Um grupo de pastores e bispos da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola informaram ruptura com a gestão brasileira, ao assumir 35 templos da instituição em Luanda e cerca de 50 em outras províncias do país, como Lunda-Norte, Huambo, Benguela, Malanje e Cafunfo.
Em nota oficial, a Igreja Universal do Reino de Deus de Angola afirmou que alguns templos no país foram invadidos "por um grupo de ex-pastores desvinculados da Instituição por práticas e desvio de condutas morais e, em alguns casos, criminosas e contrárias aos princípios cristãos exigidos de um ministro de culto". A Universal diz, no documento, que os ex-pastores teriam usado a violência e promovido "ataques xenófobos", além de agredir pastores, esposas de pastores e funcionários "com objetivo de tomar de assalto a igreja, com propósitos escusos".
O controle da Universal em Angola será assumido pelo bispo Valente Bezerra Luiz, então vice-presidente da igreja, que passará a ser chamada e Igreja Universal de Angola, segundo o grupo. Ainda, de acordo com os dissidentes, 42% dos templos já estão sob seus comandos.
Denúncias
O grupo de líderes angolanos também acusam a direção brasileira de evasão de divisas, expatriação ilícita de capital, racismo, discriminação, abuso de autoridade, imposição da prática de vasectomia aos pastores e intromissão na vida conjugal dos religiosos.
O terreno para a ruptura já vinha sendo preparado desde novembro do ano passado, com a divulgação de um manifesto com críticas à direção da igreja no Brasil.
O documento, com a assinatura de 320 bispos e pastores, foi encaminhado ao principal líder da igreja no país, o bispo brasileiro Honorilton Gonçalves, ex-vice-presidente da TV Record. Mas, o pedido de que os líderes brasileiros deixassem o país para que a instituição passasse a ser administrada apenas por angolanos, não foi atendido.
O porta-voz do grupo, Dinis Bundo, identificado como obreiro da Universal, protestou sobre as regalias aos religiosos brasileiros. De acordo com ele, as melhores igrejas sempre foram destinadas aos brasileiros, além dos bons salários e carros modernos.
Em nota divulgada à imprensa, o corpo de pastores denunciou "atos de arbitrariedades" que vinham sendo praticados direção da Universal em Angola.
Também informou que o bispo Honorilton Gonçalves estaria perseguindo, punindo e intimidando bispos e pastores angolanos.
Ainda, de acordo com a nota, além da vasectomia compulsória a pastores, suas esposas eram obrigadas a abortar.
Entre tantas denúncias, a nota cita também a "falsificação de ata de eleição de órgãos sociais da IURD", emissão de procurações com plenos poderes a cidadãos brasileiros para exercer atos reservados à assembleia geral, proibição às mulheres de pastores de terem acesso à formação acadêmica-científica e técnico-profissional, irregularidades no pagamento de segurança social dos pastores e falta de projeto de desenvolvimento pastoral em formação teológica específica.
Resposta aos ataques
A Igreja Universal disse que os invasores espalharam "mentiras absurdas, como essa acusação de racismo", para confundir a sociedade angolana. "Basta frequentar qualquer culto da Universal, em qualquer país do mundo, para comprovar que bispos, pastores e fiéis são de todas as origens e tons de pele, de todas as classes sociais. Em Angola, dos 512 pastores, 419 são angolanos, 24 são moçambicanos, quatro vieram de São Tomé e Príncipe e apenas 65 são brasileiros", afirmou em nota a instituição.
Segundo a Universal, a suposta obrigação da vasectomia é um exemplo de fake news "facilmente desmentida pelo fato de que muitos bispos e pastores da Universal, em todos os níveis de hierarquia da Igreja, têm filhos". O que a Instituição estimula, conforme a nota, "é o planejamento familiar, debatido de forma responsável por cada casal".
E conclui: "Esclarecemos que, respeitada a unidade de doutrina da fé que une a Igreja Universal do Reino de Deus em todos os 127 países onde está presente, nos cinco continentes, a Universal de cada nação dispõe de total autonomia administrativa para encaminhar e resolver suas questões locais, sempre observando as leis e as tradições. O que se espera é que as autoridades restabeleçam, com urgência, a ordem legal e possam assegurar que a Universal continue salvando vidas e prestando ajuda humanitária em Angola, como faz há 28 anos".
*Com informações do UOL