Cotidiano

Abelhas são vítimas das queimadas em plena florada

Diário da Manhã

Publicado em 15 de agosto de 2018 às 03:56 | Atualizado há 7 anos

Os enxames de abelhas so­frem com as queimadas, comuns na estação das secas que ocorrem nos campos de Cerrados, e os desmatamentos desordenados, segundo informa­ções de José Araújo, que desde 1985 cuida desse segmento na Agência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agrícola (Emater-GO). A empre­sa não sabe precisar números por­que os focos de incêndios nunca são rastreados e o IBGE que cuida dos levantamentos estatísticos tem apenas dados gerais. Mas, segundo a Fundação Mauro Borges, a apicul­tura goiana produziu 432,71 tonela­das em 2016. A produção ocupa 116 municípios em Goiás, sobressaindo Pontalina, Orizona, Porangatu, Sil­vânia, Jaraguá e Goiandira.

Mas a Emater capacita seus téc­nicos para esses cuidados. Esse pes­soal é disponibilizado em seus escri­tórios locais no interior do Estado.

José Araújo, da Supervisão de Organização Rural, diz ao Diário da Manhã que 60 técnicos foram capacitados e com eles disponibi­lizados cem kits de EPIs, compos­tos de macacão com máscara, lu­vas, botas e fumegadores, para um tipo de operação destinada a pro­teger as abelhas e os operadores. Os produtores em geral são orien­tados também para o uso sensato dos defensivos na lavoura. Nessa prática, os agricultores são alerta­dos para a importância da apicul­tura para a polinização das plantas. E os animais vivem em risco e por consequência toda a humanidade.

APICULTORES SE ORGANIZAM

Como decorrência do trabalho da extensão rural, uma cooperati­va de apicultores foi criada no Es­tado. “Os produtores estão melhor orientados e organizados em de­corrência de nosso trabalho”, ob­serva Araujo, muito dedicado à preservação das colméias. No Es­tado, a Emater apóia a apicultu­ra, levando assistência técnica e apoiando os apicultores na organi­zação, como na transformação de associações em cooperativas. Os resultados são animadores, segun­do Araújo, dando o exemplo de processamento do mel, com insta­lação da casa de extração do mel, com equipamentos e entrepostos dos produtos das abelhas, aten­dendo aos padrões de qualidade.

Na sua Estação Experimental de Anápolis são realizados ex­perimentos com apicultura. No Estado, a Emater trabalha em vários pólos produtivos, envol­vendo as regiões Norte, Entor­no do DF e Nordeste Goiano; Rio dos Bois; Estrada de Ferro; Serra Dourada; Sudoeste, “com resul­tados excelentes”, observa.

Já são três entrepostos de mel e cera com gestão dos apiculto­res. Um em Porangatu com a Coo­permel, em Niquelândia com a Cooapis, em Orizona com a Coapro, e casas de extração de mel em diversos municípios, e posto em Itauçu com a Cooperatita.

São várias as associações de api­cultores, com destaque para a Api­goiás, entidade com maior número de associados, com sede em Goiâ­nia e que representa o setor apícola junto a Confederação Brasileira de Apicultura (CBA). Ainda com rela­ção a apicultura goiana, se encon­tra em criação a Federação da Api­cultura do Estado de Goiás.

A apicultura é uma atividade de baixo investimento, altamente ecológica, pois auxilia na poliniza­ção de todas as plantas da natureza, tanto as cultivadas como as nativas das florestas, apropriada a pequena produção – agricultores familiares, pequenos produtores, assentados e aos amantes da natureza.

As floradas nativas são vastas e produzem o famoso mel silvestre, “aquele da mais alta qualidade e sa­bor”, complementa Araújo.

COLMEIA VIVA

Em recente workshop para jor­nalistas do agro em São Paulo, o Colmeia Viva, movimento do se­tor de defensivos agrícolas sob a governança do Sindicato Nacional das Indústrias de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), disse que seu objetivo é incentivar o diá­logo entre agricultores e criado­res de abelhas, “para que juntos possam encontrar caminhos para uma relação mais estreita”. Essa proposta envolve a proteção racio­nal dos cultivos, o serviço de poli­nização realizado por abelhas, a proteção das abelhas e do meio ambiente e o respeito à apicultura.

