O sol nasceu para todos. É o que diz o provérbio decantado em verso, prosa e nas composições musicais pelo mundo inteiro. Mas, a grande maioria somente agora está descobrindo sua importância como fonte de energia elétrica. O meio rural que sempre sofreu com a carência de luz elétrica pode dispor de mais conforto e praticidade em sua vida com o uso da energia solar. Os gastos são praticamente com os equipamentos que vão se diluindo à medida que os dias passam. Em síntese: não há taxa de energia elétrica nem ameaça de corte de luz em sua propriedade. Numa época de vagas magras, nada como economizar o dinheirinho difícil.
O Brasil soma em torno de 30 mil sistemas de micro e minigeração distribuída solar fotovoltaica. A maior parcela (77,2%) está concentrada entre os projetos residenciais. Os consumidores rurais respondem por 3,3% destes projetos, mas quando é considerada a potência instalada, o setor representa 5,6% do total. “Houve um avanço importante nos últimos anos. Em 2016, a potência no meio rural era de 0,9 megawatts, mas em 2017 passou a 8,3 MW e, este ano, a 15,8 MW”, informa o presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Lopes Sauaia.
A redução de 75% no preço da energia solar fotovoltaica em dez anos e o aumento de mais de 50% nas tarifas de energia elétrica nos últimos dois anos são os principais fatores para o incremento nos projetos de pequeno porte no País. “De 2012 para cá, a energia elétrica no Brasil ficou 499% mais cara”, destaca.
MEIO RURAL
No meio rural, então a energia solar é um achado. O aumento no custo da energia elétrica torna a opção pelas fontes de geração própria cada vez mais interessante. E entre os produtores rurais não é diferente. Os sistemas fotovoltaicos, baseados na conversão da radiação do sol em energia elétrica de forma sustentável, passaram a integrar a paisagem de propriedades rurais no País especialmente nos últimos dois anos.
Em Jataí, região sudoeste de Goiás, o produtor Valdecir Sovernigo decidiu investir num sistema para reduzir os gastos médios de R$ 40 mil mensais na conta de luz. O projeto, que levou em torno de 60 dias para ser instalado e entrou em operação em setembro do ano passado, teve custo de R$ 1,8 milhão, sendo que 80% foi financiado com recursos do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO).
O produtor acreditava que teria o retorno do investimento num prazo entre seis e sete anos, mas com os mais recentes reajustes nas tarifas de energia elétrica em Goiás, recalculou esse prazo para cerca de cinco anos. Com 305 kW de potência e 1.152 painéis, a estrutura foi planejada para atender as necessidades da propriedade onde Sovernigo trabalha com uma unidade de secagem e armazenagem de grãos e 320 hectares irrigados por cinco pivôs. No total, a área cultivada é de 1.650 hectares com soja, milho e feijão.
“Se houver necessidade, podemos ampliar o número de painéis instalados e aumentar a potência”, diz o produtor, que controla o funcionamento do sistema por meio de um aplicativo instalado no celular e disponibilizado pela empresa fabricante dos inversores fotovoltaicos. “O aplicativo também fornece as informações referentes ao benefício ambiental representado pela economia de energia”, revela.
Uma importante vantagem dos sistemas fotovoltaicos, na opinião do produtor, é a possibilidade de crédito quando o usuário não utiliza toda a potência gerada. Nesse caso, o excesso de eletricidade retorna para a rede distribuidora por meio do relógio de luz que faz a medição da entrada e da saída de energia. Assim, são gerados os créditos que podem ser utilizados num prazo de até cinco anos, segundo regulamentação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Conquista do agronegócio
A geração solar distribuída avança e já conquista também o agronegócio goiano. No País, já são mais de 31 mil mini e microusinas fotovoltaicas, a maioria, 77%, instaladas nos telhados de casas, abastecendo residências. Mas, a ampliação das linhas de crédito específicas para o setor rural e as facilidades de acesso, tem atraído cada vez mais atenção dos produtores. Ao instalar sistemas fotovoltaicos em sua propriedade eles colhem economia de até 96% no valor da fatura e – depois que o investimento é quitado – aquele valor que antes era custo com a fatura de energia converte-se em mais lucro para a propriedade.
“Já são vários os exemplos do uso da energia solar fotovoltaica em diferentes propriedades rurais seja para manter climatizados silos de armazenagem, equipamentos de irrigação ou ainda para abastecer as granjas de frangos e suínos”, explica Rodolfo de Sousa Pinto, presidente da Engie Geração Solar Distribuída, uma das líderes do mercado de microgeração solar distribuída, com mais de 2.000 instalações no Brasil. “Além da vantagem de ser proveniente de fonte renovável, a energia solar fotovoltaica proporciona economia na fatura de energia elétrica e demonstra que veio para impulsionar ainda mais o agronegócio brasileiro ampliando suas margens de lucro”, completa.
Caso, por exemplo, da Fazenda São João, localizada em Rio Verde, Sudoeste Goiano, que, desde dezembro de 2017, conta com três mini usinas fotovoltaicas instaladas pela Engie para abastecer cinco núcleos produtivos, quatro de aves e um de suínos. O investimento foi financiado por meio do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste – FCO Rural, cujo playback está estimado em cinco anos – mas com grandes chances de redução desse tempo dependendo dos reajustes tarifários futuros.
