No mundo non me sei pareiha,
Mentre me for como me vai,
Ca já moiro por vós – e ai!
Mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraia
Quando vos eu vi em saia!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, dês aquel di’, ai!
Me foi a mim mui mal,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
D’haver eu por vós guarvaia,
Pois, eu, mia senhor, d’alfaia
Nunca de vós houve nen hei
Valia d’ua Correa.
Esse é um trecho de uma das principais e mais conhecidas cantigas do Trovadorismo, a chamada “Cantiga da Ribeirinha” ou “Cantiga da Guarvaia”, do trovador Paio Soares de Taveirós. Ela é considerada a mais antiga composição poética documentada em língua portuguesa, a data de sua redação foi provavelmente 1189 ou 1198.
No dia 18 de julho, em todo o território nacional, comemora-se o Dia do Trovador. A data foi escolhida para homenagear a data de nascimento de Luiz Otávio, pseudônimo de Gilson de Castro, fundador e presidente perpétuo da União Brasileira de Trovadores.
O conceito de Trovador está associado ao verbo trovar, cuja ação consiste em criar e interpretar versos e diversas composições de tipo poético. Em geral, eram artistas de origem nobre, que escreviam e cantavam as cantigas (poesias cantadas) com o acompanhamento de instrumentos musicais.
Origem
O Trovadorismo teve suas primeiras manifestações artísticas por volta do século XI e XII, em um período da Idade Média, onde, teve o seu início em Provença, no Sul da França.
Marly de Souza, professora de língua portuguesa e literatura e, mestra em literatura e crítica literária ressalta que "quando nós falamos sobre Trovadorismo, precisamos pensar em um contexto histórico. Especificamente, temos que buscar o sistema feudal pela sua importância na formação do Trovadorismo."
"Outra característica que também é importante no Trovadorismo, é o Teocentrismo (Deus como centro do universo). O Trovadorismo foi extremamente voltado para o Cristianismo, era voltado especificamente para esse domínio que a Igreja Católica tinha naquela época, e, consequentemente, isso era visto também, dentro dos processos literários", complementa.
Características
No Trovadorismo, grande parte dos textos eram produzidos para serem cantados e acompanhados de instrumentos musicais como a viola, flauta e alaúde. Isso porque, na Idade Média, a maior parte pessoas não sabiam ler e escrever. Desta forma, uma das principais características desse movimento é fazer uma relação especifica entre poesia e música.
Quanto aos gêneros, que nós temos dentro da literatura trovadora, temos a divisão dos gêneros lírico (cantigas de amor e cantigas de amigo) e satírico (cantigas de escárnio e cantigas de maldizer).
"Como características desse movimento temos a veneração ao seu amado, a retratação da amizade, a crítica ao contexto político e/ou contexto social, que está presente nos dias de hoje. Outra característica também do movimento é retratar como era a vida aristocrática feudal daquela época. Além disso, a linguagem usada para a produção desses poemas é chamada de "português arcaico" ou "galego português", explica Souza.
Principais autores do Trovadorismo
São inúmeros os autores do Trovadorismo cujas obras foram resgatadas por pesquisadores em todo o mundo. Alguns nomes mais conhecidos são Dom Dinis, Arnaut Daniel, Bernart de Ventadorn, Dom Afonso X, Fernão Rodrigues de Calheiros, Guilhem de Peitieu, João Garcia de Guilhade, Martim Codax, dentre outros.
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