- Mas há um refúgio das aves bem no coração do Setor Bueno. Confira as aventuras da vizinhança que se envolve na preservação da espécie ameaçada
Em um setor nobre da cidade de Goiânia mora um coletivo de araras de espécies diferentes. Mas um casal em especial chama a atenção: são araras-canindé, também conhecidas como araras azul-e-amarela, que estão ameaçadas de extinção.
Lá elas amanhecem em segurança, pois habitam atrás de um muro alto de uma mansão. O proprietário faz questão de manter um varal com frutas para alimentá-las.
Pela beleza e pela proximidade, os vizinhos acabaram se afeiçoando a elas, de modo que, em época de procriação, se tornam socorristas das aves, caso estas acabam envolvidas em uma situação de perigo.
Trata-se do período de aprendizagem do primeiro voo. Como as aves estão em época de procriação, os filhotes acabam se acidentando na ânsia de aprender a voar.
Aí, caem nas casas dos vizinhos, humanos, que param tudo para socorrer as belas aves.
Leodinei Moreira é um desses brasileiros anônimos que acabam se tornando heróis por contribuir na preservação da espécie, ainda que despretenciosamente.
Ele é segurança e trabalha em um loja vizinha ao ninho das araras-canindé.
Acabou se envolvendo no salvamento de uma ararinha filhote que caiu no muro do vizinho e se embaraçou na cerca elétrica.
Ele explicou que ela voou e caiu. Então resolveu ‘dar um socorro pra ela’, até ela aprender a voar.
Leodinei diz que salvou a arara por cuidado, na intenção de proteger a ave de pessoas que quisessem tirá-la de seu habitat, que é a casa do vizinho, onde há abundância de árvores e alimentos. “Temi que alguém a levasse e a prendesse. Aqui ela vai voar livremente, e eu poderei apreciar a beleza dessa ave mais vezes.
Leodinei explica que o dono do imóvel viu que as aves faziam o ninho em sua residência, então resolveu manter frutas em abundância para elas. “Não falta alimento”, afirma.
Ele contou que se afeiçoou às aves e não poderia deixá-las em sofrimento. No dia do acidente, as araras ‘pais’ ficaram gritando de cima de árvores próximas, sem poder ajudar. Isso acabou comovendo a todos, e por isso ele ajudou, juntamente com outros transeuntes, a resgatar o animal de cima do muro, embaraçado na cerca elétrica.
De certo modo, por vê-las todos os dias, ele se sente responsável pelas mesmas e acaba cuidando.
Rafaela Dias Santos relata que as araras acabam caindo naquela região, porque elas têm o ninho atrás do imóvel onde ela trabalha, que se tornou habitat delas.
Rafaela diz que quando viu a arara em apuros ficou comovida, tomada de compaixão por ver a arara bebê sofrendo e o desespero dos pais, que gritavam.
Ela relata que, como ser humano, quis proteger o animal. “Se a ararinha continuasse em cima do muro, provavelmente alguém passaria para levá-la embora. Os pais da ararinha estavam desesperados, vigiando, no extinto de proteção. E esse extinto nós também temos. Por isso, o certo é devolver o animal para a natureza”.
Ela relata que todos os dias convive com elas, porque elas sobrevoam o quarteirão, o que trouxe afinidade pela espécie.
Também disse que ajudou pensando na preservação da espécie, na tentativa de devolvê-la à família, já que a arara bebê necessita dos pais para sobreviver na natureza.
“Na verdade o filhote está aprendendo a voar. Por isso cai. Aí os pais ficam desesperados, e eu acabo me envolvendo no resgate no intuito de devolvê-lo para o ninho”. Essa já é a segunda vez que ela se envolve no salvamento das aves.
Rafaela Santos explica que nessa casa onde as araras habitam, o dono do imóvel não prende os animais, mas mantém comida suficiente para que elas se alimentem e possam viver livremente. “Durante o dia, elas ficam ausentes, mas retornam à noite para o ninho, onde fizeram seu habitat”, relata.
Ao todo, estima-se que haja em torno de nove araras morando no local.“Existe um santuário de araras bem no coração do nosso setor, e é aqui”, finaliza Rafaela.
A arara-canindé é a ave que traz na plumária as cores da bandeira do Brasil. Também conhecida como arara-de-barriga-amarela ou simplesmente arara-amarela, está ameaçada de extinção.
Talvez uma das razões seja o fato de ela deslocar-se a grandes distâncias durante o dia, entre os locais de descanso e de alimentação, e ser, por isso, uma presa fácil.
Quando esses animais são caçados para a venda, as árvores com os ninhos costumam ser derrubadas. Isso não só prejudica a reprodução de diversas espécies de aves que utilizam o mesmo ninho em épocas reprodutivas diferentes como altera por completo o habitat desses animais.
A arara-canindé costuma fazer seus ninhos em buracos no tronco, onde põem seus ovos. Os filhotes permanecem no ninho até a décima terceira semana, período no qual são alimentados pelos pais que regurgitam o alimento em seus bicos.
O bico forte dessas aves costuma ser usado também para ingerir pedrinhas, que auxiliam na trituração de sementes de algumas das palmeiras que fazem parte da dieta dessas aves raras. É o caso do buriti, tucum, bocaiúva, carandá e acurí.
As araras-canindé são consideradas “predadoras” de algumas palmeiras, porque ao triturar suas sementes impede a dispersão destas plantas. Mas vale dizer: desde o descobrimento do País, as araras (bem como papagaios, periquitos, jandaias e maracanãs) são responsáveis pela alcunha dada ao Brasil de “Terra dos Papagaios”.
Geralmente elas voam em pares ou grupos de três indivíduos. A mesma combinação é mantida quando estão em bando (de até 30 indivíduos). Muito encontrada em cativeiro, onde chega a durar 60 anos.
Existe um santuário de araras bem no coração do nosso setor, e é aqui” Rafaela Santos Temi que alguém a levasse e a prendesse. Aqui ela vai voar livremente, e eu poderei apreciar a beleza dessa ave mais vezes Leodinei Moreia