Nesta segunda-feira (28), o portal G1 divulgou um levantamento feito junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que aponta que nas eleições 2020 há o maior número de candidatos negros já registrado. Desde 2014 quando o TSE passou a coletar informações de raça é a primeira vez que os bancos não são a maioria dos concorrentes.
De acordo com os dados do tribunal, os candidatos negros representam 49,9% dos concorrentes deste ano, ao todo, entre pardos e pretos são 272 mil candidatos. Já os brancos representam 47,8%, sendo um total de 260,6 mil candidatos autodeclarados brancos.
Uma classificação utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), considera como negros os pretos e pardos. Essa classificação foi utilizada no levantamento. Caso contrário, se fossem considerados apenas os candidatos negros, sem incluir os pardos, o número seria de 57 mil.
Conforme os dados do IBGE, 56,2% dos brasileiros são negros. Por sua vez, a população de brancos é de 42,7%. Dessa forma, mesmo com o aumento de candidatos negros ainda há subrepresentação no atual pleito.
Cargos
Mesmo que nas eleições 2020, os negros representem mais candidatos que os brancos, quando levado em consideração o cargo disputado é notável que a representatividade permanece prejudicada visto que os candidatos brancos ainda são a maioria disputando as prefeituras e vice prefeituras.
Os brancos somam 63% dos candidatos a prefeito e 59% dos candidatos a vice. Em contrapartida, para os cargos de vereador, os negros são a maioria dos disputantes. Contudo, há partidos que têm mais de 80% dos candidatos brancos.
Recursos
O perfil racial dos candidatos tem levantado discussões e protestos dentro dos partidos depois que o ministro Ricardo Lewandowski determinou a divisão proporcional de recursos e propaganda eleitoral entre candidatos negros e brancos.
Mas, para o professor de Ciência Política da UFMG, Cristiano Rodrigues, houve nos últimos anos vários movimentos que resultaram no aumento das candidaturas negras. "Um deles é o efeito Marielle. Ela se tornou um símbolo e tem motivado várias pessoas negras a entrar na política", afirma.
Ainda de acordo com Cristiano é também uma forma de reação ao governo federal, após adoção de posturas que podem ser consideradas racistas. “Levam os negros a não se sentirem representados", diz o professor. Ele salientou que a questão racial vem ganhando espaço na mídia e no debate público tanto no país quanto internacionalmente.
Mudança na declaração de negros
O levantamento do G1 mostra que muitos candidatos mudaram suas declarações de raça entre as eleições de 2016 e 2020, segundo o TSE. Segundo o portal, mais de 25 mil candidatos fizeram mudanças, sendo que 40% deixaram de ser brancos e passaram a se considerar negros.
De acordo com o professor-assistente do departamento de ciência política da Universidade da Flórida Andrew Janusz, “os brasileiros estão ficando mais conscientes de sua cor”. No entanto, o especialista também não descarta a possibilidade de fraude.
Em 10 anos, o número de brasileiros que se autodeclaram pretos aumentou em quase 5 milhões segundo o IBGE. Além disso, os pardos subiram em mais de 7 milhões entre 2012 e 2018. Ou seja, em seis anos, o Brasil registrou quase 12 milhões de declarações de pessoas que se consideram negras.
Os especialistas atribuem os índices a uma maior identificação negra por parte dos brasileiros. “O que aconteceu não é diminuição de pessoas brancas no Brasil, é o aumento de pessoas se declarando pardas e pretas. É o aumento de identificação, informação, o aumento de consciência”, esclarece a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Fernanda Lira Goes.