Cultuado desde a escola Bauhaus, considerada marco para o surgimento do Design como área de formação, o incompreendido e muitas vezes confundido Design muda de pele, ao tempo em que serpenteia pelo lastro da História, esfregando-se em serifas, padrões cromáticos e heurísticas, buscando na antropometria o espaço exato para, ergonomicamente, se adaptar aos novos tempos.
De Programação Visual e Projeto de Produto, os antigos cursos de Desenho Industrial se renovaram nos anos 2.000 com o termo Design, ampliando sua atuação para as áreas de moda, games, interfaces, interação, experiência e tantas outras demandas que a contemporaneidade abriu como base para esse trabalho, que não resta outra alternativa que atender o chamado, renovando a pele, considerada pelo comunicólogo Derrick de Kerckhove, como sendo da cultura. A cultura clama pela renovação da área que, mesmo não sendo berço da inovação, é um dos vetores que conduzem a ela. Design e inovação parecem manter um caso raro de amor, senão de cumplicidade. Apple está aí para oferecer seu DNA como prova irrefutável do vínculo. E não só a Apple.
Mas eis que retumba um brado, convocando a área para novos desafios, agora não mais centrados em uma quase metalinguagem, com as preocupações praticamente superadas sobre tipografia, padrão diagramático e cromático. O desafio agora é da ordem da complexidade, da interatividade, das multiplataformas de informação e comunicação e de uma sociedade que se tornou complexa em suas relações. A área do Design, como ordenadora de relações entre o humano e o mundo, se apresenta como perspectiva crescente de atendimento de demanda, projetando relações, engajamentos, interações e modelizações que vão desde cidades até diálogos entre humanos e não humanos. De poltronas dos novos carros a placas fotovoltaicas que convertem casas em micro usinas. Que convergem mentes em diálogos, enfrentando problemas mais complexos que uma página em branco.
O novo Design emerge em discussões pelo mundo, renovando discursos e projetos, efeitos e funções, cursos e atuações. E esse vento que lambe a superfície terrestre chega ainda com força de brisa em um Brasil que olha o passado, perdendo o sopro do futuro que inspira outras nações. O Design brasileiro, ele mesmo, carece ser objeto de seu estudo, buscando solução para sua existência. A renúncia à invenção da roda, metáfora de currículos de uma Bauhaus preocupada com um modelo produtivo já superado, é uma emergência. O abraço ao digital, à complexidade da sociedade e de suas relações entre humanos e não humanos ressona pelos quatro cantos do mundo, reivindicando as inovações não exatamente das interfaces gráficas dos aplicativos, mas de relações, como a gênese do Design desenhou, e cujo DNA explode em soluções inventivas e inovativas pelo mundo, ajudando a conceber um admirável mundo novo, ao tempo em que renova a pele da área que se acostumou a consagrar feras e a ser a pele da cultura.