Depois de muito vai e vem, informações desencontradas, reuniões e mais reuniões, foi definido nesta quarta-feira, após outra reunião com diversas entidades, que a Saneamento de Goiás (Saneago) terá que apresentar, até o próximo dia 15 de agosto, um plano de racionamento de água para o sistema Meia Ponte que vem sofrendo grande queda em seu volume devido a longa estiagem. Foram 80 dias sem chuvas em Goiás com o Meia Ponte perdendo 30% por cento de sua vazão de água nos últimos 3 meses.
Depois que a Saneago apresentar este plano de racionamento de água que será implementado na Região Região Metropolitana de Goiânia, a Agência Goiana de Regulação, Controle e Fiscalização de Serviços Públicos (AGR), vai ter 5 dias para dar o seu parecer. Após o parecer da AGR o plano terá que ser colocado em prática em 3 dias.
Participaram da reunião nesta quarta-feira além de diretores da Saneago e da AGR. representantes do Ministério Público de Goiás (MP-GO), da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos, Cidades, Infraestrutura e Assuntos Metropolitanos (Secima) e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Meia Ponte (CBH Meia Ponte), criado em 2013 com o objetivo de traçar políticas de defesa nas várias regiões do curso do rio.
Na semana passada o CBH Meia Ponte, que engloba diversas entidades da sociedade goiana, entre elas, industriais, comerciais, civis, ongs e representantes dos consumidores, fez reunião e apontou o racionamento de água como uma das principais alternativas para conter a drástica situação do Rio Meia ponte que nos 3 últimos meses perdeu 30% da sua vazão de água. O presidente do Comitê o Meia Ponte, Fábio Camargo, afirmou após a reunião que, diante da atual situação de queda no volume de água, não havia outra alternativa a não ser o racionamento.
“A conta não fecha. O natural é que você tenha pelo menos um volume no rio de 10 mil litros por segundo para o abastecimento. Destes, 2.500 l/s são para a população. 3.500 l/s são destinados a vazão ambiental. 700 l/s são destinados às indústrias e para irrigação nas fazendas. Mesmo com o corte de 50% de fornecimento de água já feito pela Saneago para as indústrias e fazendeiros, como medida de economia, a conta não fecha, ou seja, pouco mais de 6.000l/s, muito distante dos 10.000 l/s necessários para o abastecimento de água na Grande Goiânia, então tem que ter racionamento” afirmou o presidente do Comitê.
Fábio Camargo explicou que o sistema do Ribeirão João Leite ainda não está totalmente implantado e, quando for, também não vai alterar em nada a crise hídrica vivida pelo sistema do Rio Meia ponte, já que o sistema João Leite está sendo criado para atingir outras áreas onde o sistema Meia Ponte não chega, áreas estas hoje que são abastecidas por outras alternativas como os poços artesianos. “O Rio Meia Ponte é responsável por 52 por cento do abastecimento de água. O João Leite pelos outros 48%. Os dois sistemas se complementam, mas o João Leite para ter funcionamento pleno precisa ainda de muitos investimentos para que a água chegue nos lugares mais distantes”, disse.
O coordenador do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente, Delson Leone Júnior, que participou da reunião e vem acompanhando o debate sobre o agravamento da crise no abastecimento de água em Goiânia diz que além dos debates sobre os recursos hídricos para abastecimento público, foi levantado o tema de qualidade da água, uma vez que têm sido recorrentes as notícias de alteração na coloração da água para consumo humano em Goiânia.
ÁGUA SUJA
Após a intervenção da promotora de justiça Maria Cristina que também esteve presente na reunião, o técnicos da Saneago esclareceram que, em razão da recente greve dos caminhoneiros, um produto, o “diortopolifostato” de sódio, responsável pelo clareamento da água, ficou em falta por um período, o que, no entanto, não comprometeu a qualidade da água, estando a situação já normalizada.
A Saneago explicou ainda que em outros setores, como na Vila Pedroso, houve carreamento de terra para a água, alterando a sua turbidez, em razão de obras de melhoria no sistema de interligação de redes. O Coordenador do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente, Delson Leon Jr, disse ainda que em atendimento a um pedido da promotora, a Saneago passará a avisar os consumidores, no caso de obras dessa natureza, que podem alterar a cor ou a qualidade da água tratada.
FALTA DE CHUVAS
A chefe do Inmetro em Goiás, Elizabeth Alves Ferreira, em entrevista recente concedida ao jornal Diário da Manhã, afirmou que a partir de 2004 a região de Goiás vem sofrendo com as alterações climáticas mundiais e também regionais como o desmatamento de grandes áreas do Cerrado. Estas alterações climáticas e a devastação do Cerrado acabam impedindo que as nuvens se formem na região central do País. E esta situação faz com que, mais uma vez, a gente enfrente problemas de abastecimento de água como já vem ocorrendo na Grande Goiânia e alguns municípios do Estado.
SANEAGO
A reportagem do Diário da Manhã enviou um e-mail solicitando uma entrevista de um dos diretores do Saneago ou um esclarecimento se já existe algo sobre a forma de como se dará este racionamento de água definido na reunião desta quarta-feira com os seguintes questionamentos: A Saneago já tem um pré-projeto do que pode ser feito em termos de racionamento? Pode haver rodízio? Esta decisão era mesmo necessária na opinião da Saneago? Por que a situação chegou neste ponto de se aprovar aprovar o racionamento de água em Goiás?
Em nota, a Saneago informou que, “devido à solicitação da AGR, o plano está em fase de elaboração, com vários cenários previsíveis estimados. No entanto, a necessidade de implantar o racionamento vai depender do comportamento do Rio Meia Ponte, especialmente das retiradas de água pelas propriedades rurais a montante da captação da Saneago. A Saneago já está trabalhando no plano de racionamento de água que será entregue no prazo estipulado pelo MP. No entanto a companhia acredita que não será necessário utilizá-lo”, fecha a nota.
E a chuva caiu na quarta-feira
Demorou, mas quem estava em Goiânia, ontem, ouviu os primeiros barulhos de chuva por volta das 19h. Bem antes, às 17h30, a aparência já era de chuva.
A capital estava há 80 dias na seca, o que ligou o sinal de alerta dos gestores hídricos, já que a crise se anunciou primeiro nos bairros, onde começa a faltar água.
A tendência é de chuvas esparsas e rápidas nos próximos dois meses, sendo que apenas em outubro é que elas chegaram com consistência, informa o Instituto Meteorológico.
A Saneago já está trabalhando no plano de racionamento de água que será entregue no prazo estipulado pelo MP. No entanto a companhia acredita que não será necessário utilizá-lo” Nota da Saneago