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''Volta Rita que eu perdoou a facada'', homens também são vítimas de relacionamentos abusivos

''Sua ausência tá fazendo mais estrago que a sua traição lê lê lê lê...'' O hit que bombou nos últimos meses fala de Rita, aparentemente uma mulher brava, que traiu o marido e foi embora. Envolve até mesmo caso de polícia, pois a todo momento dá a entender que, Rita teria tentado matar o ex companheiro com uma facada. No entanto, em entrevista, o cantor do hit, Tierry, esclareceu que não é bem assim. De acordo com ele, a facada tem sentido figurado. Pois ''perdoar a facada é perdoar uma traição''.

Ainda que a personagem da música e todo seu contexto seja totalmente fictício, na realidade atual, será que os homens também são vítimas de relacionamentos abusivos? Como você homem pode identificar se passa por essa situação? Todo tipo de violência contra a mulher hoje é um tema amplamente noticiado pelos meios de comunicação, a todo momento e em todo canto do mundo. É uma pauta social de extrema relevância onde a intenção é sensibilizar e conscientizar a sociedade, em específicos as mulheres, a buscarem ajudas e punições mais severas contra os agressores.

Ainda pouco debatido pelos meios, os homens também são vítimas de relacionamentos abusivos. O silêncio sobre o assunto diz muito sobre os padrões estéticos e sociais que estão enraizados na nossa sociedade, os quais pautam a figura masculina como ''o macho hetero''. Muitos destes, em maioria dos casos, são controlados, vigiados e até perseguidos por suas companheiras. Sofrem violência física e psicológicas.

De acordo com especialistas, 90% destes casos, o que mantém o anonimato de tantos dramas vividos pelos homens, é o machismo. E isso faz com que o assunto tenha cada vez menor visibilidade e divulgação na mídia. Totalmente o contrário quando se trata de mulheres. Este é um caso reverso, pois o público masculino por sua vez, sentem vergonha de denunciar suas companheiras, as chantagens emocionais, e quando envolve bens materiais e filhos, a situação fica ainda pior.

Para a psicóloga Drª Márcia Maria, especializada em psicologia da saúde e terapia familiar, na grande maioria, a violência é psicológica: ciúmes excessivo, falta de confiança no parceiro, manipulação, chantagem (muitas vezes a companheira usa os filhos para ter o controle sobre o esposo). De acordo com ela, além das chantagens psicológicas, existem casos de agressão física praticada por mulheres. ''Também existe a violência física em um número menor, mas ocorre, tem mulheres que arranham, que quebram coisas, que vai atrás do esposo em locais públicos e acabam agredindo de várias formas e na frente de amigos e familiares, gerando cenas constrangedoras e humilhantes para ambos''. Ressalta a psicóloga.

Há uma falta de seriedade com esse assunto entre as pessoas, até mesmo entre as autoridades, quase nunca se vê casos noticiados nas mídias de qualquer tipo de agressão praticada por mulheres contra seus companheiros. No último domingo (10), um homem de 35 anos foi morto à tiros pela a companheira em um apartamento de luxo no Horto Florestal, bairro nobre de Salvador, Bahia.

De acordo com informações registradas pela Polícia, Elton Gonçalves Campelo foi atingido com um tiro na cabeça. Logo após o crime, sua companheira cometeu suicídio. Geralmente, casos como este acontecem porque os homens nunca denunciam qualquer tipo de agressão cometido por suas companheiras, seja ela verbal ou física.

O machismo estrutural afeta a toda sociedade em diversas maneiras. Mesmo as mulheres sendo as maiores vítimas, os homens também sofrem com essa imposição social. Muito é discutido sobre essa estrutura colocando sempre o homem como agressor e a mulher como vítima, o que de fato tem total importância e deve ser muito debatido. Mas quando o homem é posto como vítima, existe uma dificuldade e até mesmo uma negação em aceitar essa condição.

