A mandioca (Manihot esculenta Crantz) desde sempre é cultivada e principalmente a raízes consumida em todas as regiões do Brasil, sendo também um dos principais alimentos dos países em desenvolvimento devido a sua alta fonte de energia. Dela se aproveita todas as partes da planta, desde as raízes, que são ricas em amido, até a parte aérea, que pode ser usada para a alimentação animal por seu teor de proteína. Pode-se classificar pela concentração de ácido cianídrico (HCN), como de mesa ou mansa com teor menor de 50 g kg-1 HCN e de industrial ou brava maior de 100 g kg-1. Ambas possuem diversas formas de uso, prevalecendo “in natura”, para mandioca mansa e para a obtenção de farinha, amido e etanol a de indústria, além da produção de cerveja mais recentemente. Ambas têm seu foco na agricultura familiar em produtores de pequenas áreas.
Os valores médios de rendimento da cultura são 15,21 e 16,10 toneladas por hectare para o Brasil e o estado de Goiás, respetivamente, segundo (IBGE, 2021), muito abaixo do potencial produtivo da cultura, que na ausência de estresses está acima de 90 toneladas por hectare, entre os fatores que podem afetar a produtividade estão: 1) a utilização de cultivares não adaptadas às antigas, 2) o inadequado manejo agronômico e 3) o baixo nível tecnológico de cultivo. Então, a validação e seleção de novas cultivares de mandioca melhoradas e adaptadas às condições edafoclimáticas é uma das estratégias para se promover o melhoramento do sistema de produção.
Nesta ordem, a Agência de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (EMATER) Goiás, retomou no ano 2018 o projeto de melhoramento genético de mandioca de mesa e industrial na Estação Experimental de Porangatu da EMATER, com o intuito de obter novas variedades adaptadas às condições edafoclimáticas do estado de Goiás.
Em forma paralela a EMATER também continuou com a linha de pesquisa de seleção e recomendação de novas variedades de mandioca usando a metodologia da validação participativa integrando agricultores, extensionistas e pesquisadores com o fim de propiciar o intercâmbio de experiências, incrementando a possibilidade de uso dos materiais selecionados e o treinamento em novas técnicas de cultivo.
Durante as safras 2018, 2019 e 2020 foram avaliadas dez variedades (5 de Embrapa Cerrado, 3 materiais locais, 1 do IAPAR Paraná e 1 do IAC de Campina) de mandioca de mesa e cinco de indústria (4 Embrapa Cerrado e 1 IAC 12 IAC Campina), a maioria provém da parceria EMATER-EMBRAPA Cerrados em quatro mesorregiões distintas do estado, principalmente nas Estações Experimentais 1) Nativa do Cerrado, município Goiânia; 2) Fazenda Santa Vitória, município Araçu; 3) Porangatu, município Porangatu e 4) Assentamento Bacuri, município Uirapuru. Os experimentos de mesa e indústria foram colhidos com 12 e 18 meses após o plantio, respectivamente.
Resultados experimentais
Caso experimentos de mesa A variedade BRS 429, recentemente registrada pela Embrapa Cerrados, ainda não liberada, apresentou maior altura de plantas, altura da primeira ramificação, considerando que a propagação vegetativa (manivas) depende desses caracteres, além do número de haste. Enquanto, a variedade local Cacau teve o maior rendimento da parte aérea 43,11 t ha-1, em todos os locais, superando em 90% a BRS 398 que apresentou o menor rendimento, esta característica pode ser interessante para aqueles produtores que desejam utilizar a parte aérea na alimentação animal.
As variedades mais produtivas para raízes foram BRS 429 e BRS 397 com 264,42% e 343,45% a mais que o rendimento médio nacional para 2020, com destaque para BRS 396 e para BRS 398. Outra variável fundamental é o teor de amido que esteve influenciado pela a variedade e o ambiente, deste modo os maiores registros foram obtidos para BRS 429 e Branca Pancinha, com ressalte para Cacau e IAPAR 19 que apresentaram valores superiores ao 30%, assim essas cultivares de mesa poderão ter dupla aptidão.
Para consumo “In Natura” o tempo de cozimento tem maior importância no comercio de mandioca de mesa, sendo IAPAR 19 e IAC 576 com 16,42 minutos as variedades que mostraram menor tempo, as outras variedades ficaram entre 17,54 e 24,16 minutos. Os menores tempos de cozimento são desejados porque representam economia de energia e baixo tempo de ocupação, ambas características desejadas pelo consumidor.
Caso experimentos de indústria
Para as variáveis da parte aérea, destacam-se as variedades BRS 417 e BRS 418, superando a média dos experimentos e da testemunha IAC 12 -variedade mais plantada no estado de Goiás-. Estas características determinam a quantidade de semente (manivas) como material de reprodução na seguinte geração.
As variáveis produtivas de rendimentos da parte aérea e raízes, assim como teor de amido, são consideradas de grande importância para a produção de mandioca de indústria e estes últimos para seu uso em cervejaria, Assim, a variedade mais destacada foi BRS 418 com 89,08 e 83,33 (t ha-1) seguida de BRS 419 para rendimento da parte aérea e raízes. No entanto, em Uirapuru, as mais produtivas para raízes foram IAC 12, BRS 420 e BRS 418 com 83,20, 81,80 e 77,80 (t ha-1).
Para o teor de amido em raízes as variedades mostraram alta variabilidade entre os locais, destacando BRS 417 com média de 32,3% nos quatro locais, seguida de BRS 418 com 30% enquanto IAC 12 apresentou a menor média 23,6%. Assim, o rendimento de amido por hectare é considerado o principal parâmetro para selecionar variedades de indústria, representando o potencial produtivo, resultando a melhor variedade BRS 418 (24,67 t ha-1), seguida BRS 420 para o cerrado do estado de Goiás.
Finalmente, a cultivar de mesa BRS 429 com o melhor comportamento para a maioria das características avaliadas, pode ser recomendada, bem como as cultivares, BRS 397, BRS 398 e branca Pancinha. Enquanto para indústria a melhor variedade foi BRS 418 seguida da testemunha IAC 12, a seleção vai depender da preferência do agricultor, pois apresentam rendimentos de raízes e produção de parte aérea adequados para o Cerrado goiano.