A pobreza invisível vai muito além do apagão de dados que temos no Brasil pelo atraso do Censo Populacional que é realizado a cada década. A concentração de renda sempre esteve em níveis inaceitáveis e cruéis. Na pandemia o que era ruim ficou trágico.
“Pela primeira vez, ficou claro que coisas que consideramos básicas no nosso dia-a-dia como água e sabão, moradia digna e acesso à saúde eram privilégios que uma camada muito expressiva da população brasileira não tinham e continuam não tendo. Essas pessoas vivem sem o básico e não veem meios ou formas de dar o seu grito para se fazerem ouvir por nossos governantes e nossas elites”, afirma o sociólogo Lehninger Mota.
Dados da Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social (SDHS) mostram que, desde o início da pandemia, a população em situação de rua de Goiânia sofreu aumento de pelo menos 50%, passando de 1,2 mil para 1,8 mil.
Morei nas ruas de Goiânia por seis meses e é tenso, você não dorme só cochila porque tem muita gente ruim. Quando chove é ainda mais difícil e não tive nenhuma ajuda do poder público”, relata o auxiliar de motorista Fabiano Aquino de Oliveira.
Essa pobreza extremada degrada o que chamamos de democracia, que deveria ser um governo do povo, mas que na realidade é um arranjo político-institucional que perpetua nossas desigualdades sociais e favorece que uma parcela da nossa nação viva em uma pobreza que é desconhecida ou ignorada pelos concernidos.
“Vivem em sub-moradias ou em condição de rua, trabalham informalmente sem nenhum direito trabalhista, tem acesso muito precário aos serviços de saúde e educação e geralmente o único serviço público efetivo para os não concernidos é a repressão policial. E o pior, eles não fazem a menor ideia do que fazer para mudar essa realidade, muitos já não acreditam no poder do voto por já terem sido enganados várias vezes”, afirma Lehninger.
A solução para esse problema não é fácil e nunca virá como forma de mágica por mais que em períodos eleitorais isso seja alardeado. Mas também não é impossível de ser resolvido ou substancialmente melhorado. “A primeira dificuldade é emancipar uma nação com educação, precisamos entender que o teto do orçamento da União deve ser para pagamentos de juros para os ricaços que vivem de especulação sem gerar emprego e renda e não para limitar gastos com educação, saúde, assistencialismo, ciência e tecnologia e etc”, explica o sociólogo.
“Meu apelo é que o poder público olhe por essas pessoas que moram na rua para que eles tenham pelo menos um lugar para dormir a noite. Hoje graças à Deus trabalho registrado e estou bem”, pontua Fabiano.
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