto. “Tem dia que a correria complica nossas vidas, mas eu acho bom porque conseguimos lucrar mais quando isso acontece”, explica a proprietária, sorrindo.
No tempo em que a reportagem do DM ficou no estabelecimento, mais de dez pessoas pediram para Lúcia montar seu tradicional PF. Enquanto saboreava sua refeição, o fotógrafo José Gabriel Tramontim, 26, relatou que o prato feito lhe ajuda a encarar as atividades do cotidiano com a “barriga cheia”. “Além da relação custo benefício, o PF sustenta bastante”, afirma. De acordo com ele, quando se há pouco dinheiro na carteira, a escolha mais sensata é optar pelo prato comercial, cujo preço em restaurantes populares chega a ser cerca de R$ 2. “Vale a pena”, sacramenta.
Além de ser proprietária de um restaurante na região Central de Goiânia, Lúcia Gomes confessou que não perde a oportunidade de saborear o próprio prato feito que faz, tamanha de sua comida é a aceitação por parte dos fregueses. Ela, que fica contando os valores do caixa até por volta de 15h todos os dias, disse que apenas um prato a deixa saciada. “Ele (o prato) é bastante nutritivo, e eu após comê-lo volto a ter fome apenas na hora da janta”, diz. Mesmo com muitos vendo o prato com certa desconfiança, o comerciante também relatou que o famigerado PF é sinônimo de “estomago cheio”. “É bom isso”, frisa.
Todavia, nem todos são unânimes em dizer que o PF é bom. O estudante universitário Vinicius Silva Martins, 26, não gosta de comer só o prato feito todos os dias. Crítico da culinária comercial, ele disse que sempre procura se alimentar em sua casa onde ele mesmo prepara sua comida. “Não há comparação com a refeição feita na rua e aquela que produzimos em casa”, diz. O estudante afirmou que chegou a passar mal por conta do tempero forte que é encontrado em muitos PF´s. “Passo mal mesmo”, finaliza.
BOLSO
Arroz, feijão, bife e batata frita. Essa combinação imbatível para o paladar dos brasileiros, chamado de prato feito, começou a doer menos no bolso da população. Segundo levantamento feito em setembro do ano passado pelo economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), os quatro alimentos, juntos a outros sete que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fizeram com que o preço do PF registrasse queda média de 3,9% nos últimos doze meses.
Ao contrário do comportamento histórico de vários brasileiros, constatado na pesquisa do IPCA, Braz explicou que, na maior dispersão de variações, há uma queda generalizada de preços entre 11 itens que integram o chamado prato feito. O resultado do estudo pode ser compreendido pelo baixo aumento do preço da carne, de 1,47%, no mesmo período em que o estudo foi feito. Já o valor do feijão-carioca, bastante consumido em algumas regiões do Brasil, parte essencial no famigerado PF, despencou 56,47% e o feijão-preto caiu 31,08%.
Outro item que registrou queda expressiva foi a batata-inglesa (-48,58%), também considerado um alimento crucial em muitas mesas Brasil a fora. Por outro lado, o arroz teve redução de 5,93%. Os itens que apresentam aumento acima da média foram a cebola (28,93%), ovos (3,66%) e farinha de mandioca (3,58%). No frigir dos ovos, o preço médio por um prato do famoso PF gira em torno de R$ 7 a R$ 17, sendo a opção mais econômica de quem sai cedo de casa e volta no final do dia. Assim, o valor médio encontrado em vários locais da Capital fica na casa dos R$ 10.
Além da relação custo benefício, o PF sustenta bastante” José Tramontim, fotógrafo Não há comparação com a refeição feita na rua e aquela que produzimos em casa” Vinícius Martins, estudante universitário