De acordo com a psicóloga Márcia Maria, existe também a violência moral e sexual: ''Calúnia, a companheira difama o parceiro ou ameaça de difamar caso ele não acate suas exigências. Violência sexual: Quando o parceiro se vê obrigado se relacionar sexualmente por causa de algum tipo de chantagem ou manipulação'', destaca Drª Márcia.

Márcia Maria ressalta ainda que, quando um homem passa a sofrer qualquer tipo de abuso, chantagem, ou sofre violência doméstica, ele se cala por vergonha, ou medo. ''Até hoje existe uma cultura machista na qual o homem é o elo forte da relação, que ele tem o poder de controlar a família. Os tempos mudaram, mas quando se tem notícia de que um homem foi vítima de violência doméstica, ele é questionado na sua virilidade, muitas vezes sofre mais humilhação e isso faz com que a maioria se calem. Isso faz com que ele se afaste dos amigos e familiares por medo de ser motivo de piadas entre eles. Ele acaba se fechando o que pode levar ao adoecimento mental''. Afirma.

Distinção de gênero entre quem é o abusador e quem é a vítima

Vivenciamos um quadro social onde o ciúme é o principal fator que leva uma pessoa a praticar qualquer tipo de abuso ou agressão contra seu parceiro (a), nas quais se definem com quem se deve andar, com quem se pode falar e ter amizade, quais lugares pode frequentar, quais roupas podem usar e vários outros fatores do tipo dentro de um mal relacionamento.

Além do ciúme, existem vários outros motivos que leva uma pessoa a cometer tais atitudes. Como por exemplo, traição, exigências sexuais etc. O que deve ser levado em consideração é, não existe uma distinção de gênero entre um abusador e uma vítima dentro de um relacionamento. Assim como os casais heteros sofrem várias consequências de um relacionamento tóxico, os casais LGBTQIA+, também são alvos.

Ainda pouco discutido tanto pela sociedade, quanto pela a mídia em geral, os relacionamentos homossexuais também tem seus altos e baixos. Não é porque é LGBTQIA+ que a pessoa está livre de vivenciar relações abusivas, ou inclusive, de cometer essas ações. Como brevemente pontuado, a sociedade possui em sua construção a base de relações patriarcais, sexistas e machistas, que fomentam ações. Ao passo que as relações homoafetivas estão em um grau de paridade, não há uma hierarquização de gênero, passa a existir na verdade a hierarquização do poder, aquele ou aquela que domina na relação, ou o dito ativo ou passivo.

Para a Psicóloga Lorrane Moreira Cardoso, formação em psicologia clínica com base humanista, Pós-graduanda em Saúde Mental e Atenção Psicossocial, com atendimento a adolescentes, adultos e casais, os homens também são vítimas de relacionamentos abusivos, principalmente nos dias atuais, com novos modelos de relacionamentos e dentro da comunidade LGBTQIA+.

Lorrane ainda ressalta que, ''Relacionamentos abusivos não retratam apenas relações entre casais, mas também círculos familiares, relações de trabalho e amizades''. Para a psicóloga, não existe distinção de gênero entre quem é o abusador e quem é a vítima, e sim há uma diferença em relação aos números.

Os sinais começam de forma sutil, o abusador normalmente faz a vítima desacreditar de si mesma através de manipulação psicológica, criticas disfarçadas de elogios, piadinhas inofensivas.

A psicóloga Lorrane Moreira ainda ressalta que, ''Para que o relacionamento dure, o abusador faz com a vítima acredite que ela é culpada por toda situação (ofensas, traições e agressões), afastando a vítima de suas convicções, da família e qualquer coisa que possa ser fonte de saúde e amor para ela, passando a ser tudo que a vítima tem, pois destroem as demais relações, a autoestima, o amor-próprio e a segurança em si mesmo''.

Sobre o gênero, Lorrane Moreira complementa ''volto a dizer, o gênero não quer dizer quem pode ser ou não abusador ou vítima, o que temos são indivíduos com características psicológicas que compõem um perfil de abusador ou de vitima''.

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