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Sônia Braga completa 70 anos como uma das figuras mais importantes da TV e do cinema

Sônia Braga é um patrimônio da TV e do cinema. Ao longo de sua carreira, converteu-se em mito sexual. Objeto de desejo. Deixava homens – e também mulheres, por que não? – com o queixo no chão. Beleza resplandecente, a de Sônia. Nos anos de 1970, lá pelos idos de 1976 a 1981, a atriz trabalhou em três filmes que se tornaram clássicos do audiovisual brasileiro – “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, de Bruno Barreto, “A Dama da Lotação”, dirigido por Neville D'Almeida, e “Eu Te Amo”, obra estrelada pela musa ao lado de Paulo César Pereio. É do icônico longa-metragem, aliás, a famigerada frase de Pereio a Sônia: “cala a boca e transa, porra”.

A par das qualidades cinematográficas do período da Embrafilmes, órgão fomentador do cinema durante o período da ditadura, os três filmes foram estrondosos sucessos de bilheteria. Sônia Braga, a deusa do público. Sônia Braga, a rodrigueana. Sônia Braga, a dama do pecado. Tanto que as fronteiras do Brasil viraram pequenas para a atriz cravo e canela, assim como a protagonista do romance de Jorge Amado. Sônia ganhou o mundo. Lá fora, filmou com Robert Redford e Clint Eastwood. Quase, por pouco, muito pouco, diga-se de passagem, não abocanhou o Golden Globo, o Emmy e o Bafta, alguns dos prêmios mais importantes do audiovisual.

Em Cannes, durante exibição de 'Aquarius', atriz protestou contra governo de Michel Temer - Foto: Cleiton Thiele/Agência Pressphoto... -

Nesta segunda-feira (8), a paranaense de Maringá – mesma terra daquele capataz da toga que é localizada no mesmo estado deste subscrito proletário da palavra aqui, embora isso tenha pouca relevância, risos – completou 70 anos. Talvez a atriz não seja mais párea pros pin-ups do momento, porém ela sob hipótese alguma – jamais, jamais  – perdeu o rumo no caminho da glória. A Sônia com sete décadas de vidas e anos bons de carreira se tornou a musa do pernambucano Kleber Mendonça Filho em dois filmes que sempre devem ser aclamados pelo público e pela crítica, “Aquarius e Bacurau”, cujos mais belos adjetivos serão insuficientes para descrevê-los. Sônia é a nossa Marilyn Monroe.

As páginas da memória do cinema brasileiro registram aquele protesto nas escadarias do palais de Cannes. Os cartazes empunhados pela equipe de “Aquarius” ressoaram pelo mundo. Sônia e Kleber entraram na mira das milícias que, dois anos depois, chegaram ao poder no Brasil. Não se intimidaram. Seguiram, ela e o cineasta, fazendo filmes. No ano passado voltaram para o cultuado festival e foram premiados com “Bacurau”, longa distópico que, embora tenha começado a ser filmado durante o governo Temer, cabe como uma luva de pelica no contexto atual. Dona de uma trajetória singular, Sônia Braga exibe as rugas de uma vida bem vivida.

Sim, é imprescindível para a nossa memória cultural rememorar como foi a carreira dessa mulher que não briga com o tempo, apenas o aceita. Sua estreia no cinema ocorreu num filme que se tornou um marco – a atriz foi uma das vítimas em “O Bandido da Luz Vermelha” (1968), do diretor Rogério Sganzerla. No ano seguinte, fez a personagem Odília em “A Menina do Veleiro Azul”, na televisão. Não parou mais: “Irmãos Coragem”, “Selva de Pedra”, “Vila Sésamo”, “Fogo sobre Terra” – só pra citar algumas atrações das quais fez parte. Em 1975, consagrou-se com “Gabriela”, novela da Globo. Era o primeiro encontro com Jorge Amado. No cinema – “Dona Flor”, outra do escritor baiano.

Sônia Braga trabalhou ainda fora do Brasil com o ator Robert Redford e com o diretor Clint Eastwood - Foto: Marcos Ribas/Brazil News

Sucederam-se Solange, a dama do lotação. Maria, em “Eu Te Amo”. De novo à TV, foi Júlia Matos em “Dancin' Days”, de 1978, surfando na onda das discotecas. Em 1985, o tríplice papel em “O Beijo da Mulher Aranha”, de Hector Babenco, que lançou seu charme para o mundo todo. Seguiram-se “Luar sobre Parador”, “Rebelião em Milagro”, “Rookie - Um Profissional em Perigo”, “Amazônia em Chamas” e um gigante etcetera. Nos anos 80, foi mais uma vez Gabriela, agora com o ator italiano Marcello Mastroianni como Nacib. Em 1996, viveu sua terceira heroína amadiana, a Tieta do Agreste. Enveredou pelo mundo das séries americanas, atuando em “Sex and The City” e “CSI: Miami”.

Sônia já disse que abriu mão de ter filhos pra se dedicar à carreira. Mas teve, sim, amores. Se é verdade ou não, pouco importa – vale imprimir esta lenda na Galáxia de Gutenberg, como diz o jornalista Xico Sá -, mas Caetano Veloso teria feito pra ela os versos  “Uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel / Uma mulher, uma beleza que me aconteceu”. Hoje, a atriz divide-se entre casas nos Estados Unidos e no Brasil. Sônia Braga, por essas e por outras, é internacional, no entanto não abre mão de ser brasileira. Fez campanha contra Jair Bolsonaro. Criticou a política indígena do mandatário. Em entrevistas, dedicou “Bacurau” a Marielle Franco. Sônia Braga vive, ainda bem.

Três filmes para conhecer Sônia Braga

‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’

Dona Flor (Sônia Braga) se casa com Vadinho (José Wilker), que é muito bonito e apaixonado, mas não lhe oferece muito. Ela sustenta a família cozinhando para seus vizinhos, mas o marido aposta a maior parte do dinheiro. Vadinho morre repentinamente e Dona Flor começa a sentir falta do casamento. Ela se casa com o médico Teodoro Madureira (Mauro Mendonça), mas ele é o oposto de Vadinho.

‘A Dama do Lotação’

Solange (Sônia Braga) e Carlos (Nuno Leal Maia) se conhecem desde a infância e se casam. Na noite de núpcias, Solange resiste ao seu marido, que, impaciente, acaba estuprando-a. Solange fica traumatizada e, apesar de desejar Carlos, não quer mais nada com ele. Para se satisfazer, ela começa a fazer sexo com homens que não conhece.

‘Eu te Amo’

Não bastasse ser deixado pela mulher, Paulo (Paulo César Pereiro) também enfrenta a ruína financeira. O rapaz anda pela cidade fora de si até conhecer a prostituta Mônica (Sônia Braga), que, decepcionada com o amante, se deixa seduzir. O casal vive um tórrido romance, mas revela-se perturbado por questões de amor, solidão e poder

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