GARANTIA DAS PLACAS SOLARES
“A garantia das placas solares é de 25 anos. Então, depois de quitado o financiamento, teremos eletricidade praticamente de graça na propriedade, pagando apenas as taxas da concessionária. Essa é a expectativa e a grande vantagem do investimento na geração própria, a possibilidade de ter energia a custo próximo de zero”, explica Silvio Paravisi, proprietário da fazenda que tem capacidade de produção de cerca de 2,5 milhões de aves e 13,5 mil suínos por ano.
Os sistemas da Fazenda São João, que somam potência de 278,25 kWp e capacidade para gerar 431.250 kWh/ano, foram dimensionados para suprir o consumo de energia elétrica das granjas, injetando o excedente no sistema e podendo ser usada pelo proprietário em sua residência. “Podemos afirmar que, hoje, 100% da energia que abastece o consumo das granjas é proveniente da luz solar”, diz Paravisi.
Também o Grupo BSA, que possui cinco empresas, dentre elas a produtora de sementes da marca Boa Safra, já fechou um contrato com a Engie para instalação de uma usina fotovoltaica que irá abastecer a Fazenda Boa Vista, em Cabeceiras. Com potência de 1028 kWp, o sistema irá gerar energia para movimentar os pivôs de irrigação nas lavouras e manter a climatização dos silos de armazenagem de sementes. “Estamos muito motivados, pois, além de reduzirmos custos e termos um pay back satisfatório, passaremos a ter uma energia limpa e renovável reduzindo drasticamente o impacto ambiental e emissão de poluentes”, explica Camila Colpo, diretora comercial da Boa Safra.
O prazo de retorno estimado do investimento é cerca de cinco anos. O projeto técnico já está aprovado e a usina segue agora para a fase de instalação, que será concluída até o final de 2018. “Estamos com uma expectativa muito positiva em relação à diminuição de custos com a energia. Temos uma despesa muito alta para mantermos a irrigação das lavouras e o uso dos armazéns, que são refrigerados para manter a qualidade das sementes de uma das empresas do Grupo”, conclui Camila.
Investimento autofinanciável
A energia solar fotovoltaica proporciona vantagens financeiras para os produtores rurais, como a redução de até 96% na conta mensal de energia elétrica e a proteção contra o impacto dos picos no consumo causado pela sazonalidade da safra e, principalmente, das constantes altas no preço da energia no país que, segundo o próprio Ministério de Minas e Energia, subiu quase 500% nos últimos seis anos.
“É como se o consumidor fizesse um estoque de uma determinada quantidade de energia que vai ser fornecida constantemente pelo período de 25 anos – que é prazo de garantia das placas fotovoltaicas. Assim, vai sempre dispor daquela quantidade de energia pelo preço pago no investimento e não fica sujeito às variações do preço”, explica Rodrigo Kimura, diretor de operações da Engie Geração Solar Distribuída.
Outra vantagem está nas opções de financiamento disponíveis para o setor – a custos mais baixos – que tornam o investimento autofinanciável, uma vez que o valor que é economizado na conta da luz pode ser utilizado para pagar as parcelas do empréstimo com pouco impacto no seu fluxo de caixa. Os produtores rurais de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, por exemplo, contam ainda com linha exclusiva do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste – FCO Rural–para o financiamento de sistemas fotovoltaicos.
A linha oferece encargos médios de 5,5% ao ano, prazos para pagamento de até 12 anos e carência de três, financiando até 100% do valor da instalação. Dentre os incentivos governamentais há ainda as opções do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), direcionado aos pequenos produtores rurais com juros de até 2,5% ao. ano, prazo de até 10 anos e carência de até três anos onde os limites de financiamento são de R$ 165 mil por ano agrícola ou R$ 88 mil por beneficiário. Também o BNDES – Fundo Clima, com prazo de pagamento em até 12 anos, três anos de carência, com encargos médios de 4,03% ao ano. A Engie está habilitada junto a todos os programas para fornecer os serviços e equipamentos homologados.
Como surgiu o Programa Goiás Solar
O deputado estadual Simeyzon Silveira (PSD), presidente do Fórum Permanente de Energia e também da Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, afirmou ao Diário da Manhã que uma das metas do Fórum, desde a sua criação, em 2015, era a implantação das energias renováveis em Goiás, e, principalmente, que estas adentrassem nas mais diversas formas de utilização de energia, seja ela comercial, para utilidade doméstica, e principalmente para produção rural.
“Nós entendíamos que havia uma lacuna e que poderia ser complementada justamente com as energias renováveis. Hoje isso se tornou uma realidade através da viabilização dos projetos promovidos pelo Programa Goiás Solar, que foi desenvolvido dentro do Fórum Permanente”, expõe Simeyzon, chamando a atenção para o tema.
Segundo o presidente do Fórum, o incentivo às energias renováveis é motivo de celebração no Estado, uma vez que a complementação da matriz energética com essas fontes limpas está crescendo.
“No setor rural nós temos conseguido através deste novo modelo de produção de energia–principalmente para esse pensamento de médio e longo prazo–baratearem os custos através da energia fotovoltaica”, disse o deputado, muito empenhado na alternativa energética em Goiás.
Ele explica que neste sistema tem um playback (retorno do dinheiro investido) varia em três ou quatro anos, em um sistema que dura pelo menos 25 anos, com garantia de fábrica.
“É um modelo que para o produtor rural é muito interessante, por que hoje também tem essa consciência de sustentabilidade, e entra nesse contexto econômico, já que é um formato que a médio e longo prazo barateia o custo de produção, justamente pela geração de energia”, observa. (Colaboraram Denise Saueressig e Carlos Freitas)