Diante dos resultados de três anos do Colmeia Viva MAP (Ma­peamento de Abelhas Participati­vo) – iniciativa de pesquisa com a participação da Unesp e UFSCar para o levantamento de dados so­bre a mortalidade de abelhas. Si­tua-se, ainda, um mapeamento inédito dos fatores que contribuem para a perda de colméias e abelhas no Estado de São Paulo.

As prioridades de atuação do se­tor de defensivos agrícolas estão na implantação de um Plano Nacio­nal de Boas Práticas Agricultura­-Apicultura, via Plataforma Digital, que possibilite o diálogo, firmando parceria com pelo menos uma en­tidade representativa de agricultu­ra, apicultura e aplicação de defen­sivos nas áreas-foco estabelecidas no Compromisso 2020.

PLANO DE PREVENÇÃO

O Colmeia Viva Plano Nacional de Boas Práticas é um plano de pre­venção da mortalidade de abelhas e mitigação de incidentes, baseado na disseminação de boas práticas de uso de defensivos e na formali­zação do pasto apícola entre agri­cultores e apicultores. O plano tem como áreas-foco, até o final de 2018, os Estados de São Paulo, Rio Gran­de do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, e até o final de 2019, os estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia e Goiás.

Resultados da iniciativa de pes­quisa no Estado de São Paulo: Par­ticipação Unesp e UFSCar – Os re­sultados de três anos da iniciativa de pesquisa, com abrangência em 78 cidades do Estado de São Pau­lo no período de agosto/2014 a agosto/2017 permitem conclu­sões para um plano de ação na­cional voltado às boas práticas de aplicação de defensivos agrícolas para uma relação mais produti­va entre agricultura e apicultura.

VISITAS DE CAMPO

Foram 222 atendimentos volta­dos aos agricultores e criadores de abelhas, sendo 107 visitas ao cam­po, onde foram analisadas as práti­cas agrícolas (cultivos do entorno, taxa de dependência de poliniza­ção, estágio da cultura, histórico e modalidade da aplicação de defen­sivos agrícolas, autorização e condi­ções de uso para defensivos agríco­las) e práticas apícolas (alimentação suplementar, troca anual de rainha, quantidade de caixas por apiário, freqüência de visitação, localização do apiário e pasto apícola).

Das 107 visitas realizadas, 88 possibilitaram coleta de abelha, com uma análise mais focada na relação da agricultura e apicultura e a aplicação de defensivos agríco­las. Deste total de coleta, 29 casos resultaram negativo para resíduos de produtos químicos e 59 casos positivo para resíduos de produtos químicos. Foram atendimentos de mortalidade de abelhas.

Não foram observados sinais da Síndrome do Desaparecimento das Abelhas (CCD) como os sintomas característicos de colmeia desor­ganizada, com sujeira e comple­tamente abandonada ou declínio da população de abelhas com de­saparecimento repentino das ope­rárias e enfraquecimento das co­lônias sem a presença de abelhas mortas. Fenômeno registrado prin­cipalmente no hemisfério norte, so­mente com abelhas Apis mellifera.

CONTROLE DE PRAGAS

Dos 59 casos positivos para re­síduos químicos, 27 atendimen­tos dos registros de mortalidade de abelhas indicaram uso dos produ­tos sem relação direta com o con­trole de pragas indicado para as la­vouras, com suspeita de uso não agrícola, como por exemplo: cria­ção de gado, abelhas visitando a área de alimentação de bovinos (em busca de água ou alimento), controle de carrapatos em região de criação de cavalos ou mesmo controle de formigas e cupins pelo apicultor, através da aplicação de produtos químicos – tanto nas cai­xas como no entorno do apiário.

Já em 21 atendimentos, houve uma relação direta de aplicação incorreta de defensivos nas lavou­ras. Entre as práticas de uso incor­reto de defensivos agrícolas que estão entre as causas que podem provocar a perda de abelhas des­tacam-se dosagens acima das re­comendações indicadas em rótulo e bula; falta do cumprimento das exigências legais para a aplicação de defensivos agrícolas com vistas à proteção ao cultivo nas modali­dades aprovadas (aérea ou terres­tre); falta de formalização do pas­to apícola; emprego incorreto da modalidade de aplicação sem a autorização ou registro de produ­tos para cultura agrícola.

