Consultor da Scot, bastante conceituada no mundo do agronegócio brasileiro, Alcides Torres chama a atenção da cadeia do agronegócio para os riscos com as fake news, ou notícias falsas, bastante em moda hoje em dia. É perversa, segundo o consultor disse em conferência em Goiânia.
Depois de a Justiça Eleitoral alertar a população para os efeitos catastróficos das fake news, agora o agronegócio é quem levanta voz para dizer que as notícias falsas podem comprometer a produção de carne e a alimentação dos nove bilhões de habitantes do planeta em 2050, nas contas da FAO, o braço da ONU (Organização das Nações Unidas) para alimentação e agricultura.
Mesmo depois de pesquisa da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) mostrar, no contexto da produção de proteína animal, que o manejo adequado da pastagem permite reduzir a emissão de gases tóxicos na atmosfera, ainda é incontrolável a dispersão de fake news que atribuem o aquecimento global à produção de gado.
RISCOS DE CALAMIDADE
Analista da Scot Consultoria, Alcides Torres acredita que o fenômeno das fake news tende a levar à calamidade também a agropecuária. “As fake news, por exemplo, têm o efeito de reduzir vacinações contra a paralisia infantil”, completa o especialista. Nesse mesmo sentido, “associar o aquecimento global à produção de proteína animal pode sim ter efeito catastrófico para a nutrição humana”, salienta Torres.
Alcides Torres foi um dos palestrantes do Congresso Zootecnia Brasil. O evento ocorreu na semana passada, no Centro de Convenções da PUC Goiás, em Goiânia (GO). Em sua participação, Torres analisou as perspectivas da produção e consumo de produtos de origem animal nos próximos 50 anos.
O palestrante do Zootecnia Brasil mencionou estudos feitos pela Embrapa em 2018 para argumentar que em sistemas de produção sustentáveis integrando lavoura, pecuária e floresta, as emissões de gás metano podem ser anuladas. Sobretudo no verão, explicou Alcides Torres, quando a gramínea fica disponível em abundância, a emissão do gás é nove vezes menor em relação à estação de inverno, em que o capim está seco.
CONSUMIDOR MAIS RIGOROSO
Junto com o crescimento da população global deve expandir, nessas cinco décadas, o consumo de carne, leite, bebidas lácteas e queijos. Mas a elevação na demanda por esses produtos, apontou Alcides Torres, virá acompanhada da reivindicação do consumidor pela melhora na qualidade da carne. O produtor, para galgar espaço no mercado, terá de oferecer cortes nobres, que se destacam pela suculência, sabor, maciez, aroma e aspecto visual do alimento.
Maior evento do segmento realizado no país, o Congresso Zootecnia Brasil contou com público superior a três mil pessoas. As palestras de especialistas de 12 nacionalidades incluíram simpósios, sessões científicas, fóruns, reuniões técnicas, painéis, apresentações de trabalhos científicos e assembléias gerais.
Ao todo, 150 palestrantes se revezaram para falar sobre alimentação, nutrição e bem-estar animal, mercado pet, empreendedorismo rural e tantos outros assuntos que envolvem a zootecnia, para uma platéia formada por empresários, produtores rurais, pesquisadores, professores, extensionistas, agentes institucionais e estudantes.