O jornalismo perdeu na tarde desta segunda-feira, 23, o designer gráfico João Spada, um dos mais conceituados profissionais da área no país. Ele estava com 59 anos.
O profissional trabalhava em casa quando sofreu um enfarte fulminante.
Spada atuou em vários órgãos de imprensa. Atualmente editava a parte gráfica do Diário da Manhã.
Experiente e militante do jornalismo impresso, Spada aliava um design objetivo e atento às modernidades: evitava abuso de cores e optava por fontes clássicas redesenhadas por designers modernos.
Era um pesquisador habitual de tecnologias e softwares, sempre demonstrando interesse pelas novidades das indústrias gráficas.
Humanista, costuma demonstrar sem meias palavras sua opção política: era da “velha esquerda”, a que não se corrompia nem dialogava com a política sectária.
Spada era ativo nas redes sociais. A última contribuição ocorreu na publicação do amigo Welliton Carlos, que também edita o DM. O jornalista falava da eleição ‘surreal’ de Goiânia, que ocorrerá de forma inusitada, sem debates e com um candidato na UTI.
Spada comentou da forma que sempre fez - crítico, mas equilibrado: “Complicado a situação de Goiânia, 4 atores, cada um seu dilema. Um não sabe se sobrevive, o outro um pastor (de uma igreja?) sabe-se lá a que veio, o outro conselheiro mor dos 3 filhos e seguidor fiel das doutrinas do clã, e o último um sempre paraquedista, que sempre lhe cai de bom grado na mão os cargos que ocupa”.
Spada gostava de boa música popular brasileira, jazz e blues. Costuma ler muito. Quando encontrava algum título errado ou com equívoco chamava a atenção do editor com responsabilidade.
Fazia planos de morar no Espírito Santo, próximo a uma praia. De lá trabalharia online e de forma remota, talvez a partir de 2021.
Na sexta-feira, 20, após o fechamento da edição, se despediu dos amigos no grupo de conversa privada dos editores um pouco misterioso: “Amanhã, um dia especial!”.
Um dos integrantes questionou: “Que motivo, Spada?”. Ele retrucou: “Um dia que ainda vai ser reverenciado como o dia que nasceu a pessoa mais importante do mundo”. O jornalista Carlos Pereira retrucou a brincadeira: “Quem? Quem? Raimundo Nonato?”. Faltavam poucos minutos para o aniversário de Spada: “Sou mais modesto. A farra será depois da vacina. Vamos comemorar todos!”.
Spada então ainda informou um desavisado que não entendeu a brincadeira: “É simples de explicar: há 59 anos o mundo se rendeu ao nascimento do cara que é o máximo”.
Segundos depois, após finalizar tudo e checar os PDFs, ele comunicou a última fala do grupo em tempos de pandemia como sempre fazia todos os dias: “jornal na gráfica e no universo pelas ondas da www! Fui!!!”.
Tragédia
O presidente do DM, Júlio Nasser, afirma que a morte de Spada é uma tragédia, pois o designer e diagramador era uma pessoa fina, solicita e educada, "sempre disponível e pronto para ajudar".
Marcus Beck, editor do "DMRevista", lamenta e diz que aprendeu muito com o amigo. E Helton Lenine, editor de Política, que o conhecia desde outras redações, salienta a expressividade do trabalho do colega e sua prontidão: "Ele era rápido e procurava resolver os problemas. Era metódico".