GOIÁS NO ROTEIRO

Mesmo sem divulgação da ini­ciativa de pesquisa em outros es­tados, desde a fase piloto houve contatos de perdas de colmeias nos estados de Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná, Mato Gros­so do Sul, Mato Grosso, Rio de Ja­neiro e Goiás, considerados como indicativo para definição de áreas foco de atenção no desenvolvi­mento do Plano Nacional.

A sustentabilidade é uma das prioridades do agro em Mato Gros­so do Sul. Por isso, a produção, a pre­servação e o uso racional da água são questões que fazem parte do dia a dia dos produtores, sendo áreas trabalhadas pelo Sistema Famasul – Federação da Agricultura e Pecuá­ria de MS e pelo Senar/MS – Servi­ço Nacional de Aprendizagem Ru­ral, desde a área educacional até a orientação a agricultores e criado­res, com os programas de Assistên­cia Técnica e Gerencial (ATeG). O Senar-Goiás, vinculado à Faeg, deve entrar também no processo.

O assunto foi escolhido como tema central do Prêmio Sistema Fa­masul de Jornalismo 2018: ‘O Agro como produtor de Água – iniciati­vas sustentáveis em MS que pre­servam recursos hídricos’. As ins­crições vão até o dia 1º de outubro de 2018. Para o presidente do Siste­ma Famasul, Maurício Saito, o per­fil empreendedor do produtor rural permite o desenvolvimento susten­tável do setor produtivo.

“O agro tem uma preocupação grande com a produção e com o uso racional da água. Temos no Estado vários exemplos de iniciativas mui­to bem-sucedidas com o uso de no­vos sistemas produtivos, adoção de boas práticas e utilização de novas tecnologias”, avalia Saito. Entre as ferramentas produtivas, citadas por Saito, está o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).

“Com essa ferramenta possibi­litamos que as três atividades – o cultivo de grãos, a silvicultura e a pecuária – ao longo do tempo, se­jam utilizadas da melhor forma, e ainda assegurem a preservação do solo e a produção da água”, comen­ta o presidente. A analista técnica do Senar/MS, Ana Beatriz Paiva, destaca que até mesmo águas re­siduais de atividades do agro es­tão sendo reaproveitadas para ma­ximizar o uso do precioso recurso.

“Na lavagem de pátios e salas de ordenha, muitos nutrientes es­tão ali. Então com a captação e depois o tratamento da água uti­lizada nesse processo, temos um efluente nutricional riquíssimo, que pode ser utilizado na fertirri­gação de lavouras, fazendo com que, o que antes seria desperdi­çado, ganhe um novo propósito”.

DIÁLOGO ABERTO

O objetivo é possibilitar o diá­logo entre agricultores, apiculto­res e aplicadores de defensivos agrícolas Plano Nacional na prá­tica–A implantação do Colméia Viva Plano Nacional de Boas Prá­ticas conta com o apoio de algu­mas iniciativas, tais como Colmeia Viva Assistência Técnica: uma li­nha direta que esclarece dúvidas e compartilha as boas práticas para a prevenção e mitigação da mor­talidade de abelhas. Atende agri­cultores, criadores de abelhas, aplicadores de defensivos agrí­colas, distribuidores, revendedo­res e equipes de vendas das em­presas signatárias do Movimento Colmeia Viva. 0800 771 8000. O Colmeia Viva Boas Práticas: Li­nha de treinamentos em campo e à distância sobre boas práticas para uma relação mais produtiva entre a Agricultura e a Apicultura.

Os treinamentos são exclusivos para agricultores e criadores de abelhas, que podem ser realizados preventivamente ou na mitigação após constatação de incidentes com abelhas. Uma das ações des­ta iniciativa é o Manual de Boas Práticas Agricultura-Apicultura com mais de 70 práticas e dicas. Baixe seu exemplar no site www. colmeiaviva.com.br. Colmeia Viva App: Ambiente digital para facili­tar o diálogo entre agricultores e criadores de abelhas. Agriculto­res podem identificar as áreas de sobreposição de atividades agríco­las e apícolas e avisar quando vão ocorrer as pulverizações.

Criadores de abelhas podem re­ceber os comunicados de aplica­ções e saber quais medidas de pro­teção devem tomar e o Colmeia Viva EAD: Plataforma digital de en­sino à distância que centraliza todo o conteúdo sobre a interação Defen­sivos-Agricultura-Apicultura-Abe­lhas, permitindo mais abrangência, mobilidade e agilidade na chegada da informação ao campo.

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