A corrupção brinca no parque Mutirama
Redacão
Publicado em 4 de julho de 2016 às 15:08 | Atualizado há 4 mesesDois anos antes do ex-prefeito Iris Rezende propor reforma radical no parque Mutirama, o então vereador Gari Negro Jobs, falecido em 2011, apareceu com um projeto embaixo do braço: nele, um novo Mutirama teria um túnel ao lado, teleférico e mirante.
Por onde andava com o projeto, Jobs era motivo de piada. Ninguém dava ouvidos ao vereador. Quando o então prefeito Iris Rezende propôs o lançamento das reformas, Jobs ficou surpreso. O sonho dele seria colocado em prática.
Menino de rua quando ocorreu a inauguração do parque em 1969, com Iris prefeito na época, o vereador afirmava que “a ideia dele” seria barata e fácil de fazer. Jobs fez até as projeções de custo da reforma, que ficaria entre R$ 5 e R$ 15 milhões.
VÍDEO mostra projeto de Jobs apresentado antes da Prefeitura
Anos depois de sua morte, o parque Mutirama se prepara para dar mais um passo: a partir de amanhã, o teleférico passa a funcionar, tendo o prefeito Paulo Garcia a função de inaugurá-lo sob olhares curiosos e incrédulos.
De imediato, o que mais espanta é o esquecimento das iniciativas do vereador em conceber a ideia. E pior ainda: as suspeitas de corrupção que se iniciaram dentro do parque.
Na verdade, a suspeita de corrupção brinca dentro do Mutirama, com suspeitas de superfaturamento, falta de qualidade dos equipamentos e insegurança.
Até agora pouco se sabe, de fato, sobre o quanto foi gasto com o parque. Orçadas em R$ 80 milhões, as obras foram paralisadas inúmeras vezes.
Conforme o vereador Elias Vaz, o mais grave de imediato era o valor da Montanha Russa. Na época, ele denunciou que a prefeitura pagou pelo modelo mini R$ 794 mil. Já o equipamento junto ao fabricante chinês custava R$ 44.800.
Por sua vez, a grande montanha-russa foi vendida pela Prefeitura por R$ 2,6 milhões. O modelo comercializado para os goianienses tem 40 anos de uso. Já uma bem mais recente, de 2004, poderia ser comprada por 175 mil dólares – cerca de R$ 600 mil.
Inicialmente, a gestão do Mutirama passou pelas mãos de administradores indiciados pelo partido socialista PC do B. Depois, o próprio PT passou a ser o gestor do parque através de indicados de políticos da legenda.
Uma ação proposta pelo Ministério Público em agosto de 2014 processou o prefeito Paulo Garcia, Jairo Gomes das Neves (diretor do parque), JF Produtos Serviços Equipamentos, Wanderlei Pires, Life Produtos e equipamentos de limpeza, Francisco Divino da Cruz e a Prefeitura de Goiânia por improbidade administrativa.
Uma das técnicas utilizadas pelos suspeitos seria a manjada dispensa de licitação. Jairo Gomes, então diretor do Mutirama, teria sido orientado pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) e ainda sim ignorado a recomendação.
De acordo com o vereador Djalma Araújo, o Mutirama é “uma das várias irregularidades da gestão atual”. “E o que é pior: coloca em risco crianças. Afinal, quando você paga preço de novo em produto velho você espera o que? Risco”, diz.
Após várias polêmicas, o parque terá o teleférico. Cada uma das cabines transportará oito pessoas por viagem. Conforme a Prefeitura, a estrutura das cabines e todo o sistema montado custou cerca de R$ 5,5 milhões.
Sebastião Peixoto, responsável pelas obras, este será o teleférico mais em conta do mundo. Ele disse que pegou a administração do Mutirama na época em que a Prefeitura gastava R$ 400 mil na manutenção do parque. “Nos últimos tempos, destinava apenas R$ 70 mil”, diz.
As obras e inaugurações foram adiadas varias vezes. Paralisadas em 2012, as obras voltaram com força total em 2014. Mas a inauguração que deveria ter ocorrido no aniversário da capital ainda não ocorreu.
Na época, a gestão teve uma ideia maluca: inaugurar a obra. Mas entregá-la apenas um mês depois para efetivo funcionamento. Como a ideia não vingou, os gvestores decidiram adiar a novidade.
Não é só Jairo Gomes que está na lista negra do Ministério Público. O ex-secretário de Esporte e Lazer, Luiz Carlos Orro, que cuidou das primeiras reformas, também foi acionado na Justiça.
[highlight] Empresa de equipamentos médicos foi contratada para fazer reparos em brinquedos [/highlight]
As suspeitas de ‘mutretas’ no parque são muitas. Há quatro anos, a Prefeitura de Goiânia fez um contrato emergencial, sem realizar licitação, com a empresa Ita Entretenimentos para prestar serviços de manutenção de brinquedos no Parque Mutirama. No entanto, o Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás (TCM-GO) julgou ilegal a contratação.
Teleférico será a novidade das férias, mas histórico do parque é de inúmeras suspeitas de irregularidades
No ano seguinte, Jairo Gomes das Neves assumiu a gestão do parque e os procedimentos licitatórios em curso não foram efetivados sob a justificativa de que os valores eram absurdos e que a gestão desse tipo de serviço feita diretamente pela Prefeitura era mais vantajosa que a terceirização. Porém, contradizendo sua decisão anterior, Jairo fez um contrato emergencial com dispensa de licitação com a empresa JF Produtos, Serviços e Equipamentos de Limpeza e Hospitalares, no valor de R$ 1.380 milhão com a autorização do prefeito Paulo Garcia. O leitor leu bem: uma empresa especializada em equipamento hospitalar realizaria os reparos necessários para que os brinquedos não colocassem em risco as crianças.
ELETROMECÂNICA
A sociedade comercial contratada deveria prestar serviços de manutenção preventiva e corretiva dos brinquedos, fornecer materiais, peças de reposição, além de aspectos mecânicos, elétricos, eletromecânicos, serralheria, marcenaria e soldagem. Mas a Controladoria Geral do Município (CGM) questionou a cotação de empresas que não eram do ramo, a ausência de pesquisa de preço e a justifica para a escolha da empresa JF.
De acordo com o Ministério Público, com o intuito de justificar o porquê da contratação da empresa JF, uma cotação de preço foi realizada pela Life Produtos e Equipamentos de Limpeza e Hospitalares, entretanto, a formatação do documento era idêntica à da JF e as empresas tinham sede no mesmo endereço. Além do ex-sócio da JF, Francisco Divino da Cruz, ser o sócio majoritário da empresa Life.
O Ministério Público entrou com Ação Civil Pública por ato de improbidade administrativa com pedido de medida cautelar incidental contra o prefeito Paulo Garcia, Jairo Gomes das Neves, a empresa JF, a empresa Life, Francisco Divino da Cruz e Wanderlei Tomas Pires (sócio da empresa JF).
Por outras supostas irregularidades, o ex-secretário de Esporte e Lazer, Luiz Carlos Orro, também foi acionado na Justiça. Consultados pela reportagem do Diário da Manhã, os magistrados responsáveis pelo caso adiantam que é possível que nas próximas semanas o Poder Judiciário dê alguma resposta